Mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ crescem 45% no Estado de SP; dossiê lista caso em Embu

Especial para o VERBO ONLINE

Gabriel, de 22 anos, que foi assassinado a tiros em uma barbearia em Embu, caso que figura no 'Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil' | Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

No ano passado, 316 pessoas gays, travestis, transexuais, lésbicas, bissexuais e intersexo foram mortas de forma violenta no país, 33% a mais em comparação com 2020, quando ocorreram 237 óbitos. É o que revela o “Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil”, que lista entre os casos um ocorrido na região, em Embu das Artes. No Estado de São Paulo, o aumento foi ainda maior. Hoje, 17 de maio, é o Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia.

Os gays (homens) foram os principais alvos da LGBTIfobia no Brasil em 2021, com 46% das mortes (145 casos). O segundo grupo mais vitimado foi o de travestis e mulheres trans, correspondente a 45% do total (141). As outras vítimas representaram 9%, dos quais 3% de lésbicas (12 vítimas). A grande maioria das mortes violentas foram homicídios, 282 registros (83%). As outras ocorrências foram latrocínio, 23 (7%). Foram registrados 26 suicídios (8%).

Como conclusão, com quase uma vítima por dia, uma pessoa LGBTQIA+ morreu no Brasil a cada 27 horas no ano passado. Quanto à faixa etária, as principais vítimas foram jovens entre 20 e 29 anos (30% dos casos), seguidos de adultos de 30 a 39 anos (22% das vítimas); entre 40 e 49 anos (11%), 10 a 19 anos (7%); 50 a 59 anos (7%); e 60 a 69 anos (4% casos). Em 19% das ocorrências, os pesquisadores não conseguiram identificar a idade das vítimas.

Considerada a quantidade de vítimas por milhão de habitantes, o ranking da violência LGBTIfóbica no país é liderado por Alagoas, com 4,75 mortes, seguido de Mato Grosso, com 3,36, e Mato Grosso do Sul, 3,17 óbitos. São Paulo aparece no topo do levantamento com o maior número absoluto de vítimas, 42. Aliás, o Estado teve aumento de 45% – em 2020 tinha registrado 29 casos (em 2021, foram 21). Depois, Bahia teve 30 vidas ceifadas, e Minas Gerais, 27.

Em relação à população, porém, o Estado de São Paulo, o mais populoso da federação registrou 0,90 morte de pessoa LGBTQIA+ no ano passado. Os Estados menos violentos proporcionalmente ao número de habitantes são: Roraima, que não registrou morte em 2021, Rio Grande do Sul (0,44 morte), Tocantins (0,62), Santa Catarina (0,68 mortes). No Estado catarinense, foram identificadas cinco mortes, de três homens gays e duas mulheres trans. 

As mortes foram provocadas, primeiro, com uso de faca, depois por arma de fogo, e em terceiro por espancamento, segundo ainda o dossiê, que foi divulgado no dia 11. “O Brasil é um país violento e que mata muita gente, as mortes violentas de pessoas LGBTI+ têm requintes de crueldade na maioria dos casos e isso é muito impactante”, aponta Alexandre Bogas, um dos coordenadores da pesquisa e membro da organização Acontece Arte e Política LGBTI+.

Julgada no Supremo Tribunal Federal em 2019, a homofobia configura crime no Brasil, tal como o racismo. A pena pode variar entre 1 e 5 anos, além de multa. A criminalização não é suficiente. O dossiê traz 12 recomendações de políticas para combater as formas de violência contra pessoas LGBTQIA+, como a criação de protocolos policiais unificados com dados referentes à LGTIfobia em boletins de ocorrência. Para Bogas, é necessário mudar a educação.

O dossiê, na página 67, lista que uma das 316 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ registradas ocorreu em Embu. O caso seria o de um jovem de 22 anos, Gabriel, que foi morto a tiros em uma barbearia no Parque Pirajuçara, em 22 de junho de 2021. De acordo com o boletim de ocorrência, o proprietário do estabelecimento relatou que o rapaz chegou para cortar o cabelo e que instantes depois um homem entrou no local, disparou contra a vítima e fugiu.

A família aponta que o crime foi motivado por homofobia. O rapaz que se relacionava com Gabriel postou que namoravam há quase três anos e após a pandemia esperavam voltar a morar juntos ao conseguir novo emprego. “E há quatro dias fui contratado, foi a melhor notícia que tivemos e já começamos a fazer nossos planos de quando iríamos pra nossa casinha e nessa terça-feira ele foi assassinado a sangue frio com três tiros na cabeça”, disse.

“Mataram ele, pelo que ele é, por ele ser feliz, por ele amar, uma pessoa de coração puro, que não tinha maldade com ninguém, sempre estendia a mão para ajudar o próximo, e hoje tive que ser obrigado a me despedir do amor da minha vida, com muita dor no peito e tristeza”, acrescentou o namorado. Uma jovem da família também lamentou a morte. “Mataram o meu primo […] sem mais nem menos. Até quando [a] homofobia vai matar os nossos?”, postou.

CLIQUE PARA ACESSAR ‘DOSSIÊ DE MORTES E VIOLÊNCIAS CONTRA LGBTI+ NO BRASIL’, QUE CITA CASO DE EMBU

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