RÔMULO FERREIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Filiados ao PT demitidos do governo petista de Embu das Artes tomaram medida extrema e pedem à direção nacional do partido “intervenção” contra as exonerações assinadas e o que chamam de “perseguição política” por parte do prefeito Chico Brito, em novo capítulo da “guerra” interna da sigla na cidade – cada vez mais pública – após a briga política dos antigos “amigos” e hoje desafetos declarados, Chico e o deputado Geraldo Cruz, a quem são ligados os dispensados.
Chico ordenou as demissões após alegar ter sido vaiado em convenção que lançou como candidato do PT ao governo do Estado o ex-ministro Alexandre Padilha, de cuja campanha é um dos coordenadores. Demitidos citam o ato, no dia 15 de junho, e abordam a polêmica em uma carta ao presidente nacional Rui Falcão e ainda ao presidente estadual Emídio de Souza, em relato com riqueza de detalhes – que chamam de “fatos” – com potencial de criar forte mal estar entre petistas.
“No dia 16/6, o prefeito convocou para uma conversa em seu gabinete os funcionários: Helton Rodrigues, José Geraldo Ferreira Pereira, Ivone Bárbara, Vanessa Almeida Lima, José Reinaldo Morais. Iniciou a conversa indagando quem daquelas pessoas havia participado da convenção. Do grupo, ninguém havia participado do evento. Indagou então se tinham ficado sabendo que ele, prefeito da cidade, tinha sido vaiado. O grupo disse que não”, relata a carta, à qual o VERBO teve acesso.
“O prefeito afirmou ter sido vaiado por um longo tempo, comparou-se à presidente Dilma [Rousseff] em relação ao episódio do Itaquerão [xingamentos na abertura da Copa] e, por fim, falou que gostaria de receber uma retratação, caso contrário, ‘ele poderia endurecer as coisas'”, continua a carta. Ela relata ainda que no dia 18 de junho Chico e o deputado se encontraram em um evento público e conversaram, mas Geraldo “informou que não tinha presenciado as vaias”.
Geraldo disse, porém, segundo a carta, “que soube que alguns filiados, demitidos da prefeitura em virtude das disputas do PED [eleições do PT em 2013] (…), tentaram manifestar-se, mas foram prontamente contidos por assessores de seu gabinete”. “No dia 18/6, cerca de 25 pessoas foram exoneradas”, conclui a primeira parte. A carta tem data de 23 de junho, quando ainda outros foram avisados da demissão, apurou o VERBO, daí que o número de exonerados pode ser maior.
Adiante, a carta detalha a demissão de sete filiados, que “expressam um pouco do terror instaurado na administração petista”. “Os fatos narrados não deixam dúvidas: o prefeito Chico Brito, demonstrando total despreparo para o exercício do poder, confunde Partido com administração pública e, utilizando arbitrariamente o cargo que o PT lhe concedeu, persegue pessoas que, usufruindo das normas partidárias, exercem livremente seu direito de escolha de candidatos.”
“Chico Brito não tem o direito de dispor dos cargos públicos para satisfazer sua vaidade pessoal. Puniu pessoas, e suas famílias, que sequer estavam presentes na convenção do dia 15/6. Além de configurar-se como uma atitude covarde, é uma prova de seu desrespeito pelos princípios que fundaram e deveriam reger o PT (…)”, diz ainda a carta, de quatro páginas. Acrescenta que “a autoridade e o respeito entre os militantes do PT são conquistas” pautadas “pelo compromisso com a ética, a honestidade e a coerência de atitudes, características que, infelizmente, o prefeito não possui”, dispara.
“Diante da gravidade dos fatos que vêm ocorrendo em Embu das Artes desde o processo do PED/2013, rogamos a intervenção da Direção Nacional e da Direção Estadual do PT”, diz ainda a carta, que tem no final o nome de 15 pessoas. “Informamos ainda que estamos estudando as alternativas jurídicas para reverter a situação, uma vez que as demissões não têm fundamento técnico ou administrativo, tratando-se portanto de um caso exemplar de assédio moral”, conclui.
VAIA
Os demitidos dizem que Chico deveria ter resolvido a situação no diretório municipal, “entre os companheiros, valendo-se das normas do partido”, mas lançam suspeita sobre a justificativa para exonerar ao dizer que “caso tivesse realmente sido ofendido”. Para militantes ouvidos pelo VERBO, ele precisava de um forte pretexto para alijar apoiadores de Geraldo que são “remanescentes importantes” – “petistas históricos”. A dúvida é reforçada por conta de que muitos presentes à convenção, sobretudo de outras cidades, alheios ao conflito em Embu, afirmam categoricamente que a vaia não existiu.
Chico foi procurado na prefeitura para falar sobre as demissões após a suposta vaia e a reação dos exonerados em pedir a intervenção do PT nacional e estadual. A secretária Cristina Santos (Comunicação) disse: “Não vamos nos manifestar sobre este assunto”. O presidente do PT de Embu, vereador e candidato a deputado estadual João Leite, também foi contatado. A assessoria foi indagada sobre as mesmas questões e depois foi procurada de novo, a pedido, mas não se pronunciou.