ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Com rasantes até próximo à cabeça das pessoas, morcegos vagam em uma rua na região do Pirajuçara, em Taboão da Serra, há pelo menos três meses sob olhares curiosos ou indiferentes – não de medo. Eles voam em um ponto da João Rojas Fernandes, no Jardim Roberto (a menos de cem metros da estrada Kizaemon Takeuti), sobre a copa e entre folhas de árvore frondosa de uma casa cujos galhos avançam sobre a rede elétrica e quase alcançam calçada do outro lado.


Os morcegos, em torno de cinco, abocanham um fruto verde da árvore – são da espécie fitófagos, e não hematófagos (alimentam-se de sangue), com os quais são geralmente identificados. Com envergadura de asas e som característicos, chamaram a atenção de moradores que passaram pela rua em uma noite na semana passada. Uma mulher perguntou se eram corujas. Um rapaz indagou se eram macacos. Pedestres se abaixavam diante do vulto dos animais em voo.
Morador ao lado da casa da árvore, Domingos Vieira, 60, saiu ao portão para ver os morcegos. “Faz tempo que estão aí, dois ou três meses. É só aparecer as frutas aí que eles veem. Lá em cima [do sobrado], na área, está cheio de carocinho, eles comem e jogam os caroços. Não atacam, não”, disse, com criança no colo. “Eles gostam de ver, né? Cheguei agora, ela estava chorando, [falei] ‘tá bom, vamos ver o bicho”, comentou. A própria criança falou: “Eu quero ver o morcego”.
Únicos mamíferos que voam e saem à procura de alimento ao entardecer e à noite, os morcegos estão se tornando cada vez mais frequentes em áreas urbanas. “Existem dois grupos mais comuns nas cidades, os que se alimentam de insetos, os insetívoros, e os que se alimentam de frutos, fitófagos. Os fitófagos migram pela abundância de alimentos e abrigos disponíveis. A árvore no local deve ser frutífera”, diz a bióloga Alessandra Soares, 45, ouvida pelo VERBO.
O morcego é atraído ainda pela rua mal iluminada, como quase todas as vias de Taboão. “É um fator extremamente importante para o morcego. Quando a gente dá uma informação didática a crianças e adolescentes, diz que o Batman, que é um morcego, vive em local com iluminação diminuída. Quando se tem um espaço com plantas que servem de alimento e árvore com copa protetora com pouca luminosidade, é ali que o morcego vai estabelecer moradia”, explica.
A presença de morcegos entre humanos preocupa. “Tem consequências desagradáveis e desastrosas. Além do mau cheiro e ruído, a mordedura do morcego, independente da espécie, transmite doenças como raiva, criptococose, a micose advinda de ave – apesar de o morcego ser mamífero -, e histoplasmose, infecção por fungos”, diz Alessandra. A raiva, que pode matar, pode ser contraída até por arranhadura e lambedura do morcego – evite contato direto.
Os morcegos – que vivem 15 anos, em média, e geram um filhote a cada ano, em geral – têm, porém, papel importante na natureza. “As pessoas acham que todos os morcegos causam mal. Existem cuidados que devem ser tomados, mas o bioma do local deve ser preservado. De repente, a população começa a pôr veneno, matar. Isso cria um desequilíbrio, na cadeia biológica há espécies que precisam sobreviver, são base de alimento para outras”, pondera Alessandra.
“A Vigilância Sanitária deve tomar conhecimento da situação, identificar a espécie e aplicar um mecanismo de controle”, ressalta a bióloga. Em contato telefônico com a Vigilância de Taboão nesta segunda-feira, o VERBO informou sobre os morcegos na rua à diretora Mariângela Palma, que comentou: “É normal isso”. Ela pediu, porém, para relatar por escrito que responderia, mas até o fim da tarde não retornou. A reportagem questionou que providência o órgão ia tomar.
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