Ziraldo veio a Taboão em entrega de kit de leitura; ‘minhas crianças ganharam conhecimento’, diz mãe

Ziraldo morreu neste sábado aos 91 anos; em 2010, o cartunista, criador do 'Menino Maluquinho', distribuiu coleção de livros; 'pessoa admirável', relembra moradora

Especial para o VERBO ONLINE

Eva com os filhos Marcos e Sarah, que recebe o kit de leitura das mãos de Ziraldo; 'eles hoje conseguem defender opiniões, respeitando o outro', diz | Adilson Oliveira/Verbo - 26.set.2010

O cartunista e escritor Ziraldo, criador do icônico “Menino Maluquinho”, que morreu neste sábado (6) aos 91 anos, esteve em Taboão da Serra em uma ação de incentivo à leitura realizada pela prefeitura há quase 14 anos. Em 26 de setembro de 2010, um domingo chuvoso, ele, aos 77 anos, participou na periferia da cidade, na antiga praça Luiz Gonzaga (Pirajuçara), da entrega de uma caixa de livros para os alunos do ensino infantil Jardim 1 e 2 e do ensino fundamental de 1ª à 5ª série.

Em uma parceria com a Editora Melhoramentos, a prefeitura distribuiu no total cerca de 30 mil kits de leitura. Acompanhado pela mãe ou pai, um aluno representou cada escola no recebimento simbólico dos livros, com a entrega feita por Ziraldo. Este repórter, pelo jornal “Atos” (do grupo do VERBO), acompanhou o evento e fotografou o ilustre visitante entregar o kit “Ziraldo e seus amigos”, entre outras crianças, aos alunos Sarah e Marcos, filhos da moradora Eva Elisandra Silva.

Este portal voltou a falar com moradora neste sábado. Ela viu a foto com os filhos, então com 6 anos, a menina, e 4 anos, ao lado do escritor durante a entrega do kit de leitura – Sarah recebeu a maleta das mãos do “pai” do “Menino Maluquinho”. “Nossa faz tempo”, disse a terapeuta ocupacional Eva. Ela confirmou que o evento foi há quase 14 anos. “É isso mesmo. Minhas crianças hoje vão fazer 20 e 18 anos”, comentou, agradecida pelo encontro com o mestre das imagens.

“Lembro que fiquei muito entusiasmada por ser fã dele, e pude dizer isso a ele. Foi muito rápido, mas ele foi muito cordial com todos, muito paciente e com o sorriso de sempre no rosto!”, disse Eva. A moradora o admirava pelo legado literário. “Por conta dos livros dele. O ‘Menino Maluquinho’, com certeza, é o favorito de muitos”, contou, sobre o autor também do “Pererê”, inspirado no folclore nacional – a primeira revista brasileira em quadrinhos, lançada na década de 1960.

“E me recordo também do posicionamento dele sobre educação, política!”, enalteceu Eva. Ziraldo foi um dos fundadores do “Pasquim”, durante a ditadura militar. O célebre semanário combatia e driblava a censura com bom humor, ironia e inteligência. Por conta das publicações e por proteger colegas perseguidos, foi preso pelos militares, um dia depois da decretação do AI-5, em 1968. Enfrentou a prisão mais duas vezes. Ele falava que “o livro é o alimento da alma”.

Os dois filhos da moradora de Taboão cresceram alimentados pelos livros de Ziraldo – com mensagens como respeito ao semelhante, pluralidade cultural, direitos humanos, preservação da natureza – e se tornaram bons cidadãos. “Inicialmente, eu lia para eles. Depois, eles leram por si só. Foi uma oportunidade de ganhar conhecimento, olhar o mundo com um pouco de crítica. Eles hoje são pessoas que conseguem defender suas opiniões, respeitando o outro”, disse Eva.

A ação de incentivo à leitura ocorreu no governo Evilásio Farias (PSB). Antes da entrega dos livros, Ziraldo deu entrevista exclusiva a este repórter. “Que voz de trovão é essa?”, brincou, em demonstração de generosidade. “Uma pessoa admirável”, atestou Eva. Em 18 de fevereiro de 2011, Ziraldo ia deixar o Rio de Janeiro para entregar o kit literário em Embu das Artes, no aniversário da cidade, mas, de última hora, não pôde comparecer. Ele teria tido problema de saúde.

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