ADILSON OLIVEIRA
GABRIEL BINHO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Um equipamento símbolo de unidade de ensino modelo para Embu das Artes e até para o país, como propalado ao ser inaugurada há 13 anos na periferia da cidade, é hoje o retrato do abandono e descaso com o dinheiro público e direito da população de ter uma opção de lazer. A piscina da escola municipal Professor Paulo Freire, no Jardim Santa Emília, está inutilizável, totalmente deteriorada e degradada, com muita sujeira e piso danificado, há pelo menos dois anos.
O péssimo estado de conservação destoa de quando a piscina foi entregue aos moradores, no dia 14 de maio de 2005, em clima de festa, que atraiu milhares de pessoas que assistiram a musicais de alunos, show de bandas e partida de basquete com pessoas com deficiência, e reuniu o cientista social Lutergardis Freire, filho de Paulo Freire (1921-97), e a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, que teve Freire como secretário de Educação (1989-1991).
Moradores que frequentam a escola só lamentam a piscina largada. “Está horrível, né? Vazia, toda quebrada. É feia a situação”, disse o segurança Fernando Dias, 29, que não entende como não foi recuperada. “O que nos passaram foi que o encanamento está quebrado. Tanto dinheiro que o governo [prefeitura] tem e não pode com um encanamento, pode desistir. É o sonho do pobre desfeito, quando não é a piscina, é o campo, uma quadra sem poder usar”, reclamou.
Também vizinho à escola, o jardineiro Ronny Gomes disse que “faz tempo” que a piscina é alvo de falta de zelo. “Já tem dois anos ou mais que está nesta situação, tudo quebrado, sem estrutura nenhuma, as crianças querem nadar, mas não dá para utilizar. Podia ter exercícios [hidroginástica], mas sem condições. Gastaram e tudo mais e deixaram desleixado. Só dinheiro gasto, porque foi dinheiro aí. Tem que ter melhora, aqui tem bastante criança”, disse Ronny, 28.
O VERBO esteve três vezes na escola neste ano para ver o estado da piscina, a primeira em março, a pedido de um leitor. “Gostaria de sugerir uma matéria sobre a piscina do colégio Paulo Freire, que está abandonada, e saber de algum representante do governo se existe algum projeto para ela”, escreveu o morador Ricardo Rick. A reportagem voltou em maio e há uma semana. Nenhum sinal de reforma. Um vídeo na internet mostra a piscina sendo usada, mas em 2013.
Quando inaugurou a unidade escolar com a “inovação” da piscina, ainda a única pública em Embu, o então prefeito Geraldo Cruz (PT), hoje deputado estadual, disse, conforme notícia da prefeitura à época, que “poderia ser mais uma escola, temos mais de 100 no município, mas estamos inaugurando uma escola de qualidade para quem nela vai estudar e trabalhar”. “Esta é uma escola-modelo não apenas para Embu, mas para qualquer lugar do Brasil”, declarou.
Geraldo não poupa o atual governo, de Ney Santos (PRB). “É um crime deixar um equipamento público se deteriorar, e dentro de uma escola modelo e numa comunidade carente. Poderia estar sendo usado pela terceira idade, para exercício, coisa barata para o município. Custa muito mais estar daquele jeito, ninguém usando algo feito com muito carinho e determinação”, disse. A piscina deixou de funcionar, porém, na gestão Chico Brito (PT até abril de 2016).
OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, Chico disse que suspendeu o funcionamento da piscina por causa do vandalismo. “Em minha gestão, ela foi reformada e implantamos um programa aberto tanto para as crianças da escola como abrimos vagas a crianças e adolescentes do [programa] ‘Esporte Cidadão’. A piscina do Paulo Freire, infelizmente, sempre foi alvo de ações de marmanjos que vinham de bairros de São Paulo e aos fins de semana invadiam, depredando o local. Apenas no fim do mandato suspendemos as atividades, pois se intensificaram as ações de detonação do espaço”, afirmou.
A reportagem contatou também os secretários Pedro Angelo (Educação) e Anderson Nóbrega (Esportes), por duas vezes. Na primeira, em julho, “bateram cabeça”. “Apesar dessa piscina estar adjacente à escola, ela não faz parte da [Secretaria de] Educação. Sei que é uma das prioridades do governo a recuperação, mas não podemos e nem dispomos de recursos na Educação para tal obra”, disse Pedro Angelo. “A piscina está com a escola, na Secretaria de Educação agora, não está ligada ao [à pasta do] Esporte mais, a Educação que está tomando conta”, falou, por sua vez, Anderson.
Na semana passada, procurados de novo pelo VERBO, os secretários voltaram a “trombar”, mas falaram em reforma. “O [repórter] Binho já havia me questionado umas duas ocasiões e eu havia informado que a piscina não é um equipamento do Paulo Freire [da Educação], é do Esporte, e estavam com planejamento de reforma. Provavelmente, ela deve entrar no orçamento de 2019 agora. Estou falando, mas sem tanto conhecimento das particularidades da Secretaria de Esportes, falo pelo que conversamos algumas vezes [reuniões entre secretarias]”, afirmou Pedro Angelo.
Anderson voltou a indicar que o equipamento é mais de responsabilidade da Educação, mas falou que fez vistoria. Porém, ele não disse que o recurso já estará reservado no orçamento. “Eu fui lá visitar. Ela tem que ser totalmente reformada. Tem um projeto em vista, mas não deixar aberta daquela forma, tem que ser mais organizada [a utilização], mais regrada. Mas está tendo estudo, sim. Aí é buscar recurso para começar. Como é final de ano agora, talvez no início do ano que vem, em fevereiro, a gente comece a mexer. É importantíssimo a cidade ter uma piscina pública”, disse.
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