Governo Ney repete ‘descaso’ e atrasa bolsa-auxílio dos estagiários da prefeitura

Especial para o VERBO ONLINE

Uma das escolas da rede municipal, onde estagiários da prefeitura trabalham; bolsistas não receberam no 5º dia útil; Ney em campanha à reeleição | Divulgação

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Em mais um episódio do descontrole nas finanças e caos administrativo em Embu das Artes, o governo do prefeito e candidato à reeleição Ney Santos (Republicanos) ainda não pagou os estagiários da prefeitura, que não ganham nem um salário mínimo (R$ 1.045). Com a pandemia da covid-19, os contratados trabalham remotamente e só recebem a bolsa-auxílio de R$ 750, sem valor do transporte, mas mesmo assim a gestão atrasa, não paga em dia.

Os estagiários deviam ter recebido nesta quinta-feira (8), quinto dia útil do mês – devido ao feriado municipal. Mas nada do dinheiro. Em mensagens de texto em um grupo, a que o VERBO teve acesso, os contratados – que recebem a bolsa por fazerem curso universitário – reclamam do atraso, em misto de desespero e indignação. “Acabei de tirar extrato e até agora nada do pagamento”, disse uma estagiária, com emoji de choro, nesta quinta.

“Nossa, como vou passar [na] faculdade”, disse outra estagiária, nesta quinta-feira. “Complicado, dependemos do dinheiro para pagar faculdade, meu Deus”, falou uma colega. “Se a gente não tem família e não nos viramos com outras formas de trabalhar passamos necessidades”, comentou uma terceira bolsista. “Eu ontem cheguei a passar mal por não ter o dinheiro da conta”, contou outra estagiária, na ilusão de que o valor ia cair na quarta-feira.

Os estagiários reclamaram que a bolsa atrasa, mas não recebem nenhum valor a mais, enquanto as contas vêm com acréscimo se não pagas no vencimento. “E correm juros, aí quando pagam vem fechado [R$] 750”, disse uma estagiária. “Nem fala, nunca vem 1 real de diferença, mais fácil vir faltando”, comentou uma colega. “Né, eles atrasam por esse motivo, porque não precisam pagar nada a mais caso atrasem”, completou outra contratada.

Apesar do atraso, na expectativa de receber nesta quinta-feira, os bolsistas decidiram cobrar. “O pior que você liga, eles atendem com ar de deboche, como se estivéssemos pedindo um favor”, disse uma contratada. Tiveram nova frustração, que gerou mais revolta. “Eu liguei na prefeitura e falaram que estão esperando a posição do governo”, informou outra estagiária, sobre contato na Secretaria de Gestão de Pessoas, chefiada por Ely Santos, irmã de Ney.

Os estagiários servem nas escolas. “Não acredito nesse papo de governo, a verba é liberada para Educação e o pagamento dos professores chega antes, todo dia 30, o dinheiro deles tá na conta, porque só o nosso que é sempre essa palhaçada? Ele [Ney] deve ter usado para campanha dele”, protestou uma bolsista. “Engraçado que dinheiro para campanha eleitoral e para fogos e outras coisas tem, agora o nosso dinheiro nada!”, criticou a colega.

“Pelo que vejo, estão gastando bastante”, fez coro outra estagiária da prefeitura. “Inclusive até onde eu sei estamos em pandemia. Os vereadores estão aqui batendo na porta”, comentou mais uma bolsista, sobre as restrições recaírem apenas sobre os bolsistas. “Eles estão gastando muito mesmo. E pagando o povo [apoiadores] com nosso dinheiro”, reforçou uma colega. “Precisamos é trocar esse governo, até quando vamos viver assim?”, completou.

Mesmo em casa, devido à pandemia, os estagiários da prefeitura têm atividades do trabalho para realizar, como elaborar jogos pedagógicos, inclusive chegam a ir aos colégios. “Hoje mesmo fui na escola levar jogos para dar para os alunos e eles não lembram que a gente existe”, disse uma estagiária. “Nem sequer paga a nossa condução, temos que tirar do bolso”, falou outra. “Eu também estou pagando para trabalhar”, salientou uma colega.

A reportagem conversou com duas estagiárias, que expressaram indignação. “É um descaso, muitas de nós, inclusive eu, dependemos somente desse dinheiro para pagar a faculdade, inclusive vence hoje [nesta sexta-feira] a mensalidade. Já é pouco e ainda ficam atrasando. Não estamos em casa sem fazer nada, estamos trabalhando, e quando contamos com o dinheiro na conta no quinto dia útil não tem. É uma palhaçada mesmo”, afirmou.

Não é a primeira vez que o governo deixa de pagar em dia os estagiários. “Faz mais de um ano quando começaram a atrasar nosso salário”, afirmou a bolsista. O VERBO mostrou o “descaso” em setembro do ano passado, noticiou que os contratados conviviam com atrasos desde maio, eram tratados como “escravos” e sofriam assédio moral de que tinham que ir trabalhar mesmo sem receber, senão seriam trocados. Eles protestaram na frente da prefeitura.

“É um absurdo, temos família, faculdade para pagar, contas, porque somos do bem e queremos honrar nossos compromissos, coisa que eles [políticos] não fazem. Já não recebemos um dinheiro alto – uma mãe de família se desdobra para se virar com R$ 750, ainda faltam coisas para pagar, o dinheiro não dá. Nem sobre a cesta básica pedida quando fomos na porta da prefeitura deram resposta”, disse a outra estagiária. Procurado, Ney silenciou.

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