RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
A Justiça Eleitoral de Embu das Artes questionou a leitura de uma carta do prefeito eleito foragido Ney Santos (PRB) na sessão de posse – apenas – dos eleitos do Legislativo, no domingo (1º), na Câmara. Impedido de assumir o cargo por ter a diplomação suspensa em virtude de ser réu por tráfico de drogas, associação a facção criminosa (PCC) e lavagem de dinheiro, em denúncia do Ministério Público de São Paulo, Ney encontrou uma forma de ter “voz” na cerimônia.
Ausente da posse para não ser preso, alvo de mandado, Ney enviou uma carta que foi lida por um assessor no início da sessão (comandada por assessores), em que voltou a negar as acusações, que seriam as mesmas de 2010, e dizer ser vítima de perseguição. “Me acusam de ter envolvimento em crimes, por que não aceitam a ideia de que um menino que veio da periferia possa ser bem sucedido e principalmente possa governar a cidade em que cresceu”, diz ele em trecho.
“Em breve me apresentarei a justiça, ainda não o fiz por que temo ate mesmo pela minha vida, pois não sabemos ate onde pode ir a covardia dos meus adversários. E muitas partes dessa acusação ainda não ficaram claro para mim”, diz. Quando Ney teve a prisão decretada, em 9 de dezembro, o advogado Joel Matos (nomeado chefe-de-gabinete do prefeito Hugo Prado) disse que Ney não fugiu e estava viajando desde o dia 5, mas ele presidiu sessão dois dias depois.
Ney virou alvo de ação criminal, investigado por promotores do Gaeco (grupo de combate ao crime organizado), do Ministério Público de São Paulo, mas com reflexo na Justiça Eleitoral, daí ter tido a suspensão da diplomação, decisão que afetou também a condição de eleito do vice Dr. Peter (PMDB), que não pôde também assumir a prefeitura. É que parte da campanha eleitoral da chapa, que inclui Dr. Peter, foi financiada com dinheiro do crime, de acordo com o MP.
A Justiça Eleitoral também questionou a formação do governo municipal. Nesta terça-feira, o prefeito interino anunciou os secretários municipais nomeados, que, sem exceção, já tinham sido anunciados ou definidos pelo prefeito eleito foragido – Ney tem o grupo de auxiliares diretos que escolheu em ação na prefeitura mesmo impedido de governar. Apesar de impedido de participar do Executivo, o vice Dr. Peter (PMDB) compareceu ao anúncio do secretariado.
“No domingo, assim que tomei posse como presidente da Câmara e interinamente como prefeito da nossa cidade, fiz o convite ao Dr. [Peter] para que, de forma voluntária, nos ajude na condução da nossa cidade no período em que eu estiver à frente. Agradeço muito o senhor por ter aceitado o convite, mais uma vez o sr. mostra comprometimento com nossa cidade e o fato de estar aqui nos traz muita tranquilidade para tocar o governo”, discursou o prefeito Hugo.
Indagado pelo VERBO, o juiz Gustavo Sauaia, diretor do Fórum de Embu, que aceitou pedido de promotores do Gaeco para suspender a posse da chapa Ney-Peter, declarou: “Espero que a Prefeitura seja exercida por aquele judicialmente determinado para tanto, e tão somente por aquele. A chapa eleita só deve administrar, direta ou indiretamente, quando e se houver decisão judicial que assim a autorize, sob pena de indesejável desobediência a ordem da Justiça”.
“Por fim, sobre a carta supostamente redigida pelo Prefeito eleito, é de se estranhar que tenha sido lida na ocasião, pois faz supor que agentes públicos se comunicaram com um foragido, tornando-se coniventes e até apoiadores de tal fuga. Seguramente, não foi uma atitude das mais sábias, trazendo mais suspeitas que orgulho à democracia embuense”, afirmou Sauaia. Após decisão do juiz, Ney teve negado habeas corpus e Dr. Peter, mandado de segurança.
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Agradeço a menção de meu comentário, após ser indagado pelo jornal. Apenas devo esclarecer aos leitores que, desde o dia primeiro, deixei a Justiça Eleitoral em razão do fim de meu mandato. Sigo, como bem informa o jornal, como Juiz estadual nesta Comarca, no Juizado Especial e, por ora, como Diretor do Fórum. Foi nesta qualidade que assisti à cerimônia pela internet, de modo a manifestar meu estranhamento com a situação. Reforço, como diz a matéria, minha expectativa de que as impressões tenham sido meramente casuais e que o prefeito em exercício aja por convicção própria, enquanto a Justiça assim o determinar. De todo modo, qualquer eventual dúvida neste sentido passa a ser da alçada da atual Juíza Eleitoral da Zona nº 341, a qual merece a confiança dos munícipes.
[…] Fonte: Verbo Online […]