ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
A ex-secretária de Embu das Artes Ely Santos (PRB), irmã do prefeito afastado Ney Santos (PRB), teve a candidatura a deputada federal confirmada pela Justiça Eleitoral, apesar de fichada pelo Gaeco (grupo do Ministério Público de combate ao crime organizado). Ely declarou R$ 157.611,45 em bens, quatro no total (um carro, aplicação financeira, participação em sociedade e uma casa, em Taboão da Serra). Ela estipulou gastar até R$ 2,5 milhões na campanha.
Ely – batizada Eliane de Sousa Alves Machado – celebrou no dia 1º o deferimento da candidatura com uma postagem em rede social em que se diz “ficha limpa”. Porém, não é bem assim. Ela é ré no mesmo processo a que Ney responde, denunciado pelo grupo especial do MP por associação a facção criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. Diante da ordem de prisão, Ney ficou foragido 60 dias, enquanto Ely e outras seis pessoas, também rés, foram presas.
Em dezembro de 2016, o desembargador Hermann Herschander, do Tribunal de Justiça paulista, negou habeas corpus a Ney, Ely e demais 12 réus: “Os autos parecem efetivamente indicar que desde data já distante, até o presente, o paciente Claudinei, contando com o concurso dos demais pacientes e corréus, capitaneia sofisticada organização criminosa, que lavou e continua lavando expressivas somas em dinheiro proveniente do tráfico de entorpecentes”.
“A denúncia, apontando os elementos coligidos nesse sentido, refere numerosas indicações do envolvimento de Claudinei com o tráfico de entorpecentes; a par disso, ela relata que esse réu, contando com o concurso dos demais acusados, constitui numerosas empresas sobretudo postos de combustíveis que ocultavam e ainda ocultam a origem ilícita do dinheiro proveniente da droga”, disse ainda o desembargador, em relatório sempre com teor contundente.
“Sempre com o intuito de disfarçar a proveniência ilícita do dinheiro empregado nesses estabelecimentos em valores muito superiores aos seus ganhos comprovados, Claudinei valeu-se da colaboração dos demais pacientes e corréus, que emprestaram seus nomes para formação de fictícias sociedades”, frisou. Ele acusou “o impressionante número de estabelecimentos comerciais criados; a guarda de vultosas quantias em espécie; o alto valor dos bens apreendidos”.
“Tudo refere, de forma eloquente, a alta gravidade concreta dos fatos; esta, de si, traduz a periculosidade de seus autores e partícipes. Some-se a tudo isso a circunstância de, embora estar sendo investigada há anos, a organização ainda manter em funcionamento até o presente, em postos de gasolina ativos, a máquina de lavar por ela estabelecida”, observou o desembargador, ao decidir pelo indeferimento da liminar e manutenção da ordem de prisão.
Em fevereiro de 2017, Ney, Ely e os demais 12 foram beneficiados por um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Melo. Ney reapareceu e assumiu a prefeitura. Ely foi solta e virou secretária. A liminar só possibilitou que os réus não ficassem presos, não significa que foram inocentados. Sem o julgamento do mérito, Ely, no caso, se não é culpada, também não pode ser considerada “ficha limpa”, apontam eleitores de Embu.
O réu Ney, empossado prefeito, só poderá ser julgado pelo TJ. A estratégia seria mesma com Ely. Eleita, terá foro privilegiado e só responderá ao processo no STF. Na ficha do Gaeco, Ely surge com quatro nomes, dois RGs e dois CPFs diferentes. “Tecnicamente, ela não se enquadra na lei da Ficha Limpa. Mas é ré em processos por crimes gravíssimos. Tem que dar satisfações ao eleitor”, disse um jurista ouvido pela reportagem. Procurada pelo VERBO, ela silenciou.
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