ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que é inconstitucional a prisão após condenação em 2ª instância – sem esgotamento de recursos ou julgamento na última esfera judicial, o trânsito em julgado -, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi solto no fim da tarde desta sexta ao deixar a sala em que estava preso na Polícia Federal em Curitiba, mas as principais lideranças petistas em Embu das Artes evitaram celebrar em público.
Na internet, o ex-prefeito e ex-deputado Geraldo Cruz e a vereadora Rosângela Santos não se manifestaram sobre “Lula livre”. O VERBO contatou Geraldo e Rosângela e indagou como recebiam a soltura do ex-presidente, mas ambos não responderam. No dia 27 de outubro, Rosângela esteve em Curitiba, diante do prédio da PF. Ela postou um vídeo em que disse “estou aqui comemorando o aniversário do Lula”, mas depois apagou. Geraldo não falou a respeito.
Um morador de Embu – eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PSL) – criticou o silêncio de membros do partido sobre a soltura de Lula. “Petistas do Embu estão com medo? Medo de comemorar a liberdade do seu mestre nas redes sociais e se queimar na próxima eleição? Não adianta disfarçar, o povo não é mais tão inocente assim”, disse Ricardo Rick. Geraldo e Rosângela se declaram candidatos a prefeito de Embu em 2020 e disputam quem concorrerá pelo PT.
Lula fez o primeiro pronunciamento logo ao sair da prisão, ao subir em palanque para falar com cerca de 200 membros do PT e outros apoiadores, em que agradeceu a militância que permaneceu na capital paranaense durante os quase 19 meses em que esteve preso e atacou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. “580 dias gritaram aqui: ‘bom dia, Lula; boa tarde, Lula; boa noite, Lula. […] Todo santo dia, vocês eram o alimento da democracia”, disse.
Em seguida, Lula criticou membros da Lava Jato. “Trabalharam para tentar criminalizar a esquerda, o PT, o Lula. E eu não poderia ir embora daqui sem poder cumprimentar vocês [militantes]. Eu quero dizer para vocês que, se pegar o [Deltan] Dallagnol, se pegar o [Sergio] Moro, se pegar alguns delegados que fizeram o inquérito, enfiar um dentro do outro e bater no liquidificador, o que sobra não é 10% da honestidade que eu representou neste país”, discursou.
“Eles têm que saber que caráter e dignidade não é uma coisa que a gente compra em shopping center, não é uma coisa que a gente compra em feira, que a gente compra no bar. Eu adquiri tudo que tenho na vida de uma mulher que nasceu analfabeta, teve todos os filhos sem hospital, tudo com parteira, e me ensinou a ter dignidade. E morreu analfabeta. E é a dona Lindu, que me faz dizer para essa gente que tentou me condenar: saio daqui sem ódio”, falou.
Depois, Lula mirou Jair Bolsonaro. “Eu tenho é vontade de provar que esse país pode ser muito melhor na hora que ele não tiver um governo que minta tanto pelo Twitter como o Bolsonaro mente, que tenha coragem de conversar com o seu povo as soluções para os problemas do país. Gente, muito obrigado, do fundo do coração, obrigado. Eu não tenho como pagar a vocês a não ser dizer que serei eternamente grato e fiel à luta de vocês”, finalizou Lula, 74.
A decisão de soltura de Lula coube ao juiz Danilo Pereira Jr., da 12ª Vara Federal em Curitiba, que substitui Carolina Lebbos, responsável pelo execução da pena do petista – ela está em férias. Lula estava preso desde abril de 2018 pelo processo do tríplex no Guarujá (SP). A condenação, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, foi confirmada no STJ (Superior Tribunal de Justiça). O caso ainda será encaminhado ao STF. Neste sábado, Lula é aguardado em São Bernardo do Campo (SP), em ato no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em que deve fazer um pronunciamento.
