ANA PAULA TIMÓTEO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Na segunda sessão tensa seguida por causa da taxa de lixo criada pelo prefeito Ney Santos (PRB), a Câmara de Embu das Artes teve briga e empurra-empurra na noite desta quarta-feira (9) no plenário entre manifestantes contrários à cobrança e funcionários da prefeitura nomeados politicamente. Apesar do confronto e de gritos e vaias, os vereadores desta vez conseguiram discursar e aprovaram requerimentos relacionados à decisão de Ney de instituir o tributo.
Recrutados pelo secretário Jones Donizette (Comunicação), os livre-nomeados ocuparam o plenário com banners com nomes de ações da prefeitura, gritaram palavras de ordem contra a oposição e a vereadora Rosângela Santos (PT), única entre os 17 vereadores contra a taxa do lixo, e acirraram os ânimos – os comissionados empunhavam faixas de lona confeccionadas com dinheiro público enquanto moradores contra a taxa exibiam pequenos e simples cartazes.
O tumulto começou quando comissionados de Ney ergueram banners para que os contrários à taxa não tivessem visão da mesa de trabalhos da sessão e se recusaram a abaixar. Em seguida, um manifestante e um comissionado trocaram socos, em meio ao público. Parte dos 20 guardas municipais que estavam na grade para impedir a aproximação da população agarrou o manifestante. Um GCM acionou arma de choque contra o homem, que foi levado para fora.
Uma testemunha disse que o homem foi agredido por GCM à paisana quando era posto na viatura, no estacionamento da Câmara. Diante da ação da Guarda Municipal, manifestantes gritaram “Não à repressão” e “fascistas” aos membros do governo. Depois, um rapaz soltou, escondido, gás de pimenta entre os manifestantes e foi acompanhado por GCMs para uma porta no plenário, em atitude vista como suspeita. Moradores disseram que ele não era manifestante.
Ao discursar, os vereadores aliados de Ney, favoráveis à taxa do lixo, exaltaram ações do governo e reagiram às críticas de contrários ao tributo. “Covarde, eu não sou. Não vou permitir que joguem meu nome no lixo, não sou vagabundo”, falou André Maestri (PTB), que questionou contrato da empresa de coleta firmado no governo dos partidários “que foram derrotados nas urnas”, disse em alusão ao PT. Ironicamente, André foi eleito na chapa encabeçada pelo PT.
Jefferson do Caminhão (PSDB) disse que o prefeito anterior, Chico Brito, é o culpado por não ter “estancado” a dívida da prefeitura com a empresa de coleta, e não Ney, mas o prefeito tem que resolver o problema, ao defender a taxa de lixo. “O governo está certo, os vereadores sabem o que estão fazendo”, disse. Júlio Campanha (PRB) reconheceu que a taxa “só foi posta em prática agora”, mas que foi votada em 2007 e que o protesto tinha que ter acontecido naquela época.
O vereador Bobilel Castilho (PSC) foi à tribuna e fez discurso inflamado contra os manifestantes ao dizer que recebe os moradores para discutir a taxa. “Mas politiqueiros que estão no meio não venham me chamar de covarde, eu tenho família”, disse. Líder de Ney na Câmara, Índio Silva (PRB) disse se preocupar com pessoas comuns aflitas com a taxa, não com “meia dúzia de baderneiros” que “querem fazer da Câmara palanque para 2018 ou 2020”, em referência ao PT.
O vereador Doda Pinheiro (PT) ponderou que a taxa foi aprovada em 1997, que desde aquele ano a população cresceu e também a produção de lixo, mas que o tributo foi atualizado em 2007 e não foi cobrado por governos do próprio PT “pura e exclusivamente para se manter no poder”, arrancando sorrisos de aliados de Ney. Mas disse não aceitar a forma de cobrança. “Não é justo o comércio pagar taxa de lixo igual o morador, ele tem que pagar mais”, disse.
“Vamos discutir com o prefeito para que possamos criar uma equidade para que todos possam pagar essa taxa de lixo. Aprovamos dois requerimentos para poder conversar com os moradores para pôr em prática o que os vereadores acreditam que é o correto”, disse Doda, sobre o pedido ao governo para que lance a taxa “para que aqueles que produzem menos resíduos paguem menos que aqueles que produzem mais” e mostre contrato com a empresa Enob.
O confronto de posições se deu entre o presidente Hugo Prado (PSB) e Rosângela. Ela pôs em dúvida o tamanho do rombo alardeado pelo governo. “A prefeitura não é transparente, é preciso fazer uma CEI [CPI] para saber sobre essa dívida”, disse. Hugo retrucou. “Não podemos admitir que pessoas usem o sofrimento do povo para se promover. A sra. tem poder para revogar a taxa do lixo?”, falou. Rosângela replicou que questiona “a forma como está sendo cobrada”.
Na tribuna, Rosângela voltou à carga e disse que Ney é corresponsável pela dívida do município por ter sido vereador na gestão de Chico e “aparecer em inaugurações ao lado do prefeito”. “Por que não fez o papel dele de fiscalizar? Aqui não tem partido A ou B, tem liderança que está com o povo, esse movimento é da população revoltada como foi feita a taxa”, disse. Hugo disse que o “governo do PT” quebrou a cidade e exibiu no telão um manifestante com camisa do PT.
Enquanto a vereadora falava, comissionados da prefeitura gritavam “Ê, ê, ê, a culpa é do PT”. Já quando vereadores pró-taxa de lixo discursavam, os manifestantes gritavam “Não nos representa”, e “Tá com medo, vai perder o emprego”, em resposta aos aliados de Ney. Hugo fez uma fala vista como uma gafe, ao agradecer apenas os livre-nomeados de Ney pela presença. “Vocês sim representam a nossa cidade”, disse, sem menção aos chefes de família de carnê em mãos.
Líder do movimento, Ivo Amorim repudiou o tratamento aos contrários à taxa do lixo. “Foi uma ação extremamente truculenta por parte da GCM a pedido do presidente Hugo Prado. Pela primeira vez na história da Câmara, revistaram toda a população, mas não os comissionados. Impediram a população de entrar com cartazes, faixas, bateria, mas não impediram os comissionados com faixas com paus. E comissionados lançaram gás de pimenta na população”, disse.
Em entrevista, Hugo disse que a sessão foi “acalorada”, com “alguns desentendimentos”, mas os vereadores souberam conduzir os trabalhos. “Para os vereadores, foi extremamente proveitosa, destaco os dois requerimentos aprovados”, disse. Ele eximiu a GCM sobre o uso de gás de pimenta no plenário. “Não posso acusar ninguém, mas tenho certeza que a nossa Guarda não utiliza esse artefato. Vamos com as câmeras tentar flagrar os que se excederam”, afirmou.
> Com colaboração de Gabriel Binho, especial para o VERBO ONLINE
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