ANA CAROLINA RODRIGUES
Especial para o VERBO ONLINE
O deputado federal pastor Marco Feliciano (PSC-SP), ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos de Câmara dos Deputados, foi acusado na sexta-feira (5) pela jornalista Patrícia Lelis, 22, ex-militante do PSC Jovem, de assédio sexual, tentativa de estupro e agressão. Feliciano é “Cidadão Embuense”, título aprovado há exato um ano pela Câmara por iniciativa do vereador Ney Santos, então do PSC, em afago à comunidade evangélica que foi até criticado por aliado.
Patrícia disse a “O Estado de S. Paulo” que Feliciano a atraiu para seu apartamento funcional, em Brasília, no dia 15 de junho. “Ele falou que tinha uma reunião do PSC Jovem, mas quando cheguei lá só estava ele”, afirmou. A jornalista contou que ele propôs que fosse sua amante em troca de cargo no partido e salário de R$ 15 mil. “Ele tentou me arrastar para o quarto e tirar meu vestido. Como eu resisti, ele me deu um soco na boca e um chute na perna”, disse.
Patrícia disse que só escapou porque uma vizinha do deputado ouviu seus gritos e tocou a campainha para saber o que acontecia. Acompanhada da mãe e de advogada, ela acusou também o presidente nacional do PSC. Relatou que, em 16 de junho, procurou por ajuda no partido, mas ouviu como resposta uma oferta. “O Pastor Everaldo me deu uma sacola de mercado cheia de dinheiro e disse que era para eu ficar quieta”, disse. Falou que ele também a ameaçou de morte.
Patrícia afirmou também que logo depois do episódio se encontrou com o chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, em um café. A jornalista gravou a conversa entre os dois e enviou o arquivo a amigos com a orientação de que deveria ser divulgado caso algo acontecesse com ela. Ela disse que, mesmo após ter deixado Brasília, continuou a ser assediada por Bauer e que o assessor do deputado a forçou gravar dois vídeos em que negava as agressões e elogiava Feliciano.
Na sexta, Patrícia acusou o funcionário de Feliciano de sequestro qualificado (cárcere privado). Ele a teria coagido a gravar os vídeos. Ela disse que Bauer entregou R$ 21 mil para que não denunciasse o caso. Ele foi conduzido ao 3º Distrito Policial no centro de São Paulo, mas liberado na madrugada deste sábado. Após dizer que pediria a prisão preventiva de Bauer, o delegado Luís Roberto Hellmeister disse que ele não representa risco à segurança da jovem.
Feliciano divulgou neste sábado um vídeo em que se defende das acusações de tentativa de estupro, assédio sexual e agressão e diz ser alvo de ataques a sua moral e que vai provar ser inocente. “Quero dizer que, embora esteja com o coração machucado, com minha família toda sofrendo, não vou julgar essa moça. Espero que Deus a perdoe, embora espero que ela seja responsabilizada pela falsa comunicação de crime”, diz Feliciano, ao lado da sua mulher, Edileuza.
Pastor Everaldo nega ter oferecido dinheiro a Patrícia – ela também acusa o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), que teria participado da reunião. “Não conheço essa história. Não sei do que se trata”, declarou Everaldo. Ele disse que o tema será tratado no partido nesta terça-feira e será criada uma comissão interna para averiguar o caso. Na quarta, a Procuradoria Especial da Mulher no Senado enviou ofício para que o Ministério Público Federal investigue Feliciano.
A Câmara aprovou o título de cidadão embuense a Feliciano em 5 de agosto do ano passado. No sábado seguinte, dia 8, durante o Conectados em Cristo no parque Rizzo, o deputado esteve em Embu e recebeu a placa – no evento, a deputada estadual Analice Fernandes (PSDB) também recebeu a honraria. Feliciano agradeceu pela homenagem e disse que Embu é abençoada. “Esta cidade de Embu das Artes será conhecida como a cidade de adoração”, disse.
Feliciano foi exaltado por Ney, que o chamou de “homem de Deus”. “Eu acompanho o seu maravilhoso trabalho e vejo o preço que você paga por nós, pela família. Você é um homem de fé”, disse. Na sessão, porém, Júlio Campanha (PRB), aliado de Ney, votou contra. “A aprovação do projeto causou uma agitação, isso porque o vereador Júlio Campanha foi contra por defender que o pastor não tem articulação política na cidade para receber tal título”, relata o site da Câmara.