Igreja puniu Jaime, mas fez ‘vista grossa’ a padres apoiadores de candidatos de Ney

Especial para o VERBO ONLINE

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Admirado em Embu das Artes – onde iniciou a organização da população para lutar por direitos básicos e abriu o vasto trabalho social pelo qual é reconhecido no país – mesmo depois de 30 anos que deixou a cidade, o padre Jaime Crowe recebeu advertência pública da Igreja Católica por dar apoio ao presidenciável Fernando Haddad (PT). Atuais padres de Embu, porém, pediram abertamente voto em candidatos apoiados pelo prefeito Ney Santos (PRB) e foram poupados.

Pe. Jaime cumprimenta Haddad na missa;
Padre Jaime saúda Haddad na missa; padres Manfredo e Rubens com Ney no palanque em apoio a Hugo e Ely
Padre Antônio Rubens
Padre Rubens ‘recomenda’ voto em Hugo; pároco da S. Otília e padre Marcelinho gravam vídeo pró-candidato

No dia 12 de outubro, na missa de Nossa Senhora Aparecida com a presença de Haddad, na Paróquia Santos Mártires no Jardim Ângela, periferia da zona sul de São Paulo, da qual é o pároco, Jaime criticou a proposta do então candidato e hoje presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) de armar a população. “Como chegamos aonde chegamos? Alguém dizer para nós: tem que armar todo mundo. Arma é instrumento de morte. O cristão tem que ser da vida”, pregou.

Jaime não citou o nome do capitão reformado ao condenar a ideia. Ele também pediu à assembleia que repetisse três vezes “Senhor, que a paz reine neste país”. Jaime se dirigiu aos fiéis como “companheiras e companheiros”, saudou a presença de Haddad e da candidata a vice Manuela D’Ávila e destacou que Haddad e a mulher, Ana Estela, também presente, completaram recentemente 30 anos de casados. “Nos sentimos honrados com a presença de vocês”, falou.

Após a missa, Haddad fez um rápido discurso na escadaria da igreja aos fiéis que permaneceram, concentrados na rua. Ele se comprometeu a seguir os princípios colocados pela Igreja para os candidatos. “Preservar a vida, combater a violência e a corrupção, preservar o meio ambiente e garantir a democracia”, disse. Em seguida, também ao microfone, Jaime, já sem batina, pediu votos em Haddad. “É 13. Agora, cada um de nós temos que ser um cabo eleitoral”, disse.

A “O Estado de S. Paulo”, Jaime explicou ter “toda uma história de estar junto com candidatos populares”. Questionado se na missa costuma pedir aos fiéis votos em candidatos, respondeu: “Na missa, não”. Jaime sempre se colocou contra armar a população. Em 1996, quando o Ângela era o bairro mais violento do mundo, ele idealizou um fórum com 200 entidades para enfrentar a violência e a caminhada pela vida e pela paz, realizada neste Dia de Finados até hoje.

Contudo, no dia seguinte, a Diocese de Campo Limpo (Igreja Católica na região), à qual Jaime é subordinado, emitiu nota, “diante das repercussões da visita” de Haddad, em que advertiu o padre. “[…] Esclarecemos que a orientação de nosso Bispo Diocesano, D. Luiz Antônio Guedes, é que nenhum clérigo (padre ou diácono) que exerce seu ofício nesta Diocese deve se utilizar da celebração litúrgica, ou de qualquer ato de culto, com finalidades político-partidárias”, disse.

“O sacerdote responsável pelo evento em tela, Pe. Jaime Crowe, praticou esse ato sem prévia comunicação e à revelia do sr. Bispo de Campo Limpo, e foi devidamente advertido segundo as normas do Direito Canônico”, disse a nota (com termos jurídicos), assinada pelo assessor de Comunicação, padre Rodrigo Antonio da Silva, e pela assessora de imprensa, Andrea Rodrigues. Apesar de ser o superior hierárquico de Jaime e ser evocado na nota, o bispo não assinou.

No entanto, a diocese não seguiu o ensinamento bíblico de não fazer “acepção de pessoas”. Em Embu, os padres Manfredo dos Santos e Antonio Rubens ocuparam palanque e manifestaram apoio aos candidatos lançados por Ney, Ely Santos (PRB), a deputada federal, e Hugo Prado (PSB), a estadual. Rubens pediu voto em Hugo em rede social, e ele e também o padre Marcelo (Marcelinho) dos Santos chegaram ainda a gravar um vídeo para a campanha de Hugo.

Questionado pelo VERBO se os padres de Embu tinham sido advertidos a exemplo de Jaime, padre Rodrigo admitiu que não, mas não explicou o tratamento diferente. “Não foram advertidos, até onde tenho conhecimento. Lembro que já existe uma orientação normativa emitida pelo bispo por ocasião das eleições municipais de 2016, porém é bastante perceptível que não há um número considerável de clérigos que não fazem questão de observar a orientação”, disse.

O VERBO questionou por que só Jaime foi advertido, e por escrito. Rodrigo não respondeu mais. Acontece que dois dias antes da missa com Haddad, a reportagem enviou a Rodrigo o vídeo de Marcelinho e Antonio Rubens em apoio a Hugo. “Pois é, aqui recebemos algumas mensagens de reclamação sobre as postagens dele. Muito infeliz”, afirmou. “Vamos encaminhar as mensagens ao bispo. Demos uma resposta, mas queremos que dom Luiz se expresse”, finalizou.

Jaime foi criticado, mas recebeu muitas mensagens de solidariedade, inclusive de moradores de Embu ajudados pelo padre. Ele soltou no dia 15 uma nota, coassinada por dois colegas padres, em que disse que na véspera do dia 12, “por escolha da assessoria do candidato”, foi avisado que Haddad ia à missa e que o culto ocorreu “sem nenhuma alteração litúrgica nem ato político conforme a nota publicada pela Diocese”. Ressaltou que os discursos foram após a missa.

“Após o encerramento da Missa Solene, com os presentes já fora da igreja, o candidato, sua esposa e a candidata a vice-presidente saudaram os presentes onde o candidato reafirmou o compromisso assumido no dia anterior junto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. […] Nos sentimos em comunhão com a Igreja do Brasil, que também acolheu candidatos ao Governo de São Paulo na Basílica de Aparecida e no Santuário de São Judas Tadeu”, declarou.

> LEIA NOTA DA DIOCESE DE CAMPO LIMPO COM ADVERTÊNCIA AO PADRE JAIME SOBRE MISSA COM HADDAD
> LEIA NOTA EM QUE PADRE JAIME CROWE SE DEFENDE DAS ACUSAÇÕES SOBRE CELEBRAÇÃO COM HADDAD

LEIA NORMA DA DIOCESE DE CAMPO LIMPO (IGREJA CATÓLICA) QUE PROÍBE APOIO DE PADRES A CANDIDATOS
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