Na ‘rachadinha’, Doda pôs até sobrinho como fantasma para ficar com maior salário do gabinete

Especial para o VERBO ONLINE

Doda, que mantinha sobrinho como chefe-de-gabinete fantasma para embolsar salário e ainda usava cartão-refeição do cargo, afirma ex-assessor | Gabriel Binho

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Ao longo de praticamente oito anos de mandato (2013-2020), o ex-vereador Doda Pinheiro (Republicanos) pagou as refeições que fez com um “cartão” com registro de um nome que não era Sandoval Soares Pinheiro – já que o benefício não era para os vereadores, mas aos servidores da Câmara. Em ato nada inovador, mas emblemático da “pilantragem”, ele lucrou com a “rachadinha” até com parente como funcionário fantasma, revela um ex-assessor.

Em novembro, o VERBO revelou que Doda fez fortuna nas gestões Chico Brito (2013-2016) e Ney Santos (2016-2020). Ao exigir parte do salário de cada vez mais apoiadores e cifras maiores, ele pegou montante que soma, por baixo, R$ 3 milhões. À Justiça Eleitoral, ele declarou patrimônio quatro vezes maior em apenas quatro anos, de R$ 262 mil (2016) para R$ 996.784,19 (2020), mas, segundo a testemunha, muito abaixo ainda do que embolsou.

Mais recentemente, em 31 de dezembro, este portal noticiou que Doda, além de empregar parentes na Câmara e na Prefeitura de Embu das Artes, enriqueceu ao “rachar” salários também de familiares. Porém, ele demonstrou não ter qualquer escrúpulo ao empregar no Legislativo um sobrinho que nunca deu expediente na Casa e ficar com o salário do cargo, conforme o ex-assessor – que relatou a “safadeza” de Doda a este jornal em outubro de 2019.

Ao ser perguntado sobre o então vereador empregar outros parentes, além dos que empregou na prefeitura, ele falou sobre a investida de Doda. “Esse já é do gabinete [na Câmara]… Se tiver os nomes lá [nomeados pelo político], eu sei. Por exemplo, o Rogério, sobrinho dele, que já era fantasma na época”, disse, sobre quando era assessor do parlamentar. A reportagem quis ter certeza sobre o relato: “Fantasma no gabinete?”. “Sempre foi”, afirmou.

O ex-homem-forte de Doda foi categórico. “O gabinete sempre teve um fantasma. É o Rogério. Sempre teve, sempre. Sempre teve uma pessoa que não ia trabalhar”, declarou. Ele revelou que a “tramoia” de Doda consistia em usurpar o cargo de maior salário, o de chefe-de-gabinete. “O cargo era dele, mas o chefe…, quem respondia era eu”, disse. “Uma pessoa tinha o nome [no posto]…”, questionou a reportagem. “Só o nome. Era o Rogério”, falou.

Segundo o ex-assessor, Doda recebia o salário integral do chefe-de-gabinete – a rigor, ia além de “rachadinha”. “Total. Na época não era o que é hoje, mas era 7 paus [mil reais] e pouco”, disse, ao indicar que o vereador passou a embolsar mais depois com o aumento do vencimento – em torno de R$ 10.755,00, valor atual. A testemunha então apontou a “mordomia” de Doda em não precisar colocar a mão no próprio bolso ao ir a restaurantes.

“Ele ficava com o cartão-refeição do cara [que seria para o sobrinho], tudo. Como descobrir isso? É fácil. É ir em alguns restaurantes em que ele passou o cartão”, afirmou o ex-aliado na ocasião, após ter almoçado várias vezes com o então chefe. O crédito mensal do cartão é alto – R$ 770. Além de disputar a reeleição impugnado, por ter as duas contas como presidente da Câmara rejeitadas, Doda teve só 1.168 votos e saiu derrotado das urnas.

Doda já tem conhecimento do relato do ex-assessor de que “rachava” o salário de funcionários, apoiadores e familiares. Após reportagens de que tinha enriquecido com a “rachadinha”, ele entrou na Justiça contra o VERBO, apenas durante a campanha eleitoral, em 2020. Ele chegou a ganhar em primeira instância, mesmo com a anexação do depoimento, mas perdeu em decisão colegiada e desistiu do processo – com o escândalo revelado.

> Colaborou a Redação do VERBO ONLINE

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