Após denúncias e morte de idoso, abrigo contratado por Aprígio muda de prédio

Especial para o VERBO ONLINE

CPA no prédio onde estava homem de 64 que morreu após falta de assistência, e novo espaço aberto pela ONG contratada pelo governo Aprígio | Google/Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

O abrigo temporário de Taboão da Serra mudou de espaço, após o VERBO noticiar denúncias de que o antigo prédio era insalubre, com sujeira e “visita” de ratos, e funcionava como “depósito humano”. O CPA (Centro Provisório de Acolhimento), da ONG Sementes do Amanhã, contratada pela prefeitura, passou a atender em imóvel adequado, mas depois de um acolhido morrer por conta da demora da entidade e do governo Aprígio (Podemos) em assistir a vítima.

Uma jovem de 19 anos vítima de estupro foi desacolhida do CPA, no Parque Laguna, no início do mês, após denunciar negligências no abrigo, entre elas a de que o espaço não era limpo com frequência – “tinha até escorpião” – e “um senhor passou uma noite sem conseguir dormir de dor” devido a grave ferida no abdômen. O acolhido, Carlos Roberto Rocha, o Rochinha, de 64 anos, só foi internado após “quase um mês sofrendo” e morreu no último dia 14.

Procurado por este portal, o fundador da ONG, Diego Odakura, chegou a dizer que as denúncias eram “mentirosas”. Segundo apurou a reportagem, Rochinha estava no CPA havia mais de um ano, com a lesão no abdômen – portava bolsa de colostomia. Uma profissional do abrigo tinha feito vários pedidos para tirar o morador do local. Ele teria piorado após a funcionária deixar a ONG, no mês passado – a técnica “ficava em cima” sobre os cuidados ao idoso.

Uma denunciante que procurou este portal endossou e reforçou o relato da jovem que acusou negligência no CPA e responsabilizou não apenas a ONG, mas também o governo municipal pela morte de Rochinha. “Ela denunciou na rua para todo mundo ouvir que ele passou dois dias gritando de dor. Mas a coordenadora do CPA nada fez. Não era para ele estar no abrigo, a Secretaria de Assistência Social foi negligente. [É] tanta injustiça”, lamentou a moradora.

Após este veículo publicar as denúncias, no mesmo dia, 11 de julho, o presidente da ONG, Edvânio Araújo, convocou uma reunião às pressas para tratar do assunto para o dia seguinte, na sede, no Jardim Mirna. A jovem foi desacolhida do CPA – após relatar negligência – pela chefe da Coordenadoria dos Direitos da Mulher, Gisele Almeida. No dia 12, após a reportagem, Gisele, ex-funcionária da ONG, foi ao CPA, furiosa. “Ela foi lá cuspindo fogo”, contou uma fonte.

Edvânio marcou a conversa com os funcionários pela manhã, mas mudou para a tarde. A reunião acabou não ocorrendo. Ele cancelou, para finalmente Rochinha ser levado para ser internado, no dia 12. Já era tarde demais – dois dias depois, ele morreu no Pronto-Socorro Antena. “Se tivesse sido cuidado, ele poderia ter durado mais. Infelizmente, não pude fazer nada por ele”, disse a jovem ao VERBO, embora tenha cobrado assistência ao idoso.

Após a perda de Rochinha, muito conhecido na cidade, a Sementes do Amanhã pôs o CPA em outro prédio, na mesma região. Indagados sobre as novas instalações, Diego e Edvânio não responderam. Na quarta-feira (20), a ONG – que recebe da prefeitura R$ 3 mil por acolhido – serviu pizza no jantar. “O CPA mudou de espaço depois de suas matérias, então o resultado foi positivo. Foi para um lugar mais digno. Fizeram até uma média”, disse a denunciante.

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