Coronavac é aprovada; SP inicia vacinação, e enfermeira do SUS é 1ª imunizada

Especial para o VERBO ONLINE

Ao lado de Doria, a enfermeira do Emílio Ribas Monica Calazans recebe 1ª dose da Coronavac, única vacina disponível no país, após aval da Anvisa | Governo SP

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em São Paulo

São Paulo começou a vacinar a população contra a covid-19 neste domingo (17), após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovar, por unanimidade de cinco votos, o uso emergencial da vacina do Instituto Butantan. Poucos minutos depois, o governo do Estado aplicou a Coronavac em uma enfermeira da rede pública, Monica Calazans, 54, a primeira brasileira vacinada em território nacional. O Brasil iniciou a vacinação depois de 51 países.

Neste primeiro dia de campanha, mais de cem pessoas receberam a Coronavac, profissionais de saúde de hospitais de referência no combate à pandemia e integrantes de populações indígenas que foram vacinados em uma sala dedicada do Hospital das Clínicas de São Paulo. O Butantan tem produzidas 6 milhões de doses da vacina, mas o governo do Estado deve repassar cerca de 4,6 milhões para o Ministério da Saúde distribuir aos Estados.

O governo paulista deve ficar com 1,4 milhão de doses. Nesta segunda (18), promete iniciar a vacinação de trabalhadores da saúde em seis complexos hospitalares, Hospitais das Clínicas da Capital e Ribeirão Preto (USP), HC da Campinas (Unicamp), HC de Botucatu (Unesp), HC de Marília (Famema) e Hospital de Base de São José do Rio Preto (Funfarme) – hospitais-escolas, com maior fluxo de pacientes nas áreas em que atuam, e 60 mil profissionais.

Na sequência, as vacinas serão enviadas a polos regionais para redistribuição às prefeituras, com recomendação de prioridade a profissionais de saúde que atuam no combate à pandemia e indígenas. A divisão de doses considerou a proporção de vacinas esperada para São Paulo conforme o PNI (Programa Nacional de Imunizações). O total de 1,4 milhão de doses é a referência para os profissionais com base na última campanha contra a gripe.

O governo paulista chegou a definir um cronograma com grupos prioritários para receber primeiro a vacina, a partir de 25 de janeiro – profissionais de saúde, indígenas e quilombolas, seguidos de idosos de 75 anos ou mais até os de 60 anos. Agora, a imunização será desenvolvida segundo a disponibilidade das remessas pelo governo federal – à medida que o Ministério da Saúde viabilizar mais doses, as novas etapas serão divulgadas pelo Estado.

Portanto, é preciso esperar a definição do calendário de vacinação a ser divulgado pelo governo. Neste domingo (17), o Estado lançou o site www.vacinaja.sp.gov.br para agilizar a campanha de imunização, com o objetivo de que todas as pessoas aptas a receber a vacina do Butantan façam um pré-cadastro na tentativa de evitar aglomerações. O ministério disse que inicia a distribuição nesta segunda-feira, mas o plano nacional só começa na quarta (20).

A primeira brasileira vacinada, emocionada, pediu confiança no imunizante. “Estou falando agora como brasileira, mulher negra, que acredite na vacina. Vamos pensar em quantas vidas perdemos, quantos pais, mães, irmãos. Eu quase perdi um irmão por covid. Diante disso eu tomei coragem”, disse Monica, enfermeira da UTI do Instituto Emílio Ribas (centro da capital), uma das primeiras unidades de saúde a lotarem logo no início da pandemia.

Do grupo de risco para covid-19 – obesa, hipertensa e diabética -, Monica disse ter ouvido piadas de que era cobaia de vacina. “Falava que era participante de pesquisa, e estou muito orgulhosa, meu nome está no mundo inteiro”, disse a viúva, que foi auxiliar de enfermagem por 26 anos, até se formar enfermeira, aos 47 anos. Vacinada, ela deixou o “momento de celebridade” e foi direto para o hospital, onde ainda faria plantão em UTI lotada.

“Hoje é o Dia V, o dia da vacina, da vitória, da verdade e da vida. Quero dedicar este dia aos familiares dos 209 mil mortos pela covid-19”, disse o governador João Doria (PSDB), ao ironizar fala do ministro Eduardo Pazuello (Saúde), de que a vacinação seria “no Dia D e na hora H”, ao sugerir não ser preciso pressa. Em “batalha de coletivas”, Pazuello, no Rio, criticou Doria por iniciar a vacinação antes da campanha simultânea no país e fazer “marketing”.

Doria reagiu. “É um triunfo da vida contra os negacionistas, contra aqueles que preferem o cheiro da morte ao valor da vida”, disse. Ele lembrou as falas de Pazuello e do presidente Jair Bolsonaro. “‘E daí?’, disse um. ‘Pressa para quê?’, disse outro. ‘Toma cloroquina que passa’, afirmou o líder do país. ‘Já fizemos tudo, não há nada a fazer’, repetiu este mesmo personagem. A vacina é uma lição para vocês autoritários, que desprezam a vida”, declarou.

Os diretores da Anvisa também liberaram a vacina da AstraZeneca/Oxford, ao pontuar que não existe tratamento terapêutico contra a covid-19, contradizendo Bolsonaro e o ministério, defensores da cloroquina. Ao dizer que não faria “jogada de marketing” ao vacinar uma pessoa ainda neste domingo, em crítica a Doria, Pazuello mentiu ao dizer que o ministério tem “as vacinas em mãos” – a AstraZeneca (2 milhões de doses) ainda não chegou ao país.

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