CONJUNTURA A 3 DIAS DO 1º TURNO. Às vésperas de mais um estelionato eleitoral

Especial para o VERBO ONLINE

JOSÉ AFONSO DA SILVA
Colunista do VERBO ONLINE

Avalio que a parcela mais séria e responsável da burguesia e da grande mídia brasileira não quer que Jair Bolsonaro (PSL) ganhe as eleições. E por que não quer? Não quer porque Bolsonaro é o candidato de setores econômicos atrasados, arcaicos, sejam eles: a indústria da mineração, o agronegócio, a indústria da bala e a indústria da fé. Esse setor econômico, apelidado de BBB (“Bala, Boi e Bíblia”), sempre esteve na marginalidade do debate político. No entanto, ganhou força e se consolidou durante os governo do PT, e neste momento se vê na iminência de eleger um representante como presidente da República.

Eleição
Presidenciáveis na Globo, sem Bolsonaro, que alegou orientação médica; ‘é o candidato dos setores atrasados’

Por isso, prefere um Fernando Haddad/PT conciliador, domesticado e aberto às propostas de privatização e de austeridade. Porém, Haddad não é um candidato que represente legitimamente a burguesia e não está claro até que ponto Haddad não sucumbirá às pressões “corporativistas” dos movimentos sociais e sindicais que exercem pressão sobre o PT.

Não por acaso, boa parte da fina flor da burguesia brasileira ainda aposte suas fichas num crescimento de candidaturas como a de Geraldo Alckmin (PSDB), ou mesmo de Ciro Gomes (PDT), ainda no primeiro turno. Afinal de contas, não levaram anos trucidando o PT política e moralmente para permitir que o mesmo volte ao governo assim de boa.

Talvez isso explique a nova ofensiva jurídico-midiática contra o PT e Haddad nos últimos dias que, de alguma forma, se refletiu na mais recente pesquisa do Datafolha, nesta quinta-feira, a três dias do 1º turno da eleição, com o crescimento da intenções de voto em Jair Bolsonaro, que pulou de 32 para 35%, e a permanência em patamar elevado da rejeição a Haddad, que oscilou de 41% para 40%, mas que antes estava em 32%.

Haddad entendeu esse recado e busca desesperadamente se reconciliar com o mercado financeiro falando em fazer reformas, nova Constituinte, responsabilidade fiscal, parcerias público privadas e concessões (leia-se privatizações). O problema dessa tática de Haddad/PT é que seu crescimento nas pesquisas atiça o antipetismo enraivecido estimulado nos últimos anos e afasta setores mais combativos de sua campanha.

Alckmin e Ciro se aproveitam desse momento, só que de formas diferentes. Enquanto Alckmin procura resgatar os tradicionais votos tucanos que estão com Bolsonaro, argumentando que votar em Bolsonaro no primeiro turno é trazer o PT de volta ao poder, Ciro disputa o voto antipetista e também de um eleitorado mais progressista com o argumento de que só ele vence o Bolsonaro no segundo turno.

Essa tensão a poucos dias da eleição empobrece o debate político e desidrata as possibilidades das demais candidaturas programaticamente ideológicas, com o denominado “voto útil” e o voto no “menos pior”. Não preciso dizer que essa situação favorece candidatos sem programa, sem conteúdo que tem apenas a questão moral e o “antiesquerdismo” como plataforma de campanha.

Não por acaso sempre que o programa de Bolsonaro vem à tona – fim das férias, fim do 13º salário, alíquota de 20% do Imposto de Renda para todos (entre outras barbaridades) – logo em seguida é desmentida. Assim sendo, posso afirmar que estamos às vésperas de mais um estelionato eleitoral.

*José Afonso da Silva, militante do PSOL de Taboão da Serra e responsável pela secretaria do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), tem coluna publicada às sextas-feiras no VERBO ONLINE

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