‘Diocese fará opção pelos pobres e será solidária nas lutas do povo mais sofrido’

Especial para o VERBO ONLINE

Dom Valdir abençoa fiéis logo após ser ordenado e tomar posse como bispo da Diocese de Campo Limpo (Igreja Católica na região), no último dia 26 | Erica Viana/DCL

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em São Paulo

O novo bispo da Diocese de Campo Limpo (Igreja Católica na região), dom Valdir José de Castro, diz que é adepto da opção preferencial pelos pobres – marca da Igreja Católica na América Latina, cunhada a partir do Concílio Vaticano 2º (assembleia de bispos que modernizou a Igreja), nos anos 1960, e que voltou a ter eco no pontificado de Francisco, sensível às questões sociais. “A opção preferencial pelos pobres é uma opção da Igreja”, afirma dom Valdir, 61.

“Como parte da conferência episcopal, no caminho da Igreja no Brasil, é claro que a opção preferencial pelos pobres vai estar dentro do trabalho pastoral [da Diocese de Campo Limpo], a gente não pode caminhar sem essa opção”, garante. Dom Valdir fez as afirmações após ser ordenado e tomar posse como bispo local, no último dia 26 de novembro, durante entrevista coletiva – da qual o VERBO, que perguntou sobre a questão social, participou. Confira:

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Pergunta – Qual é o sentimento do senhor, que agora não é mais bispo nomeado, mas bispo de fato, que recebeu o sacramento da ordem no terceiro grau e é sucessor dos apóstolos?
Dom Valdir José de Castro
– Claro, entre a nomeação e assumir é diferente, mas quando fui eleito ou nomeado pelo papa ali comecei já uma preparação espiritual, também psicológica, no sentido de que estava mudando um estilo de vida, eu sou um religioso paulino, tinha um apostolado ligado à comunicação, específico – foi um período de dois meses e meio que tive para me preparar. Agora que aconteceu a ordenação, eu vejo o compromisso ainda maior, agora que a gente começa, de fato, a atuar, a agir dentro da diocese, acompanhando todas as suas dimensões. Ainda, evidente, não conheço a diocese totalmente. Já dei uma volta pela diocese, já me reuni com o clero, já conheço alguns aspectos da diocese. Mas agora com a ordenação tem o apelo de me interessar cada vez mais por esta Igreja particular, e de caminhar junto. O meu sentimento é positivo, de esperança, de fazer uma caminhada de igreja em que acredito, que disse lá hoje no discurso final [na missa de ordenação e posse], um caminho sinodal, de caminhar juntos. Na própria congregação nossa, dos paulinos, a gente estava fazendo também esse caminho, dentro do que a Igreja universal [em todo o mundo] está fazendo. Então, a Igreja de Campo Limpo vai dar continuidade a esse caminho, e eu vejo como a forma mais evangélica de viver como Igreja.

Pergunta – Qual o senhor acha que seja o maior desafio na Diocese de Campo Limpo, que é ampla, com muitas paróquias, muitas comunidades?
Dom Valdir
– A diocese terminou um plano de evangelização faz dois anos. Um dos desafios que temos pela frente é preparar o sétimo plano de evangelização, isso coincide com o início do meu serviço nesta diocese. Uma das prioridades é ver com a diocese, com os padres, com os leigos, com as diversas pastorais como a gente vai fazer o caminho para elaborar o plano de pastoral, que é aquele que orienta toda a diocese. Evidente, no que se trata do trabalho, eu tenho muita preocupação, e também desejo, de trabalhar muito com o clero nas paróquias, no diálogo com aqueles que estão nas paróquias, que são os responsáveis. O padre é aquele que é a ponte dentro da comunidade, é um pontífice, entre aspas, aquele que cria pontes, que favorece a comunicação, abre espaço à participação dos leigos, que anima. Eu tenho o desejo de fazer um trabalho muito próximo do clero. Evidente, também com os leigos e as diversas pastorais. Eu sou muito ligado à Pastoral da Comunicação, porque o meu carisma é a comunicação – como trabalho específico, era nessa área. A comunicação vai ser um dos aspectos que eu vou motivar e dar força na diocese, se bem que para mim a comunicação é fundamental em todas as pastorais, deveria perpassar todas as pastorais, não deveria ser um setor à parte. Porque, às vezes, a gente fala “tem pastoral disso, pastoral daquilo, e tem a Pastoral da Comunicação”. Não. A Pastoral da Comunicação é um setor, claro, [mas] deve trabalhar interagindo com todas as pastorais para que a comunicação possa fluir. Sem comunicação é muito difícil de a Igreja caminhar, as comunidades caminharem, e também é muito difícil a sinodalidade [a ideia de caminhar junto]. A comunicação com o Espírito Santo, a comunicação entre nós são fundamentais para que a gente possa caminhar como Igreja. Essa é a prioridade. Inclusive, quando me encontrei com o clero das quatro regiões episcopais, foi justamente para ter essa aproximação, conhecer a realidade, porque é fundamental o papel dos presbíteros nas comunidades. A própria formação é importante, a formação do leigo, do clero, dos seminaristas. São muitas frentes que se complementam, e são preocupação neste início de trabalho na diocese.

VERBO – A diocese do senhor é marcada por grandes desigualdades sociais, inclusive em uma mesma região, com o Morumbi e a favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo [na realidade, segundo a prefeitura, passou a ser a maior]. Como o senhor vai lidar com a questão social? Vai ter o mesmo peso, a mesma importância que a questão litúrgica-sacramental, por exemplo? O senhor é adepto da opção preferencial pelos pobres?
Dom Valdir
– A opção preferencial pelos pobres é uma opção da Igreja. É uma opção da Igreja na América Latina, é uma opção na Igreja no Brasil. Como parte da conferência episcopal, no caminho da Igreja no Brasil, é claro que a opção preferencial pelos pobres vai estar dentro do trabalho pastoral, a gente não pode caminhar sem essa opção. Evidente que todos os batizados, todos os que se sentem e desejam fazer parte da Igreja, a gente tem que acolher, [mas] dando uma preferência especial aos pobres, aqueles que não têm voz nem vez. Eu já passei por Paraisópolis, também já estive no Jardim Ângela. Em dois meses é impossível a gente conhecer a fundo, mas quero conhecer, sim, seja com os vigários episcopais, os responsáveis pelas foranias. Eu quero participar dos encontros [locais] para conhecer, sempre mais, a realidade. Eu já disse também, nos encontros, que eu não quero ser um bispo de gabinete. Tem momentos que tem que fazer encontros, mas não pode encher a agenda só de reunião, reunião, reunião, e esquecer que tem que visitar e ver a realidade como está, entrar na casa do pobre, entrar na casa das pessoas necessitadas – como o próprio papa Francisco fala, entrar nas periferias existenciais, em todos os sentidos. Vai ser uma prioridade. Hoje, vocês viram no juramento, nas promessoas que fiz [na ordenação e posse], tem uma pergunta que fala justamente dos pobres. Eu quero ver, evidente, o que a diocese já está fazendo. Não é que a diocese não está fazendo nada, mas como vamos trabalhar a opção preferencial pelos pobres, porque é a opção da Igreja. Eu estou com o magistério do papa Francisco. Assim como, antes de ser bispo, era com [o papa] Bento 16, com o papa João Paulo 2º, agora com o papa Francisco estou com as oções que a Igreja continua a fazer, estou nessa linha. Mas eu ainda preciso de um tempo para conhecer melhor e também, com os padres e também com os líderes leigos, ver o que a gente vai fazer para dar uma ênfase maior, sempre a serviço daquelas pessoas que mais precisam.

VERBO – A diocese, sob o bispado do senhor, será solidária com as lutas dos mais pobres…?
Dom Valdir
– Vai ser solidária, sim. Vai ser. Agora, como vamos fazer, temos que decidir juntos, como Igreja. O bispo sozinho não faz nada. Ele tem que animar, trabalhar com os leigos, com o clero. Igreja é todo mundo, é tudo junto. O plano de pastoral, de evangelização que vamos começar a pensar, vão entrar esses assuntos, por onde a Igreja de Campo Limpo deseja ir, qual a perspectiva. [Mas] Um caminho já tem sido feito aqui. Quando eu decidi dizer “sim”, falando com o núncio [apostólico, bispo-embaixador do papa, que comunica a nomeação ao escolhido], ele também falava que a Igreja de Campo Limpo já tem um caminho feito. Não estou chegando aqui para inventar a roda. Agora, vamos ver o que podemos fazer mais nas diversas dimensões. Mas vou ter que conhecer agora as diversas pastorais, inclusive as ligadas ao social. Eu estive já visitando a Cáritas [Diocesana, braço social da Igreja Católica], vi o trabalho que se faz. É todo um caminho que tem que fazer, temos que ter tempo agora para conhecer. Que a diocese tenha um pouco de paciência e me ajude a olhar as diversas realidades para que a gente vá respondendo. Mas o critério vai ser o evangelho – [meu lema é] “Faço tudo pela evangelho”, como São Paulo. O critério vai ser o evangelho na nossa vivência, convivência, na nossa ação pastoral. Agora, nunca a gente vai chegar também numa perfeita pastoral, sempre vamos estar construindo, reconstruindo, mas não perdendo a perspectiva do evangelho.

Pergunta – A última mensagem do senhor.
Dom Valdir
– A minha mensagem é de esperança. Venho com muita esperança. Esperança não é fechar os olhos para a realidade de dor, sofrimento, marginalização. É, justamente considerando essa realidade, a gente ver que pela fé e pelo amor pode dar passos à frente, pode melhorar – o que a Diocese de Campo Limpo, como Igreja, pode fazer para melhorar as condições do nosso povo, começando pela questão mais básica, a comida, a educação. É manter a esperança. Sem esperança a gente não caminha, um povo sem esperança é um povo morto, uma pessoa sem esperança não vai para frente. É com essa perspectiva que olho, mas sobre uma realidade que necessito ainda conhecer. Vamos caminhar juntos, no diálogo, vendo as necessidades da diocese, e depois juntos, com o tempo, vamos tomando as decisões necessárias para que a gente possa, de fato, construir o reino [de Deus] e dar os passos nossos dentro dessa realidade específica, que é a diocese, muito complexa. Não é fácil – eu vi -, são realidades do campo e da cidade, riqueza, pobreza, violência, mas tem também situações bonitas, positivas, construtivas. Vejo muitas ações caritativas. Mas não basta só assistência, só a gente dar o peixe, mas o que está fazendo também para o nosso povo ter a vara para pescar, condições para ele, por meio próprio, conseguir um teor de vida com melhor qualidade. Teor de vida espiritual, teor de vida material – a gente não pode dissociar essas duas realidades.


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