ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Itapecerica da Serra
Vereadores de Itapecerica da Serra fizeram uma “rebelião” contra o prefeito Jorge Costa (PTB) após a sessão solene em comemoração aos 140 anos do município, na noite de quinta-feira (11), na Câmara. Depois de serem alvos de farpas sem poder reagir por quererem preservar o clima de celebração pelo aniversário da cidade, os parlamentares foram criticados abertamente pelo prefeito em entrevista e passaram a fazer verdadeira “lavação de roupa suja” contra Jorge.
Último a discursar em tribuna, Jorge disse que “vereador só reclama, todo dia” ao ressaltar a maior presença da polícia na periferia de Itapecerica e falou que não está deixando de cumprir o plano de governo. “Não estou mudando nada, critique quem quiser, fale quem quiser, vou seguir essa reta até o fim. Se estou pela quarta vez à frente da cidade, a população me aprovou. Nesta Casa nove vereadores foram trocados, na outra vez trocou, agora também”, afirmou.
Jorge falou sobre implantação de estação elevatória de esgoto e solução do aterro e mirou a Câmara. “Tem coisas que ninguém fica nem sabendo, [mas] nós fizemos, está lá. Essas coisas, temos que passar para a população, não só ficar de ti-ti-ti, ficar de conversa mole. Temos que correr atrás e resolver [os problemas]. Vamos trabalhar, vamos acelerar. E para isso conto com os senhores desta Casa, tenho certeza que todos que estão aqui pensam da mesma forma”, disse.
Em fala de encerramento, o presidente da Câmara, pastor Márcio (PSC), argumentou que o Legislativo quer cooperar com o governo. “Esta Câmara está querendo ajudar o Executivo, sim, a trabalhar, dentro dos conceitos que cabem a esta Casa. Quando um vereador faz um pedido, que as pessoas levam como cobrança, é porque o munícipe vem bater à porta dele. […] Nem precisaríamos disso, se aqueles que têm o cargo [secretários] estivessem trabalhando”, disse.
Apesar do desconforto nos bastidores, as “alfinetadas” de Jorge e a resposta do presidente da Câmara, em tom ameno, passaram praticamente despercebidas entre os moradores e convidados. Encerrada a sessão, porém, em entrevista, o prefeito fez crítica contundente aos vereadores, ao ser questionado sobre os parlamentares manifestarem em sessões que estão “apanhando nas ruas” da população por conta de o governo municipal não atender demandas que levam.
“Vereador fala demais e trabalha de menos, foi o que falei [na sessão]. Vereador deveria ir atrás do governo do Estado, do governo federal… Vereador quer o que, emprego? Vai arrumar empresa para trazer para cá”, disparou Jorge. Em discurso, ele reclamou que “todo mundo quer emprego todo dia”. “Queria ter 34 mil empregos, é o que gente precisava. A gente tem que fazer vir empresas, a prefeitura não pode ser o órgão que vai dar emprego para todo mundo”, disse.
Depois, ao falar à imprensa, os vereadores, reunidos no gabinete do presidente da Casa, se rebelaram contra Jorge. “Quem tem que executar são eles, a gente tem que cobrar para que trabalhem. Será que o prefeito quer que a gente leve o paciente ao médico, o que não fazem? Que a gente dê cesta básica, tape os buracos, se eles são os responsáveis? Que a gente prenda os bandidos, roce a rua se a frente de trabalho tem que fazer isso?”, protestou Jonas Feijó (PMDB).
“Está invertido o papel, o vereador não executa. Pergunta se esse prefeito vai até a rua bater na casa do munícipe? Ele se excedeu, foi decepcionante”, disse Markinhos da Padaria (Pros). “Para saber quem trabalha, vá na prefeitura na sexta e veja se tem alguém trabalhando lá, se o prefeito está despachando”, disse Zecas (PSB). “Cada um de nós mora nos bairros, e o prefeito não está no bairro. A cobrança é todo dia, o morador sabe o nosso endereço”, disse Trolesi (PRTB).
O presidente disse que o morador tem acesso ao vereador na Câmara, mas não consegue chegar à antessala do prefeito ou sequer falar com assessor. “O cidadão acha que quem executa é o vereador, mas votou no vereador e fala ‘você é meu representante, cobra lá que eu não consegui'”, disse pastor Márcio. Ele falou que os vereadores se sentem desrespeitados e até “intimidados”. “Claramente. Já pensou se sentir intimidado dentro da sua própria Casa?”, falou.
“Vamos fazer o nosso papel de vereador. Se precisar chamar secretário a esta Casa para dar explicação, vamos chamar. Se precisar abrir CEI [CPI], vamos fazer”, afirmou o presidente. Os 12 vereadores foram eleitos na coligação de Jorge. “Mas não vamos aceitar descer goela abaixo tudo o que ele trouxer à Câmara”, disse Trolesi, que criticou a escolha de alguns secretários. “Quando Jorge foi falar, dos quatro secretários que levantaram, três são cunhados dele”, apontou.
Apesar de irritados, os vereadores só reagiram depois de pergunta sobre a crítica do prefeito. Pastor Márcio chegou a dizer no início da entrevista que “estariam mentindo” se dissessem que não estão sendo atendidos “dentro do possível” pelo governo. Na sessão, disse a Jorge duas vezes “eu não abro mão de sua amizade”. “Não seria ético na cerimônia de aniversário da cidade ficar brigando com o prefeito. Ele fez isso com a gente. Dei a resposta ao que ele cutucou”, disse.
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