Advogado de Ney ‘desafia’ a Justiça e afirma que ‘estamos dando de lavada’

Especial para o VERBO ONLINE

PEDRO HENRIQUE FEITOSA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Um dos advogados do vereador e prefeito eleito de Embu das Artes, Ney Santos (PRB), disse em uma rede social que “estamos dando de lavada” sobre o processo de compra de votos em 2012 a que Ney ainda responde. Apesar da fala “política” e não de bom tom por partir de um advogado, Ney pode ser condenado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo crime eleitoral e mesmo com a vitória nas urnas não assumir a prefeitura – situação que provocaria nova eleição.

O advogado Marcelo Ergesse fez a afirmação no sábado (15) em resposta ao vereador reeleito Doda Pinheiro (PT), que compartilhou reportagem do VERBO sobre a Procuradoria Eleitoral ter dado parecer contrário à candidatura de Ney a prefeito. Na postagem, ao comentar fala de um apoiador de Ney para reconhecer a eleição do vereador ao Executivo, Doda justificou que apenas divulgava um fato. “Boa sorte ao jurídico dele, para mim [a publicação] é realidade”, disse.

O vereador e prefeito eleito Ney Santos (PRB) e seu advogado Marcelo Ergesse em sessão da Câmara de Embu

Em debate sobre processo de 2012 que pôs sub judice a candidatura de Ney, Ergesse se queixou da imprensa. “É legal sim dar informações e o povo embunse precisa ficar bem informado. Mas é legal também comentar e informar quando a gente ganha o recurso por que [sic] até agora só vejo notícias quando sai algum parecer contrário. Quando a gente vence não encontro uma linha sequer noticiando o resultado a favor do prefeito ou parabenizando o jurídico”, disse.

“E, com todo respeito que lhe devo meu amigo vereador e santista igual eu [sic], até agora estamos dando de lavada!!!”, finalizou Ergesse. Ele, com outros advogados de Ney, conseguiu que o presidente do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), Mário Devieene Ferraz, concedesse efeito suspensivo à condenação do vereador por compra de votos. A Justiça Eleitoral de Embu indeferiu o registro, mas o próprio TRE manteve a suspensão, e Ney pôde concorrer a prefeito.

Ergesse fez uma declaração considerada do “nível” de um cabo eleitoral qualquer, mas incompatível e antiprofissional para um advogado dizer em canal público. Para advogados alheios ao processo ouvidos pelo VERBO, sob condição de anonimato, ele “desafia” a Justiça ao sugerir que é “causa ganha” quando o processo ainda está em andamento. Um disse que a fala soa como “deboche” a juízes que já proferiram decisão contrária ao que pleiteou em favor do cliente.

A fala de Ergesse parece ir na linha do próprio cliente. Após ser impugnado, em agosto, Ney atacou o juiz eleitoral Gustavo Sauaia. “Eu não sei qual é a cabeça dele. Tenho uma ordem superior, do Tribunal Regional Eleitoral, um efeito suspensivo que me dá o direito de estar neste cargo e disputar a eleição, mas o juiz de primeira instância quer ir contra decisão de um superior dele. Não existe. É o mesmo que um assessor fazer algo sem o vereador concordar”, disse.

Em março, Ney atacou pela primeira vez ao desafiar Sauaia a disputar uma eleição para interferir no Legislativo e dizer que juiz é para “fazer injustiça” e não “continuar fazendo coisas erradas”. Sauaia frisou que o TRE seguiu a condenação que proferiu contra o vereador e recomendou a Ney, no caso de assumir a prefeitura, “que se acostume com decisões desagradáveis”. Após as eleições, Sauaia advertiu: “As inelegibilidades, confirmadas ou revogadas, seguem sub judice”.

OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, o advogado Marcelo Ergesse respondeu que se dirigiu ao vereador ao se referir a futebol e que “a expressão ‘estamos dando de lavada’ deve ser observada dentro desse contexto”. “A metáfora serviu apenas para lembrar o vereador Doda que por ora, tanto o candidato no voto como seus advogados no campo jurídico, estão saindo vitoriosos”. “Não há na frase deboche tampouco desafio a quem quer que seja”, disse – veja a nota na íntegra abaixo.

POSTAGENS DO VEREADOR DODA E RESPOSTA DO ADVOGADO ERGESSE
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tarjaNOTA DO ADVOGADO DO VEREADOR E PREFEITO ELEITO NEY SANTOS

“Primeiramente, é preciso esclarecer que o comentário a que o Sr. [repórter] se refere foi feito em post pessoal do Vereador Doda em decorrencia de algo que ele mesmo escreveu e em determinado momento desejou “Boa sorte” ao Jurídico do prefeito eleito Ney Santos. Ou seja, minha frase deve ser interpretada dentro desse contexto.
Segundo, o comentário do Vereador se refere a parecer do MP em processo de registro de candidatura de Ney Santos, logo, não estávamos tratando ali do processo que esse veículo de comunicação insiste em chamar de compra de votos (na verdade ė captação ilícita de sufrágio). Importante lembrar que são feitos distintos. Processos que correm em separados.
Terceiro, veja que observei no princípio da frase que o vereador é santista como eu, razão pela qual a expressão “estamos dando de lavada” deve ser observada dentro desse contexto, qual seja, idêntico a quando um time vence o outro. A metáfora serviu apenas para lembrar o vereador Doda que por ora, tanto o candidaro no voto como seus advogados  no campo jurídico, estão saindo vitoriosos. Nada mais que isso.
Dessa forma, não há na frase deboche tampouco desafio a quem quer que seja (nem a justiça, nem ao judiciário e nem a qualquer colega de profissão), mas simples constatação haja vista que me refiro a RESULTADOS JÁ ALCANÇADOS. São vários processos eleitorais contra meu cliente Ney Santos e nenhuma condenação ainda transitada em julgado sendo que o mesmo ainda se mantém na presidência da Câmara e foi eleito prefeito quando boa parte das opiniões diziam que não seria.
Por fim, lembro-me que a postagem em tela foi escrita por mim num final de semana. Ao longo da semana que se iniciou na sequência me encontrei com o vereador Doda na Câmara Municipal e descontraidamente conversamos sobre o assunto  num clima de respeito e amizade e o mesmo não manifestou contra mim, pelo menos naquele momento, qualquer desconforto pelo que escrevi. Todavia, caso ele tenha mudado de opinião estou a disposição para esclarecer com ele qualquer dissabor gerado no episódio.

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