RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O PT (Partido dos Trabalhadores) em Embu das Artes expulsou nesta quinta-feira (1º) o vereador Doda Pinheiro por infidelidade partidária, em votação unânime do diretório municipal – 20 membros -, que tomou a decisão ao seguir parecer da Comissão de Ética da sigla (seis integrantes). Doda, que está no segundo mandato na Câmara de Embu, pode ainda recorrer, mas o PT vai exigir o mandato e fazer que o vereador perca o cargo. O suplente Didi assumiria.
O presidente municipal disse que o PT vai reivindicar a cadeira na Câmara. “Até porque no Embu ninguém se elegeu com mais de 7 mil votos, ninguém se elegeu sozinho, todos se elegeram dentro das vagas a que o partido tinha direito. Se aconteceu de ele sofrer o processo e ser expulso, é lógico que o partido tem direito de requerer o mandato. Ele tem dez dias para recorrer. Até foi lá hoje, mas saiu quando estava começando a análise do parecer”, disse Gabino Silva.
Doda foi expulso por se posicionar abertamente contra decisões do PT em relação a medidas impopulares do prefeito Ney Santos (PRB), de quem se tornou aliado, membro da base de apoio ao governo. Reeleito em 2016 com 1.552 votos, após ter conseguido a primeira eleição como vereador com 3.057 votos (quarto mais votado) em 2012, ele iniciou o segundo mandato como oposição a Ney, até protestou publicamente contra sonegação de documentos para fiscalizar.
Depois, em disputa interna com o grupo do deputado estadual Geraldo Cruz (PT) após a eleição da presidência do PT em Embu, em rivalidade particular com a vereadora Rosângela Santos (PT), aliada de Geraldo, Doda passou a apoiar Ney. Ele entrou em rota de colisão frontal definitiva com o próprio partido ao fazer uma declaração polêmica em apoio à cobrança da taxa de lixo criada por Ney, em meio à forte manifestação da população contra a implantação do tributo.
Na tribuna em sessão em agosto do ano passado, Doda chamou Ney de “corajoso” por cobrar a taxa de lixo. “O prefeito Ney […] não está preocupado com a sucessão dele, está preocupado com o futuro da cidade”, declarou. E afirmou que os governos do próprio partido – de Geraldo e Chico Brito – não lançaram o tributo antes por motivos eleitoreiros, para não prejudicar petistas em futuras eleições e para o PT permanecer no poder na prefeitura, como revelou o VERBO.
“E não há como dizer que não é por isso, nós não estamos aqui brincando de fazer política, temos que ter seriedade. O Código Tributário é de 2007, a taxa do lixo era para ser cobrada em 2008. Não foi cobrada pela preocupação com popularidade, para fazer o sucessor do prefeito em 2008, Chico Brito. Não cobrou em 2009 pela preocupação de fazer Geraldo deputado em 2010. Em 2011, fazer o prefeito em 2012. Em 2013, fazer o deputado em 2014”, discursou Doda.
Menos de duas semanas depois, o presidente estadual do PT, Luiz Marinho, esteve em encontro em Embu e afirmou, em entrevista exclusiva ao VERBO, que Doda poderia ser expulso por contrariar posição do partido sobre a taxa de lixo. O vereador, hostilizado pela militância, não estava presente. Em sessão seguinte, Doda respondeu que Marinho devia “tomar vergonha” ao falar em expulsão e usou o termo “militonto” em menção a Geraldo, que o chamara de “vendido”.
O PT justifica a expulsão com a “posição serviçal” de Doda, ao aprovar atos como a taxa e a lei contra o enquadramento das auxiliares de desenvolvimento infantil (ADIs) como professoras, considerada a gota d’água. “O processo se iniciou após a denúncia feita por um filiado que questionou a posição serviçal do vereador em relação ao governo Ney Santos, que votou a favor da taxa de lixo e de outros projetos pró-Ney, contrariando decisões internas do PT”, diz a nota.
“O vereador vinha se colocando”, continua a nota, “como base de governo, que notoriamente está punindo a população com taxas abusivas e retirada de direitos dos trabalhadores da educação”. O PT afirma defender os direitos da população “e não vai aceitar em momento algum que um membro do partido, seja lá quem for, tenha atitudes contrárias a essa determinação”. Em flagrante guerra interna, o denunciante foi Rogério Reis, assessor de Rosângela.
OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, Doda se mostrou indignado com a expulsão e classificou o ato como “perseguição”. “Acho um absurdo, não fui notificado, fiquei sabendo pelos jornalistas e pelas redes sociais. Um processo que está sendo julgado na Comissão de Ética, um processo interno do partido, dar publicidade antes do meu direito ao recurso, é de uma irresponsabilidade absurda. Estou sendo execrado nas redes sociais por irresponsabilidade do partido”, afirmou.
Doda falou em traição. “Me sinto traído pelo meu partido. Com certeza, irei recorrer, o que estão fazendo comigo é pura perseguição política”, afirmou. Ele rechaçou a pretensão do PT de cassá-lo. “Vejo como um golpe, logo o PT que tanto falou em golpe contra a presidente Dilma Rousseff vai fazer a mesma coisa? Isso é trágico, se não fosse cômico. Fui eleito legitimamente, se querem minha cadeira, disputem a eleição de 2020 e tenham votos. Golpe aqui não!”, falou.
LEIA NOTA DO PT SOBRE A EXPULSÃO DO VEREADOR DODA PINHEIRO, DE EMBU DAS ARTES, NA ÍNTEGRA
> Colaborou Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
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