RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Exato um mês depois de assinar, “na surdina”, a criação da taxa de lixo, o prefeito Ney Santos (PRB) enfrenta decepção crescente de eleitores que votaram nele e escalada de indignação da esmagadora maioria da população de Embu das Artes, contrária à cobrança. Ney sofre um dos maiores protestos da história da cidade com apenas sete meses de governo, desde fevereiro, quando assumiu a prefeitura após ficar foragido, denunciado por elo com crime organizado.
Ney criou a taxa de coleta e remoção do lixo por meio de decreto que assinou em 7 de julho, sem audiência pública e em pleno recesso da Câmara, onde a medida poderia ser discutida. Se não bastasse, informou a criação, no site da prefeitura, só quase duas semanas depois, em 19 de julho. A taxa é de R$ 174,35 – pode ser paga em cinco parcelas, a primeira em 20 de agosto. Mas o valor se refere só aos meses restantes de 2017. Em 2018, será de R$ 418, no mínimo.
Após postagem do vídeo em que Ney tenta justificar a criação da taxa do lixo, moradores se manifestam em misto de indignação e frustração. “Não pensava de você fazer isso, prefeito. Você está pior que o Chico Brito. Espero que você leia e reflita o que está fazendo com o povo de Embu, se a lei foi criada há dez anos, agora que você meio mexer”, diz Simone Santos. Ney só fez o vídeo no dia 27, 20 dias após baixar o decreto, quando o carnê estava chegando às casas.
“Muito fácil dizer para confiar no governo, dando as contas da prefeitura para nós pagarmos!”, diz Eduardo Vitalle no Facebook. Nas redes sociais, os defensores do prefeito – secretários com salário em torno de R$ 15 mil e muitos cabos eleitorais beneficiados com cargos no governo – desapareceram. “Cadê as pessoas que votaram no Ney, estão falando o que agora? Tomem na cara, rebanho de troxas, tem taxa para vocês pagarem”, diz a moradora Meire Leal, revoltada.
“Ontem [dia 26], chegou o carnê para pagamento do lixo. Que vergonha, prefeito, sabendo das dificuldades financeiras do Brasil e do desemprego de muitas pessoas, muitos passando necessidade, não tendo o que comer, e você querendo taxa do lixo?”, diz Daiane Herculano, ao falar para Ney “parar de inventar situações para tirar dos indefesos”. “Sinto vergonha de ter votado em você”, diz Victor Lima, parte da avalanche de críticas ao prefeito chamado de “Neytaxa”.
Indagado se a população está consciente de ser afetada pela taxa do lixo ou está indiferente, o morador Ivo Amorim, líder da mobilização contra a cobrança, diz que a reação dos moradores é cada vez maior e mais forte. “A gente busca a revogação imediata da cobrança via pressão popular, e esta quarta-feira vai servir como um verdadeiro termômetro, a gente está convocando toda a população”, aponta Ivo sobre novo protesto na Câmara depois de amanhã (9), às 18h.
“A gente está muito consciente, muito focado para fazer a pressão popular, está trabalhando pesado nisso. Claro que a gente também está tomando as medidas jurídicas para que isso aconteça, está colhendo assinaturas para entrar [na Justiça] com mais uma ação popular – já tem mais de 12 mil assinaturas. Para que a juíza dê uma liminar, suspendendo a taxa do lixo até que a prefeitura chame audiências públicas pela cidade sobre a cobrança”, completa Ivo Amorim.
OUTRO LADO
Questionado sobre o crescente número de moradores de Embu decepcionados ou arrependidos de terem votado em Ney para governar a cidade após o prefeito ter criado a taxa do lixo – a julgar pelas manifestações da população nas ruas e nas redes sociais -, o governo municipal disse que “a informação é falsa”. “Qual é a pesquisa registrada, e de qual instituto, que comprova isso que você está falando?”, disse o secretário-adjunto de Comunicação, Renato Oliveira.
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