ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Dezenas de casas foram atingidas por enchente após chuva forte na tarde desta terça-feira de Carnaval, dia 4, no Jardim Scândia, região do Pirajuçara, em Taboão da Serra. Os imóveis mais afetados ficam sobre o córrego Ponte Alta, que transbordou para dentro de cômodos e fez as famílias perderem eletrodomésticos, móveis, roupas e até um automóvel. Revoltados, os moradores fizeram barricada com pertences inutilizados e bloquearam a avenida Cid Nelson Jordano.
Na rua Vicente Pires dos Santos – via da quadra seguinte -, com correnteza do córrego sob o imóvel, o piso da cozinha da residência de nº 802A se levantou com a força da enxurrada, que ainda rachou as paredes. “A pressão foi tão forte que levei um susto. Sempre tem enchente aqui, mas a de ontem foi demais da conta”, disse a dona de casa Gilene dos Santos, 65, viúva que mora com cinco filhos, um com deficiência intelectual. “Ele ficou agoniado quando viu tanta água”, contou.
Calçados encharcados forravam a entrada da casa do jardineiro Ricardo da Silva, 39, que teve ainda o Fusca na garagem invadido pela água. “Perdi meu carro”, disse indignado. Com dois filhos sob um teto, a dona de casa Alaide Ribeiro, 44, pisava insegura ao lado de beliche molhada. “O chão do quarto está rachado”, disse. A enchente estufou um pedaço de concreto na frente do imóvel da dona de casa Avani Fontes, 47, que teve outro dano. “Trincou o piso do quintal”, indicou.
Também alagada, a rua paralela com sentido bairro, a Vicente Leporace, virou um rio após o temporal de 40 minutos. Um morador chegou a nadar na água escura. “Quando estou em casa, suspendo as coisas e consigo salvar, mas não é o primeiro sofá que perco”, disse ao VERBO a doméstica Elilda Nunes, 46, por telefone, do trabalho. “Sou de Natal, vim passar o Carnaval com ela e meu cunhado, e fiquei horrorizada pelo que houve aqui”, falou a esteticista Cilene Santos, 40.
Os moradores acusam que enchentes ficaram frequentes depois que a Sabesp ligou rede de água após construção de uma quadra do outro lado da rua na mesma tubulação de chuva e a vasão diminuiu. “É sempre promessa de resolver e nunca resolvem”, disse o montador de elevador Clécio Machado, 25, em cubículo com a filha de 3 anos. “Sai prefeito, entra prefeito, e fica do mesmo jeito”, criticou o frentista Severino Torres, 50, ao dizer que “teve outra cheia não faz nem 15 dias”.
Em repetição do transtorno sem fim que enfrentam no município que não consegue prevenir enchentes, os moradores ainda retiravam água suja e lama de casa na manhã desta quarta-feira. Eles protestaram com o bloqueio do trânsito por 5 horas, diante da chamada “quadra do Eloi”, referência a ex-vereador. Falavam que o “enxame de gente da prefeitura” só apareceu devido à forte reação da população. Cerca dez viaturas da Guarda Municipal e da Defesa Civil chegaram ao local.
A secretária Arlete Silva (Assistência Social) e equipe distribuíram colchões, água e lanches. “Trouxeram pão com guaraná para tapear trouxa. São cinco enchentes só neste ano. Na política [durante campanha eleitoral], vem todo mundo pedindo voto”, esbravejou Almerinda da Silva. Em negociação para desbloqueio da via, o governo municipal aceitou receber uma comissão de moradores na prefeitura para discutir a situação das famílias, em reunião que ocorreria à tarde.
“Tem que fazer um rasgo no asfalto para consertarem. Não consertou, arrebenta de novo. Após a obra, a água invadiu as casas em mais de um metro de altura”, falou indignado o segurança Ailton Gomes, 47, irmão de morador e que já ocupou o imóvel. “Ontem a coisa foi feia”, resumiu a dona de casa Patrícia Brito, 27. “Tem que tirar a gente daqui, é área de risco, o córrego passa aqui embaixo da nossa casa e dos outros”, apelou a dona de casa Regina Célia Soares, 41, com oito filhos.
No fim da manhã, a Defesa Civil visitou e fotografou casas afetadas, que chegam a 35. Em um imóvel, o coordenador Mário Gomes disse à moradora que ela, o marido e o filho de 2 anos não podem mais habitar os dois cômodos, “um porão”, devem procurar “um lugar mais alto”. O local foi interditado. “Concordar, não concordo, aqui era uma moradia da gente. A prefeitura é responsável, eles falam que vem e nunca arrumam [tubulação]”, disse a dona de casa Cristiane Alencar, 20.
COLÉGIO
Na esquina com rua Mário Nisticó, um colégio de educação infantil e ensino fundamental com 350 alunos teve cantina e banheiros tomados pela lama. “Brotou esgoto pelo ralo, a água atingiu o segundo degrau da escada para o andar superior, fiquei ilhada”, disse a assistente financeira Adélia Russo, 53. “Fosse um dia normal de aula seria um transtorno. Notificamos a prefeitura por outras enchentes, mas não tivemos nenhum respaldo”, disse a vice-diretora Aldení de Sousa, 43.
Agradecemos a prontidão e direito a voz que nos deu o Jornalista Adilson Oliveira através do Jornal Verbo, em momentos como esse nem sempre somos ouvidos e nos sentimos fragilizados e desamparados. Bom trabalho!
Nota da Redação – Agradecemos pela colaboração em ajudar o VERBO a informar. À disposição.