Reunião pró-taxa teve ‘dica’ para esconder votação e até grito ‘unidos contra o povo’

Especial para o VERBO ONLINE

Prefeito Ney e vereadores

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Conversa a portas fechadas, plano de “esperteza”, orientação para calar para “esconder” o projeto durante votação, ideia de misturar outras matérias para moradores não perceberem o projeto “perverso”, aposta na falta de memória da população após aprovado, sugestão de suspender a cobrança ao chegar a eleição e até um grito de guerra – “unidos contra o povo”. O VERBO relata os bastidores da aprovação da taxa de lixo proposta pelo prefeito Ney Santos (PRB).

Prefeito Ney e vereadores
Prefeito Ney e vereadores Bobilel, Daniboy, Gerson Olegário, Ricardo Almeida, Carlinhos do Embu, Joãozinho da Farmácia, Doda Pinheiro, Jefferson do Caminhão, Júlio Campanha e Índio Silva, que criaram a taxa de lixo

A Câmara de Embu das Artes aprovou na quarta-feira passada (27) a criação da taxa de lixo, para vigorar a partir de 2018, com voto favorável de 10 vereadores – cinco foram contra. Com o tributo criado por decreto barrado na Justiça, Ney enviou ao Legislativo um projeto de lei complementar em regime de urgência, “às escondidas” – com ementa (resumo) do texto se referindo ao Código Tributário e protocolado por secretário de Ney com sessão já em andamento.

A votação para aprovar a taxa de lixo, porém, teve preparação cuidadosa. Na própria quarta “fatídica”, Ney reuniu os vereadores pela manhã na prefeitura – menos Rosângela Santos (PT), única oposição ao Executivo – e traçou um plano “maquiavélico” para passar a cobrança do tributo na Câmara sem grandes danos à imagem do governo. Mas nem todos gostaram do que ouviram, o que explicaria que não só Rosângela votou contra, mas também outros quatro vereadores.

Conforme apurou o VERBO com interlocutores de vereadores, na reunião para discutir a votação da taxa de lixo, Ney chegou à conclusão de que era inevitável o desgaste político e tomou uma decisão impactante. “Como vamos ‘apanhar’ na rua mesmo, vamos colocar uma taxa cara”, disse, segundo relatos. O secretário Jones Donizette (Comunicação), braço-direito de Ney, apelou. “O povo depois não lembra mais. E quando chegar a eleição, a gente tira a taxa”, sugeriu.

Ainda de acordo com relatos, o vereador Doda Pinheiro (PT) chegou a sugerir um valor maior para cobrança da taxa de lixo para sanar de vez o problema da dívida da prefeitura com a empresa de coleta de resíduos, a Enob. O projeto de aplicação do tributo municipal que foi aprovado leva em conta se o terreno tem construção ou não, a área construída, a localização e um fator de ajuste, multiplicado por R$ 1,50 nos imóveis com edificação e R$ 0,25 nas propriedades vazias.

Após definir a criação da taxa de lixo, Ney se “preocupou” em orientar os vereadores como enfrentar a votação. “A taxa vai no meio de outros projetos. É só vocês não falarem nada que ninguém vai perceber”, disse, ainda segundo relatos. Na sessão, o vereador Daniboy (DEM), um dos três apenas que fizeram a defesa da cobrança, seguiu a “dica” do prefeito e exaltou projeto de transferência de taxa de transações com cartão de crédito para estabelecimentos no município.

Ao final da reunião, em ato ainda mais inusitado, o vereador líder de Ney na Câmara, Índio Silva (PRB), deu o grito de guerra “Unidos contra o povo”, quando decidiram aprovar a taxa. Um morador interlocutor de um vereador citou o “entusiasmo” de Índio em rede social. “[Os vereadores favoráveis à taxa] São covardes, canalhas, mafiosos, autoritários e hipócritas. Não me surpreenderia que combinassem estas votações aos gritos de ‘unidos contra o povo'”, escreveu.

Conforme apurou o VERBO, os vereadores Luiz do Depósito (PMDB), Dra. Bete e André Maestri (ambos do PTB) saíram da reunião em choque – e rompidos com o governo Ney – com o que ouviram. Na sessão, depois de dois meses desde a decretação da taxa de lixo com discursos cautelosos em sinalização de apoio ao prefeito ou sem se manifestar contra a cobrança, os três rejeitaram o tributo – para surpresa de contrários à taxa que só contavam Rosângela como aliada.

OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, Doda negou que sugeriu taxa de lixo mais cara. “Eu disse que não se poderia cobrar de uma pessoa que mora numa casa simples o mesmo valor de comércio de 1.000 m2, ou do morador de casa de 100 m2 o mesmo de uma casa de 500 m2 num condomínio no centro de Embu. Foi feita a discussão, e é justa a forma que foi implantada. As pessoas colocam de forma maldosa, querem me queimar pela falta de coragem que tiveram”, disse.

Índio desconversou sobre o grito. “Alguém está querendo palanque em cima disso. Alguém já falou ou falará uma coisa dessa, tem muita gente querendo sair como super-herói”, disse. Ele foi indagado se era o que tinha a dizer. “Não tenho muito a falar. Só que esse remédio teria que ter tomado lá trás, mas como a empresa [Enob] sempre foi a maior patrocinadora das candidaturas anteriores nunca tomaram providências. Agora temos que tomar”, afirmou ao VERBO.

Ney também foi contatado, por e-mail via assessoria, para falar sobre as declarações na reunião, mas não respondeu.

> Colaborou a repórter Renata Gomes, especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
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