Maryah afirma que ouviu ameaça de que ‘Alex resolve de outro jeito’ ao citar MP

Especial para o VERBO ONLINE

Bodinho e UBS Santo Onofre; Maryah diz que ouviu da diretora que vereador 'resolve de outro jeito' ao alertar sobre MP saber de desvio de vacinas | Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

EXCLUSIVO. A funcionária comissionada Maryah de Carvalho se revolta por ter sido exposta pelo governo Aprígio (Podemos) ao fazer a denúncia sobre o desvio e fura-fila de vacinas contra covid-19 na UBS Santo Onofre após ser orientada a trazer o caso à tona por assessores do prefeito. Ao ser respaldada até então, ela foi em frente mesmo depois de chegar a ser “ameaçada” pela então diretora Fernanda da Cruz, ligada ao vereador Alex Bodinho (PL).

Maryah denunciou o desvio de centenas de doses de vacina no dia 8 de abril. Em segunda reportagem sobre o caso, o VERBO revelou no dia 27, conforme a denunciante, que um assessor direto de Aprígio, o pastor Antonio Cerqueira, propôs a Maryah um “acordo” e “negociar” para não apresentar a denúncia ao prefeito e avisou Bodinho. Com o “vazamento”, ela passou a ser intimidada por funcionários do político na UBS e foi forçada a sair.

Maryah conta que uma livre-nomeada da vereadora e primeira-dama Luzia Aprígio (Podemos) a incentivou a denunciar o ato ilícito, apesar do risco. “Eu tenho mensagens aqui que a pessoa fala para mim: ‘Você vai entregar as provas, mas vai ter que sumir de Taboão'”, relata. Ela diz também que pediram provas o secretário José Alberto Tarifa (Saúde) e Cristiano, assessor do secretário Wagner Eckstein Júnior (Administração), genro de Aprígio.

Outro livre-nomeado que orientou Maryah sobre as provas é cargo de Aprígio, Romeu Cruz Brito. Em áudio a que este portal teve acesso, um dia antes de 8 de abril, ele diz: “Vai amanhã lá na prefeitura, a gente vai resolver lá. Eu vou falar com o prefeito lá. […] Mas leva as provas, leva tudo para mostrar lá, vídeos, entendeu? Leva o papel que ela te mudou de lugar”. Maryah acusa Fernanda de a transferir para uma escola à revelia da Secretaria da Saúde.

“Eu fui transferida pela diretora sem a Secretaria de Saúde saber. Fui transferida para a escola Jorge Amado, eu tenho até a mensagem [da Fernanda], tenho áudio dela falando que eu tinha que me apresentar numa escola. Só que eu percebi que era uma armação para me tirar da unidade [Santo Onofre], e fui conversar com o senhor Tarifa e a dona Luzia. Tanto que a dona Luzia fez uma carta, fazendo que ela me aceitasse de volta na unidade”, relata.

Maryah foi encorajada a denunciar apesar do “aviso”. “Comentei com o Gustavo, o funcionário do Alex, que ‘está dando muito na cara o que estão fazendo aqui, se cair no Ministério Público vai dar problema para o seu vereador’. Aí eu fui chamada na sala, a Fernanda chegou para mim e falou: ‘Maryah, por enquanto, estou conversando com você, porque, se essa conversa de Ministério Público chegar no Alex, ele costuma resolver de outro jeito'”.

Maryah diz que foi uma ameaça. “No dia em que ele [Bodinho] descobriu o negócio da vacina [denúncia], ele e o assessor dele estavam me intimidando dentro do posto de saúde, falando que ali ninguém tirava funcionário dele. Eu recebi como uma ameaça. Eu fiz uma denúncia grave contra o vereador que, todo mundo sabe, é praticamente do crime, para falar o português correto, né?. Um dos assessores dele era traficante do Pirajuçara”, declara.

“Eu entendi como ameaça. Só que eu comecei a juntar provas, foi o que pediram para mim – ‘Maryah, nós precisamos juntar provas'”, observa, ao se referir aos assessores do prefeito e da primeira-dama. “Eu fui lá, juntei provas, entreguei tudo na mão deles. Só que eles me expuseram, me colocaram em risco, tanto que estou em risco ainda. Aí tenho que sair às pressas de Taboão, não posso trabalhar, afetou o meu psicológico”, diz a denunciante.

Maryah não poupa Cerqueira por ser exposta. “Eu fiquei na sala com ele mais ou menos uma hora até o ‘seu’ Aprígio chegar. Ele foi me perguntando as coisas e falou aquilo – ‘ah, dá para a gente conversar sem essa história chegar no prefeito?’ Achei estranho. Em seguida, recebi ligação de uma colega de trabalho, falando se eu estava na prefeitura denunciando a diretora. Aí o Alex apareceu depois que eu estava conversando com o pastor”, diz.

“Ele [pastor Cerqueira] falou: ‘Eu sou amigo da Fernandinha, o Alex é da minha igreja’. Aí já sabiam na unidade que eu estava denunciando a diretoria. Eu deduzi que foi ele, ele estava todo tempo com o celular na mão. Uma hora, estava sentado comigo na mesa. Depois, ele foi sentar na mesa dele, ficou com o celular virado para mim. Então, eu tenho certeza que foi ele que vazou a informação [da denúncia da vacina]. Sem sombra de dúvida”, afirma Maryah.

OUTRO LADO
Questionada sobre a acusação de Maryah de que disse que Bodinho ia “resolver de outro jeito” se a o Ministério Público soubesse do desvio de vacinas, Fernanda negou a fala. “Nunca houve essa conversa, nunca houve algum tipo de ameaça direta ou indireta a nenhum funcionário. Sempre respeitei toda a equipe”, declarou. Indagado sobre o relato e a afirmação de Maryah de ser um “vereador praticamente do crime”, Bodinho ficou em silêncio.

OUÇA ÁUDIO EM QUE MARYAH DIZ TER RECEBIDO ‘AMEAÇA’ DA PARTE DE BODINHO AO MENCIONAR O MP

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