ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
A ex-presidente do Fundo Social de Embu das Artes Ely Santos (PRB), irmã do prefeito Ney Santos (PRB), teve a candidatura a deputada federal oficializada em convenção do partido no sábado (28) em São Paulo. Eliane, nome de batismo – que entrou na disputa “em cima da hora” após a desistência do candidato idealizado por Ney, Léo Novais (PR), em março -, prometeu, em postagem sobre o evento partidário, “garantir recursos para a nossa cidade e região”.
Em lançamento da então pré-candidatura, em 1º de julho, em Embu, Ely – tachada por adversários como “um poste” lançada pelo irmão pela inexperiência política – discursou com foco na saúde. “O nosso dinheiro está lá em Brasília [e não retorna] porque não temos representante para trazer verbas para mudar a nossa história. Temos que nos unir para trazer o nosso sonhado hospital. É um absurdo uma cidade de 270 mil habitantes não ter um hospital”, afirmou.
Apesar da saúde precária tanto municipal como estadual, um hospital público em Embu é visto como uma proposta “eleitoreira” por ser inviável para uma cidade pobre com orçamento que não chega a R$ 700 milhões. Com a irmã sem expressão, Ney arranjou um mote forte para Ely “vender”. O Hospital Geral do Pirajuçara foi inaugurado só depois de cerca de 25 anos de luta popular e pelo menos dez como esqueleto de concreto, e hoje atende mais de 40 cidades.
O próprio irmão de Ely, Ney, empunhou a bandeira de um hospital em Embu. Foi no primeiro ano como vereador, em 2013, quando foi oposição ao governo do PT na cidade. Mas não passou de “fumaça”. Nos anos seguintes, ao se aliar ao prefeito Chico Brito para ter espaços no governo e a máquina a favor para ganhar a eleição municipal, Ney “esqueceu” o projeto. Prefeito há quase dois anos, não reabriu nem o Pronto-Socorro Vazame, como prometeu na campanha.
Ely inspira ainda mais desconfiança. Ela é ré no mesmo processo a que Ney responde, denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por associação à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. Diante da ordem de prisão em decorrência da investigação do Gaeco (grupo anticrime organizado do MP), Ney ficou foragido 60 dias, enquanto Eliane – ainda não Ely – e outras seis pessoas, também rés, foram presas.
Em dezembro de 2016, o desembargador Hermann Herschander, do Tribunal de Justiça paulista, negou habeas corpus a Ney, Ely e demais 12 réus: “Os autos parecem efetivamente indicar que desde data já distante, até o presente, o paciente Claudinei, contando com o concurso dos demais pacientes e corréus, capitaneia sofisticada organização criminosa, que lavou e continua lavando expressivas somas em dinheiro proveniente do tráfico de entorpecentes”.
“A denúncia, apontando os elementos coligidos nesse sentido, refere numerosas indicações do envolvimento de Claudinei com o tráfico de entorpecentes; a par disso, ela relata que esse réu, contando com o concurso dos demais acusados, constitui numerosas empresas sobretudo postos de combustíveis que ocultavam e ainda ocultam a origem ilícita do dinheiro proveniente da droga”, disse ainda o desembargador, em relatório sempre com teor contundente.
“Sempre com o intuito de disfarçar a proveniência ilícita do dinheiro empregado nesses estabelecimentos em valores muito superiores aos seus ganhos comprovados, Claudinei valeu-se da colaboração dos demais pacientes e corréus, que emprestaram seus nomes para formação de fictícias sociedades”, frisou. Ele acusou “o impressionante número de estabelecimentos comerciais criados; a guarda de vultosas quantias em espécie; o alto valor dos bens apreendidos”.
“Tudo refere, de forma eloquente, a alta gravidade concreta dos fatos; esta, de si, traduz a periculosidade de seus autores e partícipes. Some-se a tudo isso a circunstância de, embora estar sendo investigada há anos, a organização ainda manter em funcionamento até o presente, em postos de gasolina ativos, a máquina de lavar por ela estabelecida”, observou o desembargador, ao decidir pelo indeferimento da liminar e manutenção da ordem de prisão.
Em fevereiro de 2017, Ney, Ely e os demais 12 foram beneficiados por um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello. Ney, foragido havia 60 dias, reapareceu. Ely, que estava presa, foi solta. Com a liminar – decisão provisória, os réus não foram inocentados -, Ney foi empossado prefeito e só poderá ser julgado pelo TJ. A tática seria a mesma com Ely. Eleita, ela teria foro privilegiado e só responderia ao processo no STF.
OUTRO LADO
O VERBO procurou Ely nesta manhã. Questionou como a proposta de um hospital público em Embu das Artes é viável se o município é pobre com várias carências e tem um orçamento que não chega a R$ 700 milhões, e nem o Pronto-Socorro Vazame foi reaberto. Ela não respondeu. Em maio, abordada pela reportagem sobre ter sido chamada de candidata sem expressão por um apoiador do pré-candidato a deputado federal João Leite (Pros), Ely não quis falar.
> Colaborou o repórter Rômulo Ferreira, do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
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