Memorial da Resistência expõe cartas de presos da ditadura militar pós-1964

Especial para o VERBO ONLINE

Da Agência Brasil
Da Redação do VERBO ONLINE

O Memorial da Resistência, ex-cárcere de presos políticos no centro de São Paulo, coloca em exposição, desde sábado (10) – Dia Mundial dos Direitos Humanos -, cerca de 70 correspondências trocadas entre presos políticos da ditadura militar pós-1964, seus parentes e amigos entre os anos de 1969 e 1974. “Carta Aberta – Correspondências na Prisão” traz mensagens que foram mantidas guardadas pelos próprios ex-presos e familiares por mais de quatro décadas.

Parte das cerca de 70 mensagens de ex-presos políticos na mostra ‘Carta Aberta – Correspondências na Prisão’

“Você percebe que essas correspondências eram uma forma de eles permanecerem conectados com o lado de fora [da prisão], e também de saber notícias do que estavam acontecendo”, ressalta a curadora e coordenadora do Memorial da Resistência, Kátia Filipini. O memorial fica no edifício que sediou o Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo (Deops), uma das polícias políticas mais truculentas do país, sobretudo durante o regime militar.

O conteúdo das correspondências mostra que os presos buscavam, nas primeiras mensagens, não deixar os parentes preocupados, apesar da situação que encontravam no cárcere. Segundo a curadora, é possível depreender das cartas que eles e familiares, na tentativa de diminuir o risco de a correspondência ser bloqueada pela censura, evitavam alguns assuntos, como a tortura, prática disseminada para obter delação do paradeiro de outros opositores do regime.

“O que se percebe é que, em nenhum momento, no início da prisão, eles falam da tortura. Se estavam presos na Oban [Operação Bandeirante] eram torturados, mas eles não falam para os familiares. Já em cartas posteriores, diziam que os primeiros momentos foram terríveis, mas em nenhum momento entram em detalhes”, diz Filipini. A Oban foi um centro de investigações montado pelo Exército em 1969 que coordenava os órgãos de repressão como o Deops.

A curadora ressalta que, apesar de as cartas tratarem predominantemente da ansiedade pela liberdade e da angústia da prisão, os presos políticos mostravam, nas mensagens, convicção de sua ação – decorrente do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart. “Em nenhum momento eles se arrependem. Eles acreditavam que estavam tentando mudar o regime”, diz. A mostra “Carta Aberta – Correspondências na Prisão” estará aberta até 20 de março de 2017.

EXPOSIÇÃO “CARTA ABERTA – CORRESPONDÊNCIAS NA PRISÃO”
Memorial da Resistência de São Paulo – Largo General Osório, 66 (sala 2, 3º andar), Luz (centro de São Paulo) – gratuita
Quarta a segunda-feira, das 11h às 18h – Tel.: (11) 3335-4990
Informações – memorialdaresistenciasp.org.br

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