Advogada diz que padre de Taboão é vítima de ‘armação’; Igreja prega cautela

Especial para o VERBO ONLINE

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em São Paulo

O padre Carlos Alberto de Souza, da Paróquia São Pedro Apóstolo no Parque Pinheiros, em Taboão da Serra, não teve acesso às denúncias contra ele, não agrediu adolescente, foi vítima de “armação” e sofreu afastamento ilegal da igreja, diz a advogada de defesa. No domingo (3), ele voltou a celebrar missa na paróquia após quase dois meses de suspensão das funções eclesiásticas por decisão da própria Diocese de Campo Limpo, a Igreja Católica na região.

Padre Carlos fala aos fiéis sobre ter sido afastado na missa em que foi reconduzido à paróquia
Padre Carlos fala aos fiéis sobre ter sido afastado na missa em que foi reconduzido à paróquia no Pq. Pinheiros

“A defesa ainda não teve conhecimento da acusação, alguns boatos surgiram de agressão, alguns até de crime sexual, mas não sabemos. O que fizemos foi apresentar defesa sobre suposições. Estamos aguardando que a Diocese nos franqueie as denúncias”, disse a advogada Márcia Garcia após a missa celebrada pelo padre. A Diocese recebeu relatos contra o padre de agressão e até assédio feitos por fiéis. No dia 16 de maio, afastou o sacerdote da paróquia.

Uma fiel denunciou que o filho de 17 anos foi agredido pelo padre Carlos ao receber uma gravata e ser arrastado para fora da igreja durante reunião de jovens da paróquia, do movimento TLC (Treinamento de Liderança Cristã), em abril. A mãe fez boletim de ocorrência na delegacia, obteve laudo médico e acionou o Conselho Tutelar. Ao receber a denúncia, a Diocese criou uma comissão de três sacerdotes para apurar o caso, mas chegaram outras acusações.

A advogada desqualifica a denúncia. “Uma delas veio às claras, que é a agressão a um jovem. Já foi provado que não houve, foi uma armação de alguns jovens contra o padre. Nós temos já o relato por escrito dos jovens que estavam no dia, de que foi um complô, já estava armado para que o padre acabasse reagindo. O padre pegou o rapaz pelo braço e o conduziu para fora da Igreja porque ele estava tumultuando e tentou agredir o padre”, disse.

Garcia também refuta acusação de assédio. “Assédio sexual atual, não conhecemos. O que eles estão tentando retomar foi um caso de anos e anos atrás, de 2011, mas o padre não respondeu a um crime sexual”, disse. Ela afirmou que “foi um crime de menor potencial ofensivo”, mas não quis revelar qual. “Aí eu entro no segredo de Justiça, mas garanto que não era estupro, não era ato libidinoso. [Se fosse], a condenação seria certa, o que não ocorreu”, falou.

A advogada reconhece que a lei da Igreja pode privar o padre do acesso a apuração inicial, mas avalia que o afastamento foi um erro. “Foi ilegal, não havia ainda o devido processo. Eu entendo o afastamento como pena. Pelo Direito Canônico, que não é minha especialidade, mas agora está se tornando, numa investigação preliminar você não é obrigado a dar acesso ao acusado, mas também a pena não poderia ter sido o afastamento”, afirmou.

Para Garcia, a Diocese tomou uma decisão “precipitada”. “Não foi falha, foi precipitado o afastamento, como defesa. Não é o que o padre entende, o padre acatou. Mas ele não pode sofrer uma punição sem o que garante a Constituição, que é [o direito] a defesa, o contraditório, o que não foi dado a ele até agora”, disse. Ela disse que, com um canonista, fez “o pedido de revogação pela ilegalidade e conseguimos” que a Diocese revogasse o afastamento.

“A Diocese se permitiu receber as provas que tínhamos, todas as declarações manuscritas da comunidade, dos adolescentes que sabiam que estava sendo planejado algo para o padre perder, entre aspas, a paciência com o rapaz, que foi para cima dele mesmo, e também o relatório conclusivo do Conselho Tutelar [de não agressão]”, disse. A advogada admitiu que a Diocese “continua investigando, mas achou por bem revogar o afastamento”, reforçou.

Procurada pelo VERBO, a Diocese contestou a advogada do padre e disse que o afastamento não foi “precipitado”. “O processo segue o ritmo canônico. Não está sendo feita injustiça a nenhuma das partes, esse é o momento da escuta. No momento oportuno, ele vai ser chamado e vai ter acesso às denúncias, não é que houve denúncia e ele já foi condenado, embora ele não aceite todo esse processo”, afirmou o padre Manoel Viana, da comissão de investigação.

Ao contrário da convicção da advogada de que o caso da agressão “já está esclarecido”, padre Manoel pregou cautela. “É um processo a partir de denúncias de leigos [fiéis] da paróquia, a gente não pode simplesmente dizer ‘são falsas’. Agora, obviamente, precisa ser provado. Já entregamos todo o processo de escuta de denúncias ao bispo, que tem um perito canônico que o está assessorando, ele que vai dizer suas conclusões sobre a denúncia”, declarou.

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