Laudos do Instituto de Criminalística apontam que o mezanino transformado em auditório desabou em uma empresa de contêineres em Itapecerica da Serra, há sete meses, por receber peso superior ao limite suportado, agravado por falha na instalação do pavimento. Segundo os relatórios, o colapso ocorreu por “flambagem de ligas metálicas, associada à falta de ancoragem das colunas metálicas da estrutura”. O resultado da perícia foi divulgado pela Agência Brasil.
O desabamento do mezanino aconteceu em 20 de setembro do ano passado durante ato de campanha eleitoral de uma candidata a deputada federal e um candidato a deputado estadual, que acabou em tragédia. Estavam no local 64 pessoas: 31 ficaram feridas e nove morreram, todas funcionários da Multiteiner Comércio e Locação de Contêineres. As vítimas fatais (sete mulheres e dois homens) tinham 20 (duas), 25, 26, 27, 32, 35 (duas) e 47 anos – a maioria era jovem.
Na ocasião, a Prefeitura de Itapecerica da Serra informou que o imóvel estava irregular, já que a estrutura foi alterada sem autorização. Mas informou também que, como a empresa fica em uma área de proteção de mananciais, o licenciamento é de responsabilidade da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). A estatal informou que a empresa fez um pedido de licenciamento com vistas à regularização do empreendimento, mas ainda estava em avaliação.
Para poder funcionar, informa a Agência Brasil, a empresa precisa regularizar a documentação junto aos órgãos públicos. Precisa, por exemplo, do habite-se, um documento expedido pela prefeitura que comprova que a obra está regular, ou seja, que o imóvel foi construído ou reformado de acordo com as normas legais do município onde está localizada. Também precisa ter o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), que certifica a segurança da edificação.
No caso de uma empresa como a Multiteiner, por se situar em uma área de proteção de mananciais, deve ter ainda uma aprovação da Cetesb. De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança, outras deligências estão em andamento para apuração do acidente e os eventuais responsáveis. Outro agravante, conforme os apontamentos dos laudos, segundo a agência, é que o mezanino não tinha qualquer aviso sobre o número máximo de pessoas permitido no auditório.
A candidata e o candidato que faziam reunião no auditório que ruiu era Ely Santos (Republicanos) e Jones Donizette (Solidariedade), irmã e secretário do prefeito Ney Santos (Republicanos). Eles estavam de saída do local – o acidente ocorreu no fim do evento. Em fala vista como desrespeito com as famílias, Ney chegou a dizer que Ely e Jones tinham tido um “livramento”, como se a providência divina tivesse poupado os políticos e escolhido para morrer as vítimas fatais.
Na ocasião, o VERBO revelou que membros da Defesa Civil de Embu das Artes não se preocuparam apenas em auxiliar no socorro às pessoas que estavam no auditório que desabou, mas também em remover “evidências” para ocultar que o acidente ocorreu quando Ely e Jones pediam voto a funcionários da empresa. “A Defesa Civil do Embu ‘tava’ lá no cenário mais preocupada em recolher o material de campanha do que com o caso”, disse o familiar de uma vítima.
O parente disse ter ficado no local da tragédia “o dia inteiro” e citou relato de que viu “eles ‘mechendo’ em corpo pra tirar os santinhos dos bolsos”, sobre a ação de agentes. Não só servidores da Defesa Civil, porém, estavam com uniforme do órgão. Outras pessoas que não pertencem aos quadros da instituição estavam de jaleco e tiveram livre acesso ao galpão do acidente, como o vereador Renato Oliveira (MDB), outro aliado político de Ney – e também de Ely e Jones.
Isso vai acabar em.pizza