Em SP, Museu da Diversidade Sexual realiza exposição sobre resistência LGBTQ+ na ditadura

Especial para o VERBO ONLINE

Pessoas LGBT+ fichadas pelo regime militar; exposição, gratuita, faz recorte sobre as relações entre autoritarismo e diversidade sexual e de gênero | Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em São Paulo

O Museu da Diversidade Sexual, vinculado à Secretaria Estadual de Cultura e gerido pela Amigxs da Arte, no centro de São Paulo, realiza desde esta sexta-feira (29) a exposição presencial “Orgulho e Resistências: LGBT na Ditadura” – como parte do projeto de preservação de memórias da resistência à repressão do regime militar. A mostra, sob curadoria de Renan Quinalha, faz recorte sobre as relações entre autoritarismo e diversidade sexual e de gênero.

A exposição se volta à série de ações de resistência contra a repressão que surgiram em defesa da diversidade. O público terá acesso a obras literárias, cartazes de peças de teatro, músicas, filmes, fotografias e materiais que confrontavam a censura. Entre os destaques, um desenho inédito da cartunista Laerte representa a pluralidade de gêneros. Mesmo em contexto repressivo, a mostra aborda o movimento LGBT ao dar os primeiros passos.

O visitante poderá perceber como as prisões em massa foram instrumento do Estado para reprimir tipos sociais “indesejáveis”, baseados no ideário da moral e bons costumes. O projeto curatorial reforça como as detenções arbitrárias se mantiveram frequentes após o golpe de 1964 com a intenção de manter espécie de “higienização moral”, sendo comumente batizadas de “Operação Boneca”, “Operação Limpeza”, “Pente-Fino”, “Arrastão”.

Nas décadas de 1960 e 1970, a resistência também é demonstrada no âmbito cultural, com o surgimento de uma arte considerada transgressora e de contracultura. Para a mostra, uma das referências é o grupo Secos e Molhados, que tinha como vocalista Ney Matogrosso – que está completando 80 anos -, de aparência andrógina e que, por meio da mídia, chegava a inúmeras casas brasileiras, numa clara referência à pluralidade de gêneros.

A exposição aborda o surgimento de um movimento LGBT mais organizado a partir de 1978, com imagens de atos de rua e capas de publicações da imprensa alternativa. Por fim, faz um paralelo ao demonstrar que, mesmo com atuação mais articulada, muitas das reivindicações históricas do movimento foram conquistadas bem recentemente, como a união estável e casamento homoafetivos (2011) e criminalização da LGBTfobia (2019).

“’Orgulho e resistência’ é uma daquelas exposições fundamentais para recuperar a memória da nossa comunidade e das pessoas LGBT+ que lutaram pela nossa democracia e liberdade durante a ditadura, um período marcado pela repressão, mas onde sempre existiram resistência e orgulho”, ressalta o diretor do Museu da Diversidade Sexual, Franco Reinaudo. A mostra reúne documentos oficiais do regime ditatorial, como o fichamento de pessoas.

“A proposta da exposição de conduzir e mudar o olhar para o passado diz respeito também ao desejo de olhar para o presente, a fim de buscar meios para que uma determinada versão da moral e os bons costumes não volte a ter o mesmo peso que teve há tão pouco tempo entre nós”, afirma Quinalha. A Casa 1 – Casa de Cultura e Acolhimento LGBT disponibilizará, em plataforma digital, conteúdo articulado aos eixos da mostra (fotos, vídeos, áudios, textos).

SERVIÇO
Exposição “Orgulho e Resistências: LGBT na Ditadura”
Terça a domingo, das 10h às 18h, no Museu da Diversidade Sexual (estação República do metrô, atrás da bilheteria, piso Mezanino, loja 518) – desde 29 de outubro
Ingresso – gratuito (capacidade de até de 70%)
Classificação indicativa – livre

comentários

>