PEDRO HENRIQUE FEITOSA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Vereador respeitado no meio político em Embu das Artes, presidente da Câmara em 2013 e 2014, o petista Doda Pinheiro causou furor na sessão no dia 9 ao chamar o prefeito Ney Santos de “corajoso” por cobrar a taxa do lixo e afirmar que os governos do próprio partido – de Geraldo Cruz e Chico Brito – não lançaram o tributo antes por motivos eleitoreiros, para não prejudicar candidatos da sigla em futuras eleições e para o PT se manter no poder na prefeitura.
Em sessão bastante tensa com troca de palavras de ordem e farpas entre funcionários comissionados do governo Ney e manifestantes contrários à taxa do lixo, na plateia, e entre a esmagadora maioria de vereadores aliados do prefeito e a única oposicionista do governo, Rosângela Santos (PT), Doda, apesar de ser do PT e ainda líder da bancada do partido na Câmara, fez um discurso que produziu sorrisos de partidários de Ney e causou forte mal estar entre os petistas.
De tribuna, depois de ler de forma “burocrática” nota do PT contrária à taxa de lixo, na avaliação de lideranças petistas, Doda causou espanto ao dizer que a taxa de lixo foi criada em 1997 (prefeito Oscar Yazbek), mas estava prevista na lei do Código Tributário aprovada pelo governo Geraldo Cruz em 2007 e não foi cobrada pela gestão petista – que ficou à frente da prefeitura até 2016 – “em todos esses anos pura e exclusivamente pela manutenção do poder”, declarou.
“E não há como dizer que não é por isso, nós não estamos aqui brincando de fazer política, temos que ter seriedade. O Código Tributário é de 2007, a taxa do lixo era para ser cobrada em 2008. Não foi cobrada pela preocupação com popularidade, para fazer a sucessor do prefeito em 2008, Chico Brito. Não cobrou em 2009 pela preocupação de fazer Geraldo deputado em 2010. Em 2011, fazer o prefeito em 2012. Em 2013, fazer o deputado em 2014”, discursou Doda.
Doda disse mais. Ao ponderar que de 1997 até agora a população cresceu e também a quantidade de lixo produzida, ele defendeu Ney – a quem o PT se declara oposição – pela criação da taxa de lixo. “O prefeito Ney, aceitem ou não, queiram ou não, foi corajoso neste ato. Eu tenho que respeitar, ele não está preocupado com a sucessão dele ou se qualquer vereador nesta Casa vai ser [candidato a] deputado, está preocupado com o futuro da cidade”, afirmou.
Uma liderança petista ouvida pelo VERBO lamentou profundamente a fala do vereador. Ele disse que Doda tinha direito de falar as convicções pessoais para defender a taxa do lixo, mas sem atacar o partido. “Ele poderia fazer as ponderações que fez em defesa da necessidade de implantação da cobrança, mas fazer a desconstrução dos governos do PT é inaceitável. Ele inclusive fez pouco caso da nota do PT”, disse o militante, que ajudou na redação do informe.
OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, o presidente do PT de Embu, Gabino Silva, disse que o PT é oposição ao governo Ney e contra a taxa de lixo. “Se ele falou isso [defendeu a gestão Ney e o tributo], não reflete a opinião do partido, até porque está claro a nossa posição, tanto que na sessão ele leu uma nota do PT, deixou evidente que o partido é contra a taxa do lixo. É a orientação que o partido dá para todos, seja qualquer parlamentar. Se alguém é a favor, assume por ele”, disse.
Questionado se Doda sofrerá alguma punição, Gabino disse que não é o presidente que decide se um membro do PT terá sanção ou não, mas “todo filiado, independente do cargo que ocupa, é regido pelo estatuto do partido, lá tem as normas”. “Aquele que se colocar contra aquilo que o estatuto encaminha erra, paga pelos seus erros”, disse. Mais de uma vez, Gabino disse, porém, “não ter ouvido” a fala de Doda, apesar de afirmar que “o partido está de olho em tudo”.
O deputado Geraldo Cruz (PT), prefeito entre 2001 e 2008, reagiu à fala de Doda e disse que ele negociou apoio a Ney ou “não está com a sanidade mental normal”. “Essa é uma fala de quem está vendido ou maluco e não sabe o que diz. A taxa do lixo foi criada em 1997. Colocamos no Código Tributário como o que compete à prefeitura cobrar. Mas nunca cobramos, sequer remotamente discutimos cobrar. Não precisava e não íamos onerar a população”, disse ao VERBO.
> Colaborou a Redação do VERBO ONLINE
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