ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O secretário de Cultura de Embu das Artes, Alan Leão, diz que a prefeitura repetiu neste ano o Carnaval proporcionado em 2013 aos moradores e visitantes da cidade, mas com economia aos cofres municipais. “Conseguimos fazer a nossa festa, com mais segurança inclusive, e economizamos R$ 86 mil”, afirma. Ele argumenta que três blocos que desfilaram no ano passado, entre eles o Kambinda, da artista plástica Raquel Trindade, deixaram de fazer parte da programação não por perseguição política, mas por não concordarem em dividir com a administração os custos da participação dos grupos. Alan diz ainda que a briga como a registrada no segundo dia do evento “acontece” e que por um “caso específico” – isolado – “não se pode detonar a festa”, mas “vamos corrigir na próxima”. Leia a “Entrevista da Semana”:
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VERBO ONLINE – Como está acontecendo o Carnaval de Embu neste ano?
Alan Leão – Neste ano, conseguimos planejar junto com a Associação de Guardadores de Carro, foi um diferencial. Montamos a associação dos comerciantes, e cada barraqueiro se organizou para estruturar melhor o serviço. Tivemos neste ano a ótima participação da Polícia Militar.
VERBO – Quantos policiais estão cuidando da segurança?
Alan – São 80, o normal é que teria 40 policiais, vieram com o dobro para poder contribuir conosco. E temos ainda seguranças particulares e guardas municipais, ao todo, são 150 seguranças.
VERBO – 150 contando as forças policiais?
Alan – Isso, policial, guarda municipal e segurança contratado.
VERBO – Contratado pela prefeitura.
Alan – Pela prefeitura. São 35 seguranças contratados, 25 homens e 10 mulheres.
VERBO – Quanto custou o Carnaval – para o contribuinte de Embu?
Alan – O Carnaval neste ano custou R$ 104 mil. Esse é o preço de estrutura, contratação dos serviços, da banda, de banheiros químicos; contratação de pessoas, alimentação, comunicação, ou seja, divulgação, iluminação, gerador, barraca, tenda… Neste ano conseguimos economizar – este é um dado importante. Até o ano passado, gastávamos no Carnaval R$ 190 mil. Neste ano, conseguimos fazer a mesma festa, inclusive com mais segurança, e economizamos R$ 86 mil.
VERBO – Como a secretaria conseguiu?
Alan – Otimizamos despesas, fizemos parcerias para poder custear, principalmente, os serviços, que são o mais caro. Por exemplo, o palco, o som, que é sempre caro. Tivemos parceria da Recom Eventos, da Sincoplastic. Por esse motivo, conseguimos economizar bastante, para os quatro dias de Carnaval.
VERBO – Qual a programação para o último dia de Carnaval [nesta terça-feira]?
Alan – Teremos o desfile dos blocos. Outro avanço neste ano é que os blocos criaram uma liga. É muito legal para a cidade, eles se organizando, formalmente inclusive, conseguem captar recursos, através de leis, festivais, conversar com empresários, conseguem ser mais autônomos também. Até o ano passado, a prefeitura fazia todo o investimento. A partir deste ano, investimos um pouco, e quanto ao outro tanto, eles estão se mobilizando para conseguir recurso.
VERBO – Os blocos Kambinda, Menino Arteiro e Desbunda Artes acusam a prefeitura de os ter preterido [não ter recebido verba e não participar da programação oficial do desfile].
Alan – Temos na cidade seis blocos, que desfilaram no ano passado – Meninos do Morro, do (Jardim) Santa Tereza, o Santa Tereza, do Barata, Zumaluma, Menino Arteiro, da Casa de Cultura [Santa Tereza], e o da Raquel Trindade, do [Teatro] Solano Trindade [o Kambinda]. Temos três instituições na cidade que trabalham no Carnaval, vivem do Carnaval, que fazem festa para o Carnaval. E as outras três são instituições que no Carnaval se mobilizam junto às pessoas e fazem os blocos. O que queremos é incentivar quem vive do Carnaval, que tem costureira, músico, instrumentos, tem espaço para ensaiar. Quisemos, neste ano, estruturar [fazer o desfile] com os três blocos que vivem do Carnaval. O que aconteceu, de verdade, é que resolvemos dividir o recurso e o custo do Carnaval com os blocos. Em 2013, financiamos todos os blocos. Neste ano, apresentamos uma proposta para os seis blocos – o Desbunda Artes não participa. A proposta é que a prefeitura financia a metade e os blocos, a outra metade. Os blocos que vivem do Carnaval já fazem eventos, juntam a graninha deles, e a prefeitura entra com a outra metade. As associações não fazem isso e querem que a prefeitura custeie tudo. Só que tem um outro problema. Além de não podermos custear tudo, a cada ano nascem mais associações que querem ser bloco! Além das três, havia mais sete que também queriam ser bloco. Como vamos custear? Não temos condição. A nossa ideia, a ideia do prefeito Chico Brito é formalizar o Carnaval, ajudar a profissionalizar. A nosso ver, esses três blocos estão muito mais à frente – não desmerecendo os outros – do que as associações. Três associações estão reivindicando realmente, mas temos uma resposta: elas não concordaram em assumir a outra parte. Além das três, temos 500 no município. Por que três, e não as outras também? Por exemplo, Marcos Guarani, que tem uma associação no Jardim Irene, ele faz uma baita festa de Carnaval, tem bloco. Eles querem participar. Temos no São Marcos, no Vazame, na associação do Jardim Independência. Todos querem entrar. Abrimos a discussão: por que a prefeitura até hoje não financiou as três associações? É para mais gente ou vocês dividem, e a prefeitura ajuda. É isso, para desvendar esse mistério. Em resumo: os blocos que vivem do Carnaval resolveram financiar a metade, e quem não vive do Carnaval quer que a prefeitura financie todo o desfile, e não temos condições.
VERBO – O que o sr. tem a dizer da briga que aconteceu nesta segunda-feira, no terceira dia do Carnaval?
Alan – Sinceramente, não vou considerar como um abriga. Uma pessoa estava super alterada, já era a última música, terminamos às 10 e meia. Quando deu esse horário, o camarada se estranhou com o outro. Tivemos o primeiro dia com tudo tranquilo, o segundo, e o terceiro, também, tanto que a discussão não durou nem segundos, o policiamento já veio, contornou, e já estava na hora de terminarmos mesmo. É um risco que corremos quando queremos fazer uma festa grande, de ter algum desentendimento. Quando tem, temos que estar preparados, como estávamos, com policiamento intensivo, e abafou a situação. Amanhã [hoje] estaremos aqui trabalhando para que as pessoas possam curtir a festa, se divertir, que é o objetivo da prefeitura, a direção do prefeito é essa.
VERBO – A venda totalmente liberada de bebida alcoólica não contribui para isso?
Alan – A recomendação para as nossa barracas é de que não vendam bebida alcoólica para menores e nem litros de bebida.
VERBO – O chão aqui está tomado por litros, inclusive vários cacos de garrafa espalhados por toda a área do parque Rizzo, e havia muitas crianças presentes.
Alan – Temos duas saídas: conscientizar, educar, o que estamos fazendo o tempo todo, conversando, falando ao microfone: “Pessoal, não traga garrafa”. Como não estamos proibindo, as pessoas trazem de fora.
VERBO – Mas não é o caso de proibir? Não se trata de cerveja, mas de bebidas destiladas, de alto grau alcoólico, que com uma pequena dose já deixa as pessoas alteradas.
Alan – Proibir não é uma decisão simples, este é um espaço público, aberto, é preciso muito cuidado para lidar com isso. Eu já pedi ajuda principalmente para o policiamento, foi uma orientação das polícias Militar e Civil de não proibirmos. Quando proibimos, também temos retaliações, já aconteceu em outras festas.
VERBO – [Retaliações] De que natureza?
Alan – Policiais contando que, em rodeios, festas grandes, quando se proíbe, os meninos ficam do lado de fora do evento, mas fazem bagunça, quebram vidro de carros etc. Mas já conversamos, a partir do ano que vem vamos ter que montar catraca para tentar conter isso. E não é só proibir a garrafa, é preciso olhar a bolsa da pessoa, revistar a pessoa. Isso tem que ser educativo, temos que fazer uma campanha antes para conscientizar, para nós é muito fácil botar uma barreira e proibir, inclusive é o que a PM quer, mas isso gera outras questões, inclusive de segurança, de rebeliões. Estamos aprendendo a lidar, mas é sim uma preocupação minha, e vamos corrigir na próxima.
VERBO – Um morador que estava aqui junto come a esposa e filha, e amigos também com crianças, disseram que situações como a briga que aconteceu só afastam as pessoas do Carnaval da cidade, principalmente as famílias.
Alan – Temos essa resposta do público, e temos outras, boas. Hoje, tivemos aqui 9 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. E tinha muitas famílias, se estavam aqui, estavam curtindo, estavam felizes. Não é por conta de um caso que se vai botar água no feijão e detonar o evento. Todo evento – particular, fechado, dentro de estádio – tem risco de ter uma briga, não é por isso que vamos deixar de fazer. Agora, acontece mesmo de não conseguirmos ter total atenção a todas as pessoas, e ainda é uma festa noturna. Teve essa família, mas também várias que ficaram e curtiram.
VERBO – A família ficou até o momento da briga, depois, foi embora. Não se trata de desqualificar ou criticar a festa, aconteceu um problema de segurança que poderia ter consequências graves.
Alan – É uma opinião sua. A minha opinião, do policiamento militar, da Guarda Municipal, dos seguranças, é que aconteceu como poderia ter acontecido em qualquer lugar, como já aconteceu dentro de shopping. E pode acontecer mesmo, não estamos isentos disso. Pode acontecer dentro da nossa casa. E ponto. Mas vamos deixar de fazer?
VERBO – O que o sr. pode dizer para as famílias que esperam não presenciar uma cena de briga?
Alan – Eles [frequentadores em geral] também ajudam a fazer o Carnaval, e que não vamos conseguir impedir tudo. Fazemos a festa, ficou claro para todo mundo que teve um caso específico de um camarada que se alterou, foi vaiado, foi muito vaiado, o que podemos fazer mais? Cuidar para que amanhã não aconteça, estar mais atento, mas não se pode pegar esse momento e detonar a festa.
VERBO – O Carnaval no ano que vem terá providências para aumentar a segurança?
Alan – Neste Carnaval já aumentamos a segurança. Não é só isso também, temos que ter estratégia, é preciso pensar melhor sobre o espaço, o policiamento deu várias dicas, e vamos, com toda humildade, pegar e fazer melhor.
VERBO – Qual foi a recomendação da PM?
Alan – Tentar criar no ano que vem um acesso de entrada e outro de saída, foi essa a dica. Mas os bombeiros já não concordam, falam que temos que ter num espaço grande cinco saídas de emergência, e não podemos ter catraquinhas, em um incêndio ou briga as pessoas não teriam como sair. Temos que sentar, estudar, ver como melhorar para o ano que vem.
VERBO – O que achou da atitude da banda de acabar com o show quando aconteceu a briga?
Alan – Era a última música mesmo, pararíamos às 10 e meia [da noite]. A orientação nossa é que quando acontecer tal situação ajudemos lá do palco o policiamento a se deslocar o mais rápido possível. Foi o que aconteceu.