Aprígio põe como locutor recebedor de propina para Ney em fraude do kit escolar

Especial para o VERBO ONLINE

Com Nóbrega, Aprígio faz campanha, à frente de Maciel; locutor de Ney é réu por receber propina para o chefe, flagrado na 'Operação Prato Feito' | Divulgação

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

O candidato a prefeito de Taboão da Serra Aprígio (Podemos) pôs como “animador” da campanha no 2º turno uma pessoa com estreita relação com o prefeito Ney Santos (Republicanos), a ponto de ser recebedor de propina para Ney no esquema de desvio de verba para compra de kit escolar em Embu das Artes. Locutor/mestre-de-cerimônias de Ney, Cristiano Jesus Maciel, 42, é réu na “Operação Prato Feito”, denunciado pelo Ministério Público Federal.

Maciel está acompanhando Aprígio por toda a cidade. Chama a atenção de moradores nas casas para a presença do prefeiturável ao fazer a locucação na carroceria de uma picape na qual está o candidato, além do postulante a vice, Buscarini (Podemos), e o candidato derrotado Eduardo Nóbrega (MDB), que apoia Aprígio. Ele também ficava em cima de um carro com Ney na campanha em Embu. Com a reeleição do prefeito, ele “apareceu” em Taboão.

No ano passado, o MPF denunciou à Justiça Ney, o vereador e agora vice-prefeito eleito Hugo Prado (então PSB), dois secretários e um ex-secretário, quatro assessores de Ney e quatro empresários, por fraude na licitação e contrato de compra de uniformes a cerca de 30 mil alunos. A operação, da Polícia Federal, mirou desvios em licitações de merenda escolar, e chegou a outros núcleos criminosos, entre eles o que agia na prefeitura de Embu.

Ney comandou o esquema criminoso primeiro enquanto vereador e presidente da Câmara e depois prefeito. Segundo o MPF, “durante os anos de 2016, 2017 e 2018” Ney, Maciel e outros assessores, “de forma livre e consciente, em unidade de desígnios, solicitaram e receberam” de quatro empresários, todos ligados à empresa Revemtex, em razão da função de prefeito que Ney viria a ocupar, “vultosos valores a título de vantagem indevida”.

“Tais pagamentos foram feitos em troca da promessa da celebração de contratos públicos com as empresas pertencentes ao grupo corruptor, a exemplo da Reveron Ferraz da Silva ME (Revemtex), caso Ney Santos se elegesse Prefeito de Embu das Artes”, frisa o MPF. O empresário Carlos Zeli Carvalho (“Carlinhos”) “realizou em 2016 diversos pagamentos nas contas bancárias de assessores de Ney, a ele destinados”, aponta a Procuradoria.

Um dos assessores de Ney envolvidos é Maciel, que em 2016 era assessor do chefe na Câmara. Além de outros dois assessores, o locutor recebeu dinheiro de “Carlinhos” para Ney – propina. “Cristiano Jesus Maciel, ex-assistente administrativo da Câmara Municipal de Embu das Artes, também recebeu valores em sua conta-corrente, em 16/06/2016, oriundos diretamente de Carlos Zeli Carvalho, como intermediário de Ney Santos”, denuncia o MPF.

“O valor foi repassado ao seu destinatário final, o então candidato à Prefeitura Ney Santos, por meio de doação à sua campanha eleitoral”, completa a Procuradoria, que pede a devolução de R$ 12 milhões aos cofres municipais pelas fraudes. Maciel é denunciado por corrupção passiva e organização criminosa. Como Ney, denominado líder da “quadrilha do kit escolar”, é prefeito, o processo foi à Justiça Estadual, na qual ainda não teve sentença.

Maciel não “debutou” na candidatura de Aprígio nas ruas, mas ao ser o mestre-de-cerimônias do ato em que Nóbrega anunciou apoio ao adversário de engenheiro Daniel (PSDB), curiosamente, no comitê do postulante derrotado. Reeleito, Ney – que tem como secretário de Esportes Anderson Nóbrega, irmão de Eduardo – deslocou a sua “tropa de choque” para eleger Aprígio, até as “meninas das bandeiras” que o seguiam na campanha em Embu.

Em 2018, ao atacar o prefeito Fernando Fernandes e a deputada estadual Analice Fernandes (ambos do PSDB), Ney disse que ia eleger o próximo prefeito de Taboão. Segundo o VERBO apurou, como parte do acordo para eleger Aprígio, Nóbrega seria candidato a deputado estadual em 2022 – com Ney, que abandonará a prefeitura para ser candidato a deputado federal. A aliança visaria impedir novo mandato de Analice na Assembleia Legislativa.

OUTRO LADO
Questionada pelo VERBO sobre qual o critério de Aprígio para contratar Cristiano Maciel, a assessoria disse que “o locutor foi pedir emprego para o Aprígio”. “Como havia acabado a campanha no Embu, ele se ofereceu, [e] nós não tínhamos um locutor profissional. Então, acertaram a contratação. Trata-se de um profissional autônomo e foi viável para a campanha. Posso enviar o contrato de trabalho, se quiser”, disse o jornalista Mario de Freitas.

A reportagem relatou que Maciel é réu por fraudes em licitações ao receber propina para Ney. A assessoria alegou desconhecer. “Não sabíamos disso… Para nós ele é um locutor profissional. Ele que resolva seus problemas com a Justiça. Para nós, ele trabalha como locutor, apenas. Se tiver algo que impeça o trabalho dele, será dispensado. Vamos encaminhar seu apontamento ao jurídico da campanha. Muito obrigado, pelo aviso”, finalizou Freitas.

VEJA DENÚNCIA DO MPF CONTRA NEY E ASSESSORES COMO MACIEL, LOCUTOR DA CAMPANHA DE APRÍGIO

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