ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Uma instalação do nascimento de Jesus antenada e em reflexão sobre fatos marcantes no país neste ano – três dramáticos, contrários à mensagem de vida e alegria do acontecimento-central de 25 de dezembro. O presépio de Natal da Paróquia São João Batista no Pirajuçara, em Taboão da Serra, além da cena bíblica, retrata a tragédia em Brumadinho (MG), o desastre ambiental das manchas de óleo no litoral brasileiro e as queimadas na Amazônia.
No fundo da igreja católica no Jardim Roberto, a cena ao redor das imagens de Maria, José e do menino Jesus, além de pastores e animais, traz à esquerda a representação da descida de uma montanha de rejeitos de minério em meio a vegetação soterrada, para lembrar uma estarrecedora notícia bem no início de 2019. Em 25 de janeiro, a barragem da Mina do Feijão, controlada pela Vale, rompeu e deixou 256 mortos – 14 pessoas ainda estão desaparecidas.
À direita, o presépio tem uma superfície azul e areia como oceano e orla, com marcas escuras e placas do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Em agosto, o litoral passou a registrar manchas de óleo no maior desastre ambiental da história na costa em termos de extensão – mais de 4 mil quilômetros. Cerca de 5 mil toneladas do óleo já foram retiradas dos 11 Estados atingidos.
O presépio traz também a imagem de Irmã Dulce (1914-1992), para marcar a canonização da freira baiana fundadora de hospital e outros serviços de atendimento aos pobres – ela foi tornada santa pelo papa Francisco em cerimônia em 13 de outubro no Vaticano. A representação retrata ainda as queimadas da Amazônia e o sínodo, assembleia de bispos que discutiu as dificuldades para a Igreja atender o povo da região, no âmbito espiritual, ambiental e social.
Os desenhos da descida da lama contaminada em Brumadinho, de Irmã Dulce, da floresta amazônica em chamas e da mancha de óleo ganharam forma por meio do grafite de Ricardo Caroço. “Foi um desafio que topei, foi diferente de tudo que costumo fazer no meu dia a dia. E foi tudo muito rápido, em um dia a paróquia me procurou, no dia seguinte tivemos uma reunião, e no outro recebi os materiais para iniciar o trabalho. Fiz em uma semana”, contou.
“A ideia do presépio foi retratar a nossa realidade atual. Tivemos [em Minas] um dos piores acidentes do país, muitos perderam a vida, e muitos se doaram em busca dos desaparecidos. Tivemos as queimadas na Amazônia e o óleo nas praias, mais de cem tartarugas morreram, além do Sínodo da Amazônia e da canonização da Irmã Dulce. Apesar das dificuldades e sofrimentos, o Natal de Jesus traz esperança em dias melhores”, disse o fiel José Carlos de Souza.
