Abidan é cassado após denunciar governo Ney por gasto milionário com shows de artistas famosos

Abidan era acusado de chamar governistas de 'ratos'; ele aponta perseguição política depois de revelar que o prefeito retirou quase R$ 2,5 milhões da saúde e segurança

Especial para o VERBO ONLINE

Abidan discursa enquanto LNs erguem faixa para vereador não aparecer na transmissão; cassado por denunciar gastos excessivos de Ney com shows, ele irá à Justiça | Reprodução

O vereador Abidan Henrique (PSB), único membro de oposição ao governo Ney Santos (Republicanos), teve o mandato cassado em sessão da Câmara de Embu das Artes na quarta-feira (28) sob alegação de quebra de decoro. Do total de 17 parlamentares, 14 vereadores – da base de apoio ao prefeito – votaram a favor. Houve um voto contrário, uma abstenção e uma ausência. O vereador Gideon Santos (Republicanos) votou contra a cassação do colega.

O presidente em exercício da Câmara, Gilson Oliveira (Republicanos), foi quem apresentou o pedido de cassação contra Abidan, em 11 de outubro do ano passado. Ele acusou o colega de quebra de decoro por ter chamado os vereadores de “ratos”. Após os governistas obstruírem a sessão anterior e deixarem o plenário ao mesmo tempo, em 4 de outubro, Abidan, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, falou: “Os vereadores foram, em bando, embora como ratos”.

No entanto, outros vereadores fizeram falas ou praticaram atos considerados como quebra de decoro, em sessões anteriores. Bobilel Castilho (PSC) disse “vou te dar um murro, seu sem-vergonha” a Renato Oliveira (MDB). Renato chamou uma médica de “puta” e foi acusado de injúria racial ao falar a um trabalhador de condomínio que “negro fede”. O próprio Gilson se referiu a Abidan como “filho do diabo”, ao alegar que tinha mentido, “e quem mente é filho do diabo”.

Contudo, apenas Renato sofreu processo de cassação, mas teve o caso arquivado. Abidan virou alvo após denunciar na Justiça que Ney destinou cerca de R$ 2,5 milhões da saúde e da segurança para contratação de shows dos artistas Wesley Safadão, Leonardo e Jorge e Mateus, no Embu Country Fest, em 2023, o que atazanou o prefeito. Abidan comparou os governistas a “ratos” após esvaziarem o plenário. Ele ia apresentar o decreto da manobra de realocação dos recursos.

A sessão durou quatro horas e foi tumultuada, com a presença de manifestantes. Lideranças políticas deram apoio a Abidan, mas a maioria era de cidadãos comuns, como pais de crianças com deficiência, ajudados pelo vereador. Já os favoráveis à cassação, em número muito maior, eram livre-nomeados do governo, como o ex-vereador Doda Pinheiro e o líder comunitário Rafa “do Casa Branca”, inclusive quatro secretários (Governo, Jurídico, Esporte e Mulheres).

Ainda no rito ordinário, os livre-nomeados gritaram para atrapalhar o discurso de Abidan e levantaram faixas previamente confeccionadas – de lona – para impedir que o orador visse o público e fosse mostrado pela câmera de transmissão da sessão. Gideon protestou. “Presidente, estão tapando a visão do vereador”, falou. Gilson censurou Gideon em vez de impedir a ação dos LNs. “Gostaria que se colocasse no seu lugar, na hora da sua fala, o senhor fala”, disse.

Abidan reagiu contra Ney. “Quando o senhor manda comissionado, que deveria estar na UBS, na escola, no Cras trabalhando, está desrespeitando a população. Isso é uma vergonha!”, disse. Gideon defendeu discutir a saúde precária, e não punir um colega. Com fala que incomodou o governo, ele não pôde concluir. Ricardo Almeida (Republicanos) afirmou que “houve desrespeito” de Abidan e buscou despistar a influência do prefeito para tentar cassar o colega.

A Câmara passou a discutir o processo contra Abidan. Gilson, por ser o denunciante, foi substituído pelo suplente Cesar Begalli – Betinho Souza (PSD) assumiu a presidência. Abidan, o denunciado, deu lugar a Cristiano Mendes (PDT). Após longa leitura do relatório da Comissão de Ética, da Comissão Mista – controladas por governistas – e da Procuradoria da Casa – com posicionamento considerado parcial -, a favor da cassação, Abidan usou os 30 minutos previstos para defesa.

Abidan respondeu a ataques de Ney. “O senhor disse que eu era sem futuro. Quando o senhor tinha 16 anos e roubava boné no São Marcos, eu já tinha ganhado bolsa de estudos. Quando tinha 19 e puxou a primeira cadeia, eu já tinha entrado na USP e tinha projeto para ajudar o jovem a entrar na faculdade. Quando o senhor tinha 23 e puxou a segunda cadeia, por assalto a carro forte com submetralhadora na mão, eu já era vereador e estava lutando por esse povo”, disparou.

Abidan justificou a fala de “ratos” ao citar o gasto milionário com cantores de fora de Embu. “O prefeito saqueou a Secretaria de Saúde retirando R$ 2,3 milhões e R$ 500 mil da Segurança para fazer o show do Safadão. E por conta disso que na sessão seguinte eu trouxe a minha indignação […], porque o dinheiro saiu dos cofres públicos e não foi para o povo, foi para o bolso do artista famoso. Entramos com processo, ganhamos a liminar, e isso irritou o prefeito”, disse.

Ele acusou que, após denunciar o gasto excessivo com show de Léo Santana, há cerca de dez dias, Ney mandou apressar a cassação. “Houve uma manobra. É curioso que depois da denúncia a Comissão Mista acelerou o processo e agora quer nos cassar”, afirmou. “Isso só está acontecendo porque eu denunciei o governo municipal. É triste ouvir vereadores chegarem ao meu ouvido dizendo ‘eu não gostaria de fazer isso, mas o prefeito está me pressionando'”, completou.

Depois, Gideon observou que “houve falas piores” que as de Abidan na Casa. Já Ricardo insistiu que “o nosso prefeito não tem nada a ver com isso”. Em seguida, os vereadores votaram, e 14 foram a favor da cassação. Abidan buscará reaver o mandato. “Estamos confiantes de que a Justiça de Embu das Artes irá reparar mais um ato ilegítimo contra a legalidade dos atos administrativos e o inalienável interesse público”, disse Marco Aurélio do Carmo, advogado de Abidan.

VEJA COMO VOTARAM OS VEREADORES DE EMBU DAS ARTES NA CASSAÇÃO DE ABIDAN

Imagem – Reprodução

comentários

>