Fernando renega apoiadores e Analice loteia prefeitura, afirma Orlandino

Especial para o VERBO ONLINE

O ex-vereador de Taboão Orlandino no lançamento da candidatura à reeleição do deputado Geraldo Cruz (PT)
O ex-vereador de Taboão Orlandino no lançamento da candidatura à reeleição do deputado Geraldo Cruz (PT)

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE

O ex-vereador Luiz Carlos Albuquerque Orlandino, de Taboão da Serra, que trabalhou para o “amigo” Fernando Fernandes na campanha em 2012, diz que o hoje prefeito “mudou muito” e não reconhece mais aliados que o ajudaram na eleição, além de não pode nomear para o governo já que a mulher, a deputada estadual Analice Fernandes (PSDB), loteou a administração municipal “com várias pessoas de fora de Taboão”, “do Estado todo”. “Cada vez que Analice indicou alguém para ocupar um cargo na cidade deixou o taboanense grande companheiro do Fernando para fora da política”, afirma.

Vereador de 1976 a 1981 e de 1993 a 96, Orlandino, 66, foi um dos mais de 20 presos acusados de envolvimento na fraude do IPTU no governo Evilásio Farias (PSB), na “Operação Cleptocracia”, em 2011. Apesar de afirmar que participou de diferentes campanhas sem exigir cargos em nenhuma gestão, quando foi detido  por cerca um mês e meio  constava como assistente de gabinete do prefeito. Como os demais réus, ele ainda responde ao processo. Depois, foi chamado por Fernando para ser um “dos que puxaram a cabeça da campanha” e nas eleições neste ano “ajudará” candidatos do PT.

Procurada pela reportagem, a prefeitura não se manifestou. Já Analice disse, por meio da assessoria, que o “loteamento” não aconteceu. “Os critérios aplicados pelo prefeito Fernando Fernandes para nomeação de funcionários são em sua maioria critérios técnicos e de competência para o desempenho de funções determinadas e não apenas políticos”, disse.

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VERBO – O sr. fez parte da campanha em Taboão da Serra que elegeu Fernando Fernandes prefeito da cidade, e hoje está apoiando o candidato Geraldo Cruz?
Luiz Carlos Albuquerque Orlandino – Geraldo Cruz e Vicente Cândido. Vicente é meu amigo, e Geraldo [não o deputado], irmão de Vicente, é sócio de meu filho em atividades comerciais. Por intermédio de meu filho e pela amizade que tenho de muitos anos com Vicente Cândido, que é meu irmãozão, me senti na obrigação de apoiar o Vicente, e obviamente o Geraldinho é um grande companheiro, que vamos ajudar a reeleger. Quanto maior o número de deputados que conseguirmos eleger, é bom para nós. Acredito assim.

VERBO – Era de se imaginar que o sr., por ter feito campanha que elegeu Fernando, fosse apoiar a deputada Analice Fernandes [mulher do prefeito].
Orlandino – Eu apoiei a Analice, fui um dos coordenadores [da campanha] dela na primeira eleição [em 2002], mas depois por conjunturas políticas tivemos um distanciamento. Na [eleição] passada, apoiei o Fernando, fui dos homens que puxaram a cabeça da campanha dele – você se lembra disso –, com carro de som, falando, trazendo o pessoal [moradores] para a rua para vir cumprimentar o Fernando. Mas eu não tenho compromisso com o Fernando nem o Fernando tem compromisso comigo, terminou a eleição, ele foi cuidar da vida dele e eu vim cuidar da minha, não temos comprometimento político. Quero que Deus o ajude, que faça um grande governo, e vamos reeleger agora o nosso deputado Geraldinho e Vicente Cândido, que é meu irmãozão.

VERBO – Muitas pessoas que fizeram parte da campanha do Fernando foram para a prefeitura [ocupam cargos]. O sr. não foi?
Orlandinho – Não fui, não quis, não quero. Ele não tinha esse compromisso comigo, de me dar nenhum cargo na prefeitura.

VERBO – E por que o apoiou?
Orlandinho – Eu o apoiei porque… É o seguinte: Fernando é meu amigo de muitos anos… Quando ele chegou a Taboão [no Pirajuçara] em 1972, eu o acolhi no Rotary, no Clube dos Lojistas… Fernando é meu amigo. E na época [da eleição] a amizade mais firme, mais sincera era [com] o Fernando, o Aprígio também não fez por merecer, para agarrar a minha amizade, não fez. O Fernando me convidou, foi na minha casa duas vezes, o Aprígio nem passou no meu portão [ri]. O Fernando falou: “Vamos montar um carro de som, quero você na rua todos os dias comigo, Orlandino”. Eu falei: “Vou te ajudar, sim, vamos tocar o pau”. Faço política de coração, por prazer, faço porque gosto, conheço política com profundidade. Cabe a pergunta para o Fernando porque ele deixou de fora [do governo] pessoas que trabalharam com ele. Comigo ele não tem compromisso, que fique bem claro isso. Quanto às outras pessoas que falam dele que tiveram compromisso para apoiar o Fernando, aí tem que ser perguntado a cada um para saber qual a razão, o porquê não estão na prefeitura. Hoje tem uma série deles que não estão na prefeitura.

VERBO – Encontrei [no lançamento da candidatura de Geraldo Cruz] algumas lideranças políticas que são de Taboão e que estiveram ao lado de Fernando na campanha. Qual sua opinião para o fato de essas pessoas não terem sido aproveitadas no governo do prefeito?
Orlandino – Fernando mudou muito! E a Analice tem compromisso assumido com várias pessoas de fora de Taboão, de Embu, de São Lourenço [da Serra], de Juquitiba, do Estado todo, inclusive [livre-nomeados] em algumas secretarias são indicações da Analice. Cada vez que Analice indicou alguém para ocupar um cargo na cidade deixou o taboanense grande companheiro do Fernando para fora da política. Ele tem compromisso com o [ex-vereador José Luiz] Elói, com outros tantos aí que eu não vou mencionar o nome – me perdoe o Elói de estar falando o nome dele. Mas com tantos outros ele [Fernando] teve compromisso sério, dr. Maurício e vai por aí afora. Mas não sei por que cargas d’água não cumpriu.

VERBO – Incluiria também na lista de renegados [o ex-vereador] Paulo Félix?
Orlandino – Paulo Félix! Meu companheiro Paulo Félix vai somar comigo na campanha do Geraldinho. Espero, né? Tenho fé.

VERBO – Desculpe, Orlandino, mas o sr. apoiou Fernando só por amizade?
Orlandino – Só por questão de amizade. Na minha vida, quero deixar bem claro para você –, que é um jornalista experimentado, que conhece de cor e salteado Taboão, a cidade toda –, se alguém disser que eu tive um compromisso assumido na campanha a meu favor ou a favor de alguém, posso garantir que é mentira. Nunca tive compromisso com [o ex-prefeito José] Vicente Buscarini, nunca tive compromisso com o [ex-vice-prefeito, ex-deputado estadual e hoje vereador] Luiz Lune, nunca tive compromisso com [o ex-prefeito] Evilásio [Farias]. Pelo contrário, o compromisso que tive com Evilásio foi de apoiá-lo, lancei minha filha candidata a vice dele [que não vingou], sustentei parte da campanha dele, botei caminhão, som, ônibus, e nunca pedi para ele um cargo sequer na prefeitura. Pode perguntar para o Fernando, para o Evilásio, para o Buscarini, para quem quiser. Eu venho [na política] desde a coordenação da [ex-prefeita] Laurita [Ortega Mari (1964-68)], meu pai com [o ex-prefeito] Nicola [Vivilechio (1959-1963)], e nunca pedi nada. E não fui à prefeitura até hoje pedir nada para o “seu” Fernando, e não vou, não preciso da prefeitura. Graças ao bom Deus, tenho força, saúde, condição para trabalhar, vivo bem, tenho boa situação [financeira], mas se for preciso, digo com todas as letras, vou limpar fossa para manter minha família, mas pedir, eu não preciso, nunca pedi. Fui convencional [delegado da convenção] do [ex-governador e ex-prefeito e atual deputado federal Paulo] Maluf em 1978, do [ex-presidente da CBF] José Maria Marin. Eu tinha toda a oportunidade de ir a todos os jogos da Copa [no Brasil] convidado pelo Zé Maria. Nunca fui nenhuma vez na CBF pedir nada para ninguém. Não vou. Não sou orgulhoso, não é orgulho, eu tenho vergonha. Se eu pedir alguma coisa e você disser não, eu vou passar mal.

VERBO – Qual a relação política atual sua com o prefeito Fernando Fernandes?
Orlandino – Amizade, cordialidade, sem nenhum resquício.

VERBO – Mas apoia o governo dele?
Orlandino – Olha, vou te falar bem a verdade: o governo do Evilásio foi muito bom para a cidade, explorou muito, trouxe muita verba do governo federal. E o Fernando está indo bem no governo, não está mal, porque agora a Analice está começando a trabalhar, o Evilásio saiu e o Fernando entrou, e a Analice, esposa dele, tem que trabalhar, é deputada. Até os [últimos] quatro anos do Evilásio, ela não trouxe nada. Mas agora, com o Fernando, você está vendo que já tem algumas obras andando na cidade, já fechou o primeiro ano com algumas obras realizadas. Eu quero que ele faça um bom goerno, não adianta querermos massacrar o prefeito e o povo ter prejuízo, não pode. Eu sou nascido em Taboão, sou criado em Taboão, eu quero o melhor para a minha cidade, Analice se reelege, o Geraldinho se reelege, e saem dois [candidatos a] deputado da região com quem vamos brigar na Assembleia para trazer melhorais para os nossos municípios.

VERBO – E como é hoje sua relação política com Analice?
Orlandino – Muito boa. Até o momento presente, muito boa [ri]. Não sei como eles vão encarar agora esse apoiamento ao Vicente e ao Geraldinho. Mas podem encarar do jeito que quiserem, não me diz nada, não me diz respeito. Estou montando na [avenida] Fernando Fernandes, a rua da feira de domingo [no Pirajuçara], um belo comitê, e será em frente ao da Analice [ri]. Vou tocar o Geraldinho e o Vicente lá, se Deus quiser.

VERBO – Acredita que [eles, Fernando e Analice] podem ver de forma negativa o seu apoio ao PT?
Orlandino – Não digo de forma negativa, porque, como disse, compromisso não temos.

VERBO – Ele [Fernando] poderia ver o sr. como aliado.
Orlandino – Não, hoje ele não pode ver assim, hoje sou PT, hoje vou votar no Padilha [Alexandre Padilha para governador], na Dilma [Dilma Rousseff para presidente], no Geraldinho, no Vicente Cândido, no Suplicy [Eduardo Suplicy para senador]. Você pode deixar claro isso, hoje essa é a minha chapa. Se puder quebrar a cabeça do PSDB, eu vou quebrar, não tenha dúvida.

VERBO – O PSDB faz um bom governo no Estado de São Paulo?
Orlandino – Não, não faz, inclusive com escândalos do trem [denúncia de formação de cartel e fraude em licitações do Metrô e da CPTM entre 1998 e 2008]. O nosso governador Geraldo está enrolando como esse negócio da [crise nos sistemas de] água, quando passar a eleição vai ter racionamento geral em todo o Estado, vai ser um inferno! Só bobo que não vê isso.

VERBO – É o único ponto em que o sr. faz críticas ao governo Alckmin?
Orlandino – Além da questão da água, fator primordial para sobrevivermos, a [política de] segurança é muito ruim, hoje eu tenho medo de sair de casa, você também tem, todo mundo tem medo de pôr o pé para fora da porta, com perigo de tomar um tiro na cara sem saber porquê. A segurança é péssima, o governador não faz por merecer [aprovação], deveria fazer.

VERBO – A [segunda] delegacia é uma demanda, uma necessidade desde o tempo em que o sr. era vereador [no segundo mandato, de 1993 a 96]?
Orlandino – É uma demanda grande e gravíssima. Brigamos muito, falamos muito da delegacia, desde o meu tempo, desde vereador a [também] presidente da Cãmara, tenho requerimentos, documentos, pedindo, solicitando a segunda delegacia, no Pirajuçara, precisava distribuir melhor a polícia na nossa cidade, Taboão é rachada pela BR-116, precisamos dos dois lados os dois tipos de policiamento, tanto a Polícia Militar como a Polícia Civil. Hoje, quem livra a cara de Taboão é a Guarda Municipal, que o [ex-prefeito] Armando Andrade criou. Foi uma das minhas indicações na Câmara quando vereador. Se não tivéssemos a GCM em Taboão, estávamos perdidos, estava pior, estava muito pior.

VERBO – Qual seu futuro político após apoio a candidatos do PT agora em 2014?
Orlandino – Para mim, cada eleição é uma história. Eu apoiei, fui convencional do Maluf [da extinta Arena, partido de sustentação da ditadura militar] em 1978 – era um dos membros da Câmara, tinha direito a voto. Depois, fui [apoiei] Mário Covas [PSDB], achei que Covas fez um governo sério, trabalhou bem. Eu vejo o que é melhor para a população. É melhor para Taboão, é melhor para São Paulo, é melhor para o Brasil? Temos que ajudar.

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