Ambientalista e crítico do governo de Embu, Cagnin morre aos 83 anos

Especial para o VERBO ONLINE

Professor Cagnin usa tribuna da Câmara para promover dia 18 de julho como nascimento de Embu

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO Online, em Embu das Artes

Defensor ferrenho da preservação do meio ambiente em Embu das Artes, crítico contumaz da política ambiental da administração municipal, ativo e participativo das discussões sobre os rumos da cidade, em que integrou comissões e conselhos municipais, preocupado em resgatar e valorizar a história e origens do município que adotou. Morreu na tarde desta terça-feira, dia 9, aos 83 anos, Antônio Luiz Cagnin, de infarto fulminante. Velado desde a noite, o corpo do professor Cagnin, como chamado com admiração, seria sepultado na manhã de hoje no cemitério da Paz, no Morumbi (zona sul).

Cagnin teve o ataque cardíaco durante compromisso do qual fazia questão, contribuir com o conhecimento acumulado em vida longeva em reuniões para transformação da cidade e da própria comunidade, como genuíno cidadão. Ele participava de uma reunião na UBS (unidade básica de saúde) no bairro onde morava, no Itatuba, na região oeste da cidade marcada pelo verde ainda preservado, causa a que se dedicava. De acordo com relatos de presentes, o professor estava bem até se emocionar no encontro, quando passou mal. Apesar das tentativas de ser reanimado, não resistiu.

Nascido em 13 de junho de 1930 em Araras, interior de São Paulo, Cagnin se lançou em Embu ao ativismo ecológico e esteve na luta pelo parque ecológico entre o Parque Pirajuçara e Santa Tereza, ou da mata do Roque Valente, desde 2001, e foi uma das principais vozes contrárias à revisão do Plano Diretor municipal, que o concebia como um fator de destruição ambiental – a nova lei foi aprovada mesmo sob protestos de ambientalistas. Ele se opôs também à construção da rodoviária da cidade, área de várzea que, de acordo com ele, era rica em biodiversidade e deveria permanecer intacta.

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Cagnin usa tribuna da Câmara há quase 4 meses para promover dia 18 de julho como aniversário de Embu

Cagnin teve participação ativa no Conselho do Meio Ambiente, “cenário” da oposição que fazia ao governo Chico Brito (PT). Em janeiro, após a reeleição do prefeito, ele escreveu longa e ruidosa carta que foi publicada em página inteira por um jornal da cidade, na qual questiona o petista sobre 19 pontos da administração ou da campanha. “Jamais o sr. respondeu aos meus 49 ofícios, protocolados, nos quatro anos de sua gestão, a despeito de ser prefeito, que tem por obrigação não só de responder, mas ‘empregar todos os meios a fim de que a informação se realize'”, dizia. O prefeito não se pronunciou.

Apesar dos recentes embates com o Executivo, Cagnin teve no passado importantes atuações em governos municipais, na gestão de Geraldo Puccini (1993-1996) e, inclusive, de Geraldo Gruz, também do PT, no primeiro mandato (2001-04). Já nos longíquos anos 1980, colaborara com a formulação de um governo democrático nos extertores da ditadura militar (1964-1985), e chegou a assessor de educação do governo Nivaldo Orlandi (1983-86). Fora da esfera do poder público, atuou para formação de importantes entidades de proteção ambiental e fundou a própria, a Ibioca – Nossa Casa na Terra.

“Por divergências com o governo, ele deixou a administração municipal, mas sempre lutou pelo meio ambiente e pela participação popular nas decisões, coisa que fez até o último instante de sua vida, no bairro de Itatuba, onde faleceu”, ressalta o jornalista e historiador Marcio Amendola, amigo de bandeira comum. Cagnin foi um entusiasta do chamado “aniversário histórico” de Embu, em 18 de julho, data de fundação em 1554 da Vila de M’Boy, origem da cidade. Em junho, ocupou a tribuna popular da Câmara de Vereadores para pedir à população e autoridades reconhecimento ao marco.

Com olhar sensível à cultura e à memória histórica, Cagnin se constituiu um acadêmico com formação aprimorada. Ele foi graduado pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (SP), no Vale do Paraíba, em 1958, mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo, em 1974 e 1980, respectivamente. De acordo com o site “Linhas Populares”, o ilustre morador de Embu das Artes foi um dos pioneiros no estudo sobre desenhos infantis (quadrinhos) no país ao se tornar pesquisador do patrono dos quadrinhos tupiniquins, Angelo Agostini (1843-1910), italiano radicado no Brasil.

Autor de “Cinquentenário da Revista ‘O Tico-Tico’ – Aspectos Históricos e Educativos” e “Os Quadrinhos”, “Cagnin foi homenageado em 2008 com o prêmio “Angelo Agostini”, de “resgate e reverência aos grandes artistas do quadrinho nacional”. “Além da luta local, ele era um brilhante professor da USP na área de cinema e quadrinhos, face pouco familiar aos embuenses. Fará uma grande falta nas lutas justas desta cidade que nem sempre é grata a seus filhos mais ilustres, como o professor Cagnin. Em nossos corações e mentes, deixará vazio imenso e permanente”, reverencia Amêndola.

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