Em Embu, ‘sócio’ de Ney prestigia eventos ligados a ‘suas’ secretarias na prefeitura

Especial para o VERBO ONLINE

Após a sessão, na quarta (7), Ney é fotografado abraçado a Eugênio

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
ANA PAULA TIMÓTEO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

A ligação entre o empresário Eugênio Rosa, denunciado na operação Pane Seca – grande investigação da Polícia Civil sobre venda de combustível adulterado no Paraná e em São Paulo -, e o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (PRB), veio a público há dois meses, revelada pelo “Fantástico” (TV Globo). Eugênio, dono de ao menos três postos na Grande Curitiba que vendiam gasolina “batizada”, afirmou ser “sócio” de Ney e “ter” “duas secretarias” na prefeitura de Embu.

Segundo o “Fantástico” no dia 2 de abril, os postos que vendiam combustível fraudado misturavam na gasolina até uma substância proibida, o metanol, que pode causar cegueira, além de manipular bombas para enganar o consumidor na hora de abastecer. O dinheiro faturado de forma ilícita pode ter ido para o crime organizado. No fim de março, a Justiça fechou os nove postos denunciados, e prendeu oito pessoas, que hoje respondem em liberdade – é o caso de Eugênio.

O empresário Eugênio Rosa, denunciado por adulteração de combustíveis, e Ney Santos, chamado de sócio pelo acusado
Empresário Eugênio Rosa, denunciado por adulteração de combustíveis, e Ney, chamado de sócio pelo acusado
Em escutas, Eugênio Rosa fala da relação com o prefeito
Em escutas, Eugênio Rosa fala ter duas secretarias na prefeitura de Embu, de Transportes e Serviços Urbanos
Em ação coordenada pela secretaria de N
Eugênio sentado com Ney, em ação coordenada por Léo (esq.), de Serviços Urbanos, secretaria ‘do’ empresário
Eugênio participa de posse de Felipe do Rancho, sentado ao lado de mãe de Ney e com
Eugênio (esq., boné) prestigia posse de Felipe do Rancho, sentado junto à mãe de Ney e com Léo em pé ao lado
Na Câmara, 4ª-feira, com Milton e Felipe, Ney abraça Eugênio e Gustavo, de Transportes, outra secretaria 'sua'
Na posse, com Milton e Felipe, Ney abraça Eugênio e Gustavo, de Transportes, outra secretaria ‘do’ empresário

Ele tinha telefonemas monitorados. Numa escuta, negociou a compra de um avião que custa pelo menos R$ 4 milhões. “São quadrilhas de poder financeiro alto, os bens apreendidos até o momento indicam o grau de rentabilidade desses crimes”, disse o secretário de Segurança do Paraná, Wagner Mesquita. “Acusado de ser um dos principais fraudadores do Paraná, Eugênio Rosa se diz sócio de um político, o prefeito Ney Santos, de Embu das Artes”, revelou o “Fantástico”.

“O prefeito de Embu das Artes é meu sócio. ‘Tô’ em Brasília. Vou chegar em Embu das Artes no final de semana”, diz Eugênio na escuta. Eleito prefeito, Ney teve em dezembro, um mês antes da posse, a prisão decretada. “Ney Santos […] comandava não só o tráfico de entorpecentes, mas as demais atividades relacionadas à lavagem de dinheiro oriunda desse tráfico”, disse o subprocurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo. Para não ser preso, Ney fugiu.

Ainda de acordo com o “Fantástico”, em 2 de fevereiro deste ano, o prefeito eleito Ney, com prisão preventiva, ainda era um procurado pela Justiça, mas na data, num telefone, Eugênio Rosa diz – a uma pessoa não identificada – que está com Ney Santos. “O Ney vai embora amanhã cedo. O senhor precisava ‘vim’ aqui ‘pra’ combinar com ele”, fala o empresário do Paraná. O homem responde: “Já resolvemos de vez tudo, né?”. Eugênio concorda: “Isso, isso, isso”.

A polícia tem uma certeza sobre Eugênio Rosa, diz a reportagem. “Ele dava guarida ao prefeito de Embu das Artes enquanto ele estava foragido”, disse o delegado-chefe da Delegacia de Defesa do Consumidor do Paraná, Guilherme Rangel. Ainda segundo o “Fantástico”, no dia 8 de fevereiro, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, revogou a prisão do prefeito, que – depois de ficar 60 dias foragido – tomou posse e está no cargo até hoje.

A reportagem mostrou que em 1999, aos 19 anos, Ney foi condenado por receptação e formação de quadrilha. Em 2003, outra condenação. Crime: assalto a carro-forte. Ficou dois anos preso até ser absolvido em segunda instância. Em 2005 entrou no ramo de combustíveis, diz o MP. “Havia a necessidade de se lavar o dinheiro, tentar legalizar esse numerário. Isso era feito através dos mais variados estabelecimentos, a maioria postos de gasolina”, disse Sarrubbo.

Sobre como Ney teria conhecido Eugênio, o “Fantástico” disse que em 2010 os dois foram candidatos a deputado federal pelo mesmo partido, o PSC – citou que Ney foi denunciado por distribuir vale-combustível em troca de votos. Quando Eugênio foi preso, a polícia encontrou um papel escrito a mão. Nele, aparecem a palavra “negociação” e os nomes “Eugenio” e “Nei Santos”. Entre imóveis e carros, o valor chega a R$ 36 milhões e 400 mil, apontou a reportagem.

Ainda conforme o “Fantástico”, além de se dizer sócio de Ney, Eugênio conta a um amigo, em uma escuta, sobre uma suposta influência na prefeitura de Embu. “Eu tenho duas secretarias que eu peguei lá”, diz o empresário. “De boa, né?”, diz o interlocutor. “Eu peguei a Secretaria de Transportes e a Secretaria de… Urbana”, continua. “Qual é a cidade? É…”, pergunta o amigo. “Embu das Artes”, diz Eugênio. A segunda secretaria mencionada seria a de Serviços Urbanos.

Eugênio disse que só ia se manifestar após ter acesso às investigações. Também na ocasião, Ney disse ao “Fantástico”, em nota, conhecer o empresário há três anos, mas que nunca foi sócio e não tem “nenhuma ligação política” com ele. Afirmou que Eugênio não indicou nem “possui dois secretários” na prefeitura, que Gustavo do Rancho (Transportes) e Léo Novais (Serviços Urbanos) são “conhecidos empresários da cidade e participantes ativos da política municipal”.

Apesar de negar ligação estreita com o “sócio”, Ney contou com a presença de Eugênio ao tomar posse – até o citou em discurso – e em 11 de março teve o empresário ao lado em uma simples ação do governo, o “Prefeito No Seu Bairro”, curiosamente, coordenada pela Secretaria de Serviços Urbanos, que Eugênio diz “ter” na prefeitura. Em situação além de mera relação social, Ney, informalmente, almoçou com Eugênio sentado ao lado e de prato em mãos – Léo junto.

Não foi coincidência. Entre várias vezes que o homem tão “bem relacionado” com Ney – até amigo de amigos íntimos do prefeito – foi visto em Embu, uma é bem recente e não menos emblemática. Na posse do vereador Felipe do Rancho (PMDB), quarta-feira (7), Eugênio esteve na Câmara, sentou ao lado da mãe de Ney e foi citado em público por Milton do Rancho, pai de Felipe e Gustavo do Rancho, titular de Transportes, a outra secretaria que “tem” na prefeitura.

“Não posso deixar de agradecer a dois grandes homens que estão aqui hoje. Ao meu grande amigo prefeito desta cidade, Ney Santos, muito obrigado por tudo que tem feito e que fez pelo meu filho Felipe. E ao meu grande amigo Eugênio Rosa, que veio de longe e está aqui presente, na primeira fileira. Muito obrigado a vocês dois”, disse Milton. Ao final da sessão, Ney, descontraído e sorridente, posou para fotos abraçado a Eugênio e aos Arenzon, pai e filhos.

OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO neste domingo (11), o governo enviou a mesma nota mandada ao “Fantástico”, em que afirma que Ney não é “sócio” de Eugênio e que o empresário não “possui” duas secretarias, e negou ligação entre ambos por conta dos dois eventos. “Eugênio não esteve na ação ‘Prefeito No Seu Bairro’. Apareceu no churrasco que teve depois. A posse não era de Ney. Segundo sabemos, Eugênio é colega de muitos anos de Milton do Rancho e provavelmente estava prestigiando a posse do vereador Felipe do Rancho”, disse o subsecretário de Comunicação, Renato Oliveira.

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