ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE
Alvo de pesadas críticas de adversários históricos do PT, como o prefeito Fernando Fernandes (PSDB) e o vereador Eduardo Nóbrega (PR), de Taboão da Serra, por se opor à obra do Poupatempo na praça Luiz Gonzaga, o petista Geraldo Cruz passou a ter um oponente inusitado. O companheiro de partido e ex-secretário que fez sucessor na prefeitura de Embu das Artes, Chico Brito, disse ser favorável à instalação do equipamento no espaço no Pirajuçara. “Hoje, aquilo é um pedaço de cimento, não dá nem para chamar de praça”, disse Chico, segundo o “Jornal na Net”. Ele ainda adotou o discurso de que o local será revitalizado e que “existem várias experiências assim, inclusive no Embu”.
“Não tem nenhuma experiência. No Embu, onde estamos [PT] governando há 13 anos, nunca colocamos um equipamento para tirar outro, a nossa linha é sempre fazer mais um para a comunidade”, reagiu Geraldo, deputado estadual. Indagado sobre a afirmação partir de quem governa a cidade, ele retrucou: “Mas deve estar falando de outro Embu, ele é o prefeito, mas também pode falar bobagem”. Chico – que iniciou militância política em Taboão – se limitou a responder que, “como presidente do Conisud e representante das oito cidades do consórcio, confirma que os prefeitos do Conisud são favoráveis à vinda do Poupatempo para a nossa região”. Leia “Entrevista da Semana”.
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VERBO ONLINE – Chico Brito afirmou que é a favor do Poupatempo na praça Luiz Gonzaga. Disse que o equipamento não vai ocupar toda a praça, e que ela é um pedaço de cimento, não dá nem para chamar de praça. O que acha?
GERALDO CRUZ – Eu nunca discuti com o Chico sobre a questão. O meu posicionamento é de que a população para ter um benefício não precisa abrir mão de outro, a praça é importante como espaço de lazer para a comunidade, como o Poupatempo também é fundamental para a população. Agora, continuo afirmando que o Poupatempo, onde está sendo instalado, é mal localizado, além de ocupar um espaço público do povo de Taboão, é muito ruim de acesso para os moradores de Embu-Guaçu, de Itapecerica da Serra. Quanto a Embu, é bom para uma região, mas para a outra, não. A pessoa que sair da região do Engenho Velho [bairro na área central] vai ter que pegar duas conduções, que sair de Juquitiba e Itapecerica, também terá que pegar duas conduções, ou até três, dependendo de onde mora – então, é melhor ir para Santo Amaro. Não vale a pena para um equipamento regional. Se o [governo do] Estado tivesse boa vontade e um olhar mais criterioso, escolheria, por exemplo, um prédio do Estado que vai ficar ocioso, já está construído.
VERBO – Onde seria esse prédio?
GERALDO – Perto da BR [rodovia Régis Bittencourt], onde hoje é a Prodesp, que está saindo, não vai ficar mais lá, é um prédio do Estado onde podia ser instalado o Poupatempo e até outros serviços públicos, com fácil acesso aos outros municípios. Desse jeito, não estão facilitando nada para a população. Além de fazer o município perder um espaço de lazer, também não estão oferecendo condição para ser um órgão regional. Pode ser o Chico, quem for, quem estiver pensando assim está equivocado.
VERBO – Ao VERBO, o sr. já disse que a prefeitura de Taboão deveria seguir o modelo do governo de Embu. Mas Chico Brito disse que existem várias experiências assim [ocupar praça com equipamento], inclusive em Embu.
GERALDO – Como é?!
VERBO – Ele disse, em defesa do projeto do governo Fernando Fernandes, que a praça Luiz Gonzaga deverá ser reurbanizada após a instalação do Poupatempo, com a inclusão de árvores, jardim, bancos e academia público, e afirmou que existem várias experiências assim, inclusive em Embu.
GERALDO – Não tem nenhuma experiência [assim] em Embu! A única foi construir uma escola na praça, mas não ocupou [toda] a praça, caso do Valdelice [Prass], mas a praça continua, não tem nada no Embu que foi ocupado para fazer equipamento comunitário. E as praças em Embu estão hoje bem equipadas, com espaço de lazer para a comunidade. Tem no Parque Pirajuçara, tem aqui no Jardim Independência, onde, se for lá agora, alguns estão fazendo ginástica, e outros, jogando dominó, sentados lá nos bancos, e batendo papo. Isso tem.
VERBO – Agora, ele é o prefeito…
GERALDO – Mas ele deve estar falando de outro Embu, ele é o prefeito, mas também pode falar bobagem. Mais do que ele, mais do que o Fernando [Fernandes] ou qualquer outro, eu sou favorável ao Poupatempo como equipamento público. A minha crítica é por conta de que a população não pode, para ter um equipamento que é direito seu, abrir mão de outro. Fernando disse em uma entrevista que vai urbanizar, mas a construção está pegando mais da metade da praça. Mas se falam que lá é só concreto, é outra discussão: está faltando manutenção, está faltando o governo de Taboão fazer uma praça de verdade para a comunidade, e não justificar acabar com a praça com o Poupatempo. Repito: sou favorável número 1 ao Poupatempo, tanto que fiz gestão junto ao governo do Estado desde 2001, quando assumi a prefeitura [de Embu], e desde 2002 quando fundamos o Conisud, há documentos lá dos [então] seis prefeitos. Agora, não precisa ser na praça, e estou indicando uma área que vai ficar ociosa. O que o Estado vai fazer com o prédio que a Prodesp vai deixar, será que o Poupatempo ali não ficava melhor localizado? Querem fazer um equipamento igual ao INSS [no Jardim Helena, em Taboão – do governo federal, do PT, em parceria com a administração municipal PSB-PT], com dificuldade para o pessoal do Embu, que não tem ônibus [direto] para ir para lá. Está errado! Tem que criar os equipamentos, mas tem que dar acesso à população.
VERBO – Acredita que com o posicionamento Chico busque fazer com o que Fernando Fernandes volte a fazer parte das reuniões, das lutas do Conisud, uma vez que o prefeito de Taboão dizia não ser possível integração com lideranças petistas da região contra um projeto da cidade [o Poupatempo na praça Luiz Gonzaga]?
Geraldo – Não sei o que o Chico está pensando, sei que o que ele está falando não é verdade, só isso. Ele nem conhece o projeto, Fernando falou que vai ter uma praça, mas, da forma que está construindo o Poupatempo, vai acabar mais da metade da praça, e está fazendo num local que não tem espaço para estacionamento. E eu estou dando uma dica para ele que tem uma área que é do Estado, e não precisaria gastar o que está gastando lá no Pirajuçara, poderia urbanizar aquela praça, deixá-la decente para a comunidade usar, com equipamentos de lazer.
VERBO – Pretende conversar com o Chico para que ele reveja a posição?
Geraldo – Não. O Chico é livre para dar opinião, como eu sou. Digo que não conheço essa situação no Embu, e olha que eu conheço Embu melhor do que qualquer um deles, bairro por bairro, rua por rua. No Embu, onde estamos [PT] governando há 13 anos, nunca colocamos um equipamento para tirar outro, a nossa linha é sempre de fazer mais um para a comunidade. No caso do [da escola] Valdelice [Prass], construí na praça, mas não diminuí, pelo contrário, aumentei, urbanizei e coloquei outros equipamentos que não tinha lá, antes era só concreto.
VERBO – A posição de Chico Brito o surpreende?
Geraldo – Sinceramente, acho estranho.
VERBO – Por quê?
Geraldo – É estranho ele falar que em Embu também tem isso [ocupar área para instalar equipamento]. Não, não tem. Temos aqui, inclusive, poucas praças. Também no [Jardim] Dom José, construímos um campo e fizemos uma praça que não tinha. Eu vou ter que ver onde foi que ele construiu, ou alguém da administração, construiu algo em cima de uma praça que a população já tivesse como espaço de lazer.
VERBO – Vereadores do PT de Embu já disseram que são a favor do Poupatempo na praça [Luiz Gonzaga], e agora vem o prefeito Chico dizer que também apoia. O sr. é o único petista da cidade contra?
Geraldo – Nenhum falou isso para mim. Veja, antes de escrever um artigo [a respeito], antes de ir a uma manifestação do PT de Taboão, eu fui verificar indo ao local e, conhecendo o objetivo do Poupatempo, penso que o prefeito de Taboão está cometendo um equívoco muito grande, e o governador também. Agora, o Chico não é obrigado a pensar como eu, nem os vereadores, embora sejam do meu partido. Não tenho nenhuma dificuldade de compreender que eles pensem diferente de mim, eles pensam mesmo diferente, não é em tudo que pensamos igual. [Agora] Nós temos uma linha ideológica igual, pensamos muitos projetos sociais, políticas públicas de forma igual, porém em determinados assuntos podemos ter divergência, como é o caso.
VERBO – O PT é tido como um partido com lideranças que têm um discurso afinado. O que aconteceu dessa vez?
Geraldo – Temos um discurso afinado sobre aquilo que o partido é obrigado a se posicionar. Vamos dizer que o PT fechasse questão e dissesse que é importante ocupar a praça para fazer o Poupatempo, eu ia respeitar a decisão, mas ia dizer que seria contra. E digo hoje que a minha posição, eu, Geraldo Cruz, como deputado estadual, liderança política regional, é de que a população, para ter direito a receber um equipamento, não precisa perder outro. Isso é um absurdo. É abuso de poder econômico gastar dinheiro desnecessariamente, com o que está sendo gasto poderia se reformar a praça, e adaptar a sede de onde funciona o Prodesp para funcionar o Poupatempo, que ficaria em melhor localização e gastaria menos. Se alguém for contra minha posição, paciência. Ainda pegando Embu como modelo, quando construí o Valdelice, era lá [no espaço] a sede da Associação Amigos de Bairro [do Parque Pirajuçara]. Tive que ocupar para construir a escola, e logo ao lado eu consegui uma nova sede para a associação. Há hoje lá a associação e a escola com quadra… É possível fazer.
VERBO – O PT de Embu abandonou o PT de Taboão, que é contra o Poupatempo na praça?
Geraldo – Não. O PT de Embu não tomou posicionamento nenhum, nem se falou nada em nome do PT, se alguém deu alguma declaração, falou em nome próprio.
VERBO – O presidente reeleito do PT [vereador João Leite] e Chico Brito são a favor…
Geraldo – Mas, se essa discussão for feita no diretório do PT, eles podem perder. Essa é uma posição deles como militantes, não é do PT. O Chico está falando enquanto presidente do Conisud.
VERBO – A questão do Poupatempo o coloca mais uma vez em campo oposto ao de Chico Brito, que apoiou outro candidato a presidente do partido…
Geraldo – O candidato que eu apoiei [Helton Rodrigues, ex-secretário municipal de Geraldo e Chico] foi o que o Chico lançou, ele mudou de ideia nos últimos 20 dias, não sei por que, não conversei com ele para saber. Eu não mudei, continuei apoiando o mesmo. Agora, sempre houve disputa interna no PT, é natural e saudável, às vezes eu apoio um candidato, e ele, outro, não quer dizer que é uma disputa acirrada. Não se trata de que o Chico ganhou e eu perdi, a minha chapa fez 54% do diretório, as outras duas juntas, que eram do governo e que apoiavam o outro candidato [João Leite], tiveram menos [votos] que a minha. O candidato a presidente que eu apoiei não ganhou, ganhou quem ele apoiou, mas não era uma disputa entre eu e ele, eu não era candidato nem ele. Em relação ao Poupatempo, é um posicionamento isolado de cada um, o PT de Taboão foi para a rua defendendo o Poupatempo e contra o local [para ser instalado], eu apoiei a decisão do diretório de lá, apoiei e apoio, tendo em vista que não acho necessário que a população tenha que abrir mão de um equipamento para ter outro.
VERBO – O sr. pode rever sua posição?
Geraldo – Não, não, de jeito nenhum, não tem como recuar! Minha posição não foi tomada por impulso, mas fruto de visão administrativa e voltada ao interesse público. Sou contra que enfiem goela abaixo da população, fazendo com que perca um espaço de lazer.