ANA PAULA TIMÓTEO
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Água cortada, banheiros sujos e interditados, torneiras furtadas ou quebradas, bebedouros inutilizados, depredação do patrimônio público generalizada, iluminação deficiente, falta de segurança, ponto do medo por causa da violência. Um dos equipamentos mais festejados pela administração municipal quando inaugurado, a rodoviária de Embu das Artes, em plena região central da cidade, se encontra em estado totalmente precário e é o retrato do completo abandono.
Situada na avenida Elias Yazbek, a rodoviária está com o abastecimento de água cortado por falta de pagamento há aproximadamente nove meses – o débito da conta é estimado em R$ 200 mil. É apenas um dos inúmeros problemas vividos pelos usuários que precisam utilizar os serviços no terminal que recebe ônibus municipais, intermunicipais e interestaduais e atende cerca de mil usuários por dia, fora os que passam transportados nos coletivos locais.
Com banheiros sujos e interditados, sem papel higiênico, bebedouros danificados, torneiras das pias roubadas e as poucas restantes quebradas, a rodoviária não tem a mínima condição de uso pelas centenas de pessoas que circulam e trabalham no local diariamente. “Chega a tarde, a gente não consegue ficar na plataforma esperando o ônibus, o cheiro que vem do banheiro é horrível. Nunca cheguei aqui e vi limpo. É sempre essa imundice, tenho nojo”, diz uma usuária.
Diante de tamanho descaso e muitas reclamações, o pessoal que cuida da limpeza da rodoviária diz fazer o que pode. “Eu carrego balde de água para colocar nos banheiros, mas escuto insultos de que eu não fiz o serviço porque não quis”, diz uma funcionária. A prefeitura disponibiliza por dia dois caminhões para o fornecimento de água, mas não são o bastante para suprir as necessidades do terminal, que, aliás, tem um vazamento que não é consertado há meses.
Segundo uma cobradora de ônibus, a falta de água é seletiva. “Passamos um perrengue, fica um dia com água e depois some. O engraçado é que quando tem show no parque Rizzo eles vão e ligam a água para o pessoal utilizar, e para gente que trabalha aqui, eles desligam. No ano passado não tinha essa palhaçada, era uma rodoviária de qualidade. A gente tinha estrutura para trabalhar, tinha banheiro, água. Este ano a gente está vivendo nessa situação precária”, diz.
A má iluminação e a falta de agentes de segurança são outro problema crítico da rodoviária, que passa a ser um grande atrativo para os criminosos que estão em busca de novas vítimas. Conforme apurou a reportagem, muitas empresas de ônibus, entre elas a Viação Cometa, estão proibindo os passageiros de descer no terminal rodoviário de Embu – uma cidade turística – por medo de sofrer alguma violência, principalmente quando a parada é feita durante a madrugada.
Moradores e funcionários não entendem como a rodoviária chegou a tal grau de precariedade, já que foi projetada para ser referência na região – foi inaugurada, em 2013, com tanta pompa e circunstância a ponto de ter a presença do renomado maestro João Carlos Martins, em ato no dia 24 de agosto, aniversário do então prefeito Chico Brito (à época PT). A rodoviária é administrada pela Riera Empreendimentos em concessão de 20 anos, no valor de R$ 60 milhões.
Longe de afetar apenas usuários e funcionários, empresários que possuem pontos comerciais na rodoviária lamentam os prejuízos. Com queda de 50% até 75% de faturamento, pensam em deixar o local e desencorajam novos lojistas. As empresárias Viviane Coroliano e Juliana Pierote, proprietárias da CVC Viagens, dizem que a atual administração “está oferecendo esmola” ao disponibilizar caminhões de água, e que antes pelo menos a rodoviária “funcionava”.
“Mas mudou o prefeito, eles [Riera] romperam com tudo. Não colocam mais segurança para os lojistas, nem para o pessoal que desce aqui. Cortaram o pessoal que aparava a grama, para a limpeza só tem uma funcionária, os banheiros não têm água há quatro meses, não consertam o gerador. A gente vai pagar do bolso para dedetizar. Simplesmente, eles largaram isso aqui. A prefeitura manda água, mas também não está fazendo muita coisa”, afirma Viviane, 52.
Para o representante dos lojistas, João Santos, o descaso pode ser motivado por disputa política. “Se a empresa está descumprindo, nada mais certo do que a prefeitura ir em cima e entrar com pedido de quebra de contrato e assumir. O problema é que a prefeitura também virou as costas, e se vangloria em mandar os caminhões de água. Creio que pelo fato de a rodoviária ter sido feita pelo antigo prefeito, o atual não quer alavancar isso aqui, não quer dar moral”, diz.
OUTRO LADO
Procurada pelo VERBO, a administração Ney Santos (PRB) enviou nota, assinada pela Secretaria de Governo, em que se limita a afirmar que “a prefeitura está dando total suporte aos serviços prestados pela rodoviária, especialmente com fornecimento de água, para não sacrificar os munícipes usuários. Além disso, está dando atenção aos comerciantes, ouvindo suas queixas, entre outras providências. Por fim, demandou à Secretaria de Assuntos Jurídicos para análise quanto à retomada dos serviços ou outra solução jurídica possível, de modo a sanar os problemas reportados”.
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