Negro, Lopes é alvo de repúdio em exposição sobre mulheres negras em Taboão

Especial para o VERBO ONLINE

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

A abertura da exposição “Mulheres negras: cultura e protagonismo” – com 24 fotos de mulheres que lutam pela causa racial – se tornou, de forma inusitada, um ato de repúdio a uma pessoa negra, o vereador Eduardo Lopes (PSDB), na Câmara de Taboão da Serra, na noite de segunda-feira (30). Na sessão no último dia 17, Lopes perguntou à vereadora Luzia Aprígio (PEN) com quem dormia durante todo o tempo em que está casada e provocou protesto de mulheres.

No evento, Luzia contou ter sido alvo de ataque machista por parte de Lopes e também do vereador André da Sorriso (PSDB). “Em duas sessões seguidas eu fui atacada por vereadores. Um disse que o meu lugar era em casa. Respondi que o meu lugar é onde eu quiser. Na terça seguinte, o outro vereador teve a coragem de perguntar com quem eu dormia nesse tempo todo que eu estou casada. Eu achei um deselegância total como ele se referiu”, disse a vereadora.

Eliane Dias, do SOS Racismo, que criticou vereador; Lopes e André em sessão com protesto
Lopes e André em sessão que teve protesto de mulheres; Eliane, ao lado de Luzia, defende cassação de Lopes

A coordenadora do SOS Racismo da Assembleia Legislativa discursou em solidariedade a Luzia e a incentivou a buscar a cassação de Lopes. “Eu não sei quem é o vereador. Não sei de que partido ele é. Não sei se ele é negro ou branco. Sei que ele é um homem. Sendo assim, ele tem obrigação de respeitar e se fazer respeitado. Ele não pode dizer para ela com quem tem dormido nos últimos anos, isso é uma falta de decoro parlamentar”, disse Eliane Dias depois ao VERBO.

Eliane disse que as mulheres representam 52% da população brasileira e que o vereador, se não respeita pela questão de gênero, pelo menos deve respeitar “pelo voto que vai precisar”. A reportagem informou que o parlamentar alvo de reprovação na abertura da exposição em exaltação à causa racial é negro. “Ele é negro, mas continua sendo homem. Eu jamais vou admitir que homem negro, índio, amarelo ou branco maltrate uma mulher, isso é inadmissível”, afirmou.

O ex-vereador Paulo Félix (PC do B) disse que em seis mandatos “nunca presenciei” um desrespeito a uma vereadora como o visto agora. Já o ex-vereador Aprígio (PSD), marido de Luzia, xingou Lopes e André de “canalhas”. “Quando eu vejo um vereador eleito em Taboão da Serra subir a essa tribuna e dizer que lugar de mulher é em casa, não dá para perdoar. Um homem.. homem, não, canalha. E diz que estudou, é doutor [em referência a André, dentista]”, disse.

“Eu sou casado há 39 anos. Nunca eu e nem a minha mulher dormimos uma noite fora de casa. Aí você vê outro vereador dizer ‘com quem você [vereadora Luzia] dorme esse tempo todo’. […] Esse [Lopes] seguramente posso chamar de falso pastor. […] Dá para chamar um cara deste de canalha sem pedir desculpas para ninguém”, reagiu ainda Aprígio. Lopes é presidente de CPI na Câmara que investiga a Cooperativa Vida Nova, presidida por Aprígio.

OUTRO LADO
O VERBO não localizou Lopes nem André. No dia 24, Lopes negou ser machista. “Eu indaguei com quem ela dormia nos últimos 20 anos para que o marido não soubesse [sobre CPI]. Como pode o Aprígio [não] ser notificado [após] oito vezes e alegar nas redes sociais que não sabia? É muita covardia a sessão de hoje. As pessoas que estavam aqui tinham um lado, ovacionaram a fala da Luzia. Tudo combinado. Repudio essa pecha que tentaram colocar em mim”, disse.

Mais “habilidoso”, logo após sugerir que lugar de mulher é em casa, e não no parlamento, André publicou declaração no próprio dia 24 em que diz que nunca foi machista. “Quero esclarecer que um discurso feito na Câmara de Taboão foi interpretado de forma errada. Não sou e nunca foi machista. Eu respeito, admiro e valorizo muito as mulheres, em qualquer área profissional e política”, afirmou. Ele disse trabalhar com muitas mulheres no gabinete e no consultório.

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