ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Um padre da Igreja Católica em Embu das Artes publicou um vídeo em que critica o cardeal arcebispo de São Paulo por ter autorizado uma escola de samba do Carnaval paulistano ter como tema-enredo Nossa Senhora Aparecida. Gian Ruzzi, da Paróquia Todos os Santos no Jardim Santa Emília, diz que a “bênção” de dom Odilo Scherer para Unidos de Vila Maria abordar os 300 anos do achado da imagem é uma “blasfêmia” – o desfile foi na madrugada deste sábado (25).
Ao comentar “Sobre Nossa Senhora e o Carnaval 2017”, padre Gian critica a aprovação do cardeal ao desfile sobre a padroeira depois de transcorrido mais da metade do vídeo, que tem no total quase 17 minutos. Antes, ele diz entender a posição ao considerar que dom Odilo ao dar autorização procurou evitar que a escola fizesse o samba-enredo à revelia da Igreja e a “reação negativa da opinião pública, que já muitas vezes é anticlerical”, à instituição católica.
Depois, porém, Gian diz que o aval poderia ser de caráter “pastoral”, ou seja, posição pessoal do cardeal, mas não com base na “doutrina” e “moral” da Igreja. “O posicionamento do senhor cardeal, dos reitores do Santuário de Aparecida é, no máximo, de linha pastoral. Talvez nem isso, é simplesmente de contenção de danos, de salvaguardar a Igreja de uma reação negativa por parte da opinião pública. Mas não é, de maneira nenhuma, uma posição oficial da Igreja”, diz.
“Entendo a posição do senhor cardeal. Mas a Igreja precisa lidar com princípios. Domingo passado, no Evangelho, o Senhor disse, com clareza cristalina, que seu sim seja sim, não seja não, qualquer coisa além vem do maligno. […] Eu entendo que a presença da imagem de Nossa Senhora, de sacerdotes no desfile, a bênção por parte da Igreja seja, por si só, blasfêmia, ainda que tomaram-se todos os cuidados para não haver mulheres nuas, homens seminus”, comenta.
Mesmo com enredo “fiel à devoção católica a Nossa Senhora”, o “entorno” seria degradante. “O que estará acontecendo nos camarotes, nas arquibancadas, no entorno do sambódromo? Os senhores acreditam que todos estarão com o samba rezando, louvando Nossa Senhora? Sabemos perfeitamente o que acontece no Carnaval: consumo exagerado de álcool, abuso de drogas, impulsos sexuais perdem freios. Não é um ambiente para uma procissão religiosa”, diz.
Padre Gian argumenta que Jesus foi até os pecadores, mas provocou “mudança radical” nas pessoas, não aceitou os atos “iníquos”. “Colocar uma imagem de Nossa Senhora Aparecida num ambiente em que se consome exageradamente bebidas alcoólicas, se abusa do sexo é endossar essas práticas pecaminosas”, diz. Ele ressalta que paróquias têm oferecido retiros espirituais para evitar “excessos” do Carnaval. “E agora a Igreja toma parte dessas ações”, diz.
Padre Gian diz ainda que soube por amigos padres que dom Odilo “pediu, enfaticamente, que os seus padres não participassem do desfile”. “Por quê? É óbvio, não é um lugar adequado para um sacerdote. E se não é um lugar adequado para um sacerdote, será um lugar adequado para a Virgem Maria, para a bênção? Eu acredito que não. Repito, entendo a posição política, conciliadora do senhor cardeal, mas preciso discordar dela com veemência”, finaliza.
Sempre trajado de batina preta e celebrante também de missas em latim, em paróquia na periferia de Embu, Gian é identificado como um padre da ala conservadora da Igreja – chegou a participar de manifestações organizadas por grupos considerados de direita. Ele pertence à Diocese de Campo Limpo, cujo superior hierárquico é o bispo dom Luiz Antônio Guedes, e não dom Odilo. O VERBO não conseguiu contato com a assessoria de imprensa do cardeal.
> VEJA VÍDEO DE PADRE GIAN RIZZI SOBRE NOSSA SENHORA NO CARNAVAL 2017
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