RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Morreu na madrugada desta quarta-feira (19), aos 68 anos, o artista plástico sacro Cláudio Pastro, um dos mais notáveis e renomados profissionais da área no país e no exterior, autor também de várias obras centrais em igrejas em Taboão da Serra e região. Nascido em São Paulo, em 1948, ele estava internado há 15 dias no Hospital Oswaldo Cruz, na região central da capital paulista, e faleceu em decorrência de complicações de um AVC, o derrame cerebral.
Pastro será velado e sepultado na região, no Mosteiro Nossa Senhora da Paz no Potuverá, das monjas beneditinas, em Itapecerica da Serra. O enterro, às 17h, será precedido de missa de corpo presente, celebrada pelo arcebispo de Aparecida, cardeal dom Raymundo Damasceno, entre outros bispos e padres – “em ação de graças por sua vida e ressurreição”, conforme a Igreja. Ele era seguidor da espiritualidade beneditina, inclusive detinha o título de oblato.
Entre mais de 350 obras no Brasil e no mundo, Pastro é responsável pela concepção artística do Santuário Nacional de Aparecida – é autor do nicho que abriga a imagem de Nossa Senhora, dos desenhos no altar e de mosaico que está sendo feito na cúpula central da basílica, além da arte para a medalha em comemoração aos 300 anos da descoberta da imagem da santa e de monumento com mais de quatro metros de altura também pela passagem do tricentenário.
Entre os trabalhos na região, Pastro pintou o painel do altar do Santuário Diocesano Santa Terezinha em Taboão da Serra, o do Santuário Nossa Senhora dos Prazeres em Itapecerica e também o grandioso painel – com várias passagens bíblicas – da moderna Catedral de Campo Limpo (zona sul de São Paulo). Ainda na periferia da metrópole, idealizou a cena do batismo de Jesus diante da pia batismal e o crucifixo da Paróquia São João Batista no Pirajuçara, em Taboão.
Além de pinturas, Pastro produziu as peças sacro-litúrgicas usadas pelo papa Francisco durante visita ao Brasil, em 2013, na Jornada Mundial da Juventude – dos cálices e mobiliário aos paramentos das celebrações, foi o artista plástico que elaborou. Em 2007, ele projetou a capela anexa aos aposentos utilizados pelo papa Bento 16 durante visita ao Santuário de Aparecida, para abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americana e do Caribe (Celam).
Pastro se contrapôs ao realismo – formas “cruas”, como a representação “natural” do corpo de Cristo com chagas na cruz – seguido pela Igreja sob influência da Teologia da Libertação (corrente do catolicismo que prima a religião como elemento de transformação social), nos anos 1970 e 80, época em que ouvia do clero que arte era “luxo”. Ele adotou, porém, a simplicidade dos traços simbólicos, contra o rebuscamento da igreja europeia, e irritou os conservadores.
“Este irmão, com quem pude ter boa amizade, serviu a Igreja no Brasil e em outras partes do mundo com seu dom extraordinário na área litúrgica. Na ressurreição, vai cantar as maravilhas de Deus eternamente”, declarou dom Gil Antônio Moreira, responsável pelos bens culturais na Igreja em Minas. Em 2000, no Jubileu dos Artistas, com a presença de dom Gil, Pastro participou na Catedral de Campo Limpo de mesa-redonda em que falou sobre o ofício da arte sacra.