Pastor assessor de Ney faz sermão em missa de Fátima e deixa fiéis indignados

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Um religioso ligado ao presidente da Câmara, Ney Santos (PRB), fez na sexta-feira (13) a pregação da missa na Igreja Nossa Senhora de Fátima e deixou fiéis que estavam na celebração indignados. O pastor Marco Roberto da Silva, o segundo principal assessor do gabinete do vereador, usou a homilia, reservada ao padre, para falar de Nossa Senhora, mas fez elogios ao chefe e foi acusado de fazer campanha para Ney, que é pré-candidato a prefeito de Embu das Artes.

O padre Lourivaldo Gonçalves, responsável pela Paróquia Santa Inês que abrange a comunidade no Jardim Nossa Senhora de Fátima, convidou o religioso para falar no momento da pregação por ser amigo e para “testemunhar” uma graça recebida através de Nossa Senhora. “Eu convidei o pastor justamente por causa da amizade que tenho com ele e pelo testemunho bonito que ele tem de Nossa Senhora, como ele mesmo falou na homilia”, disse Lourivaldo ao VERBO.

“Eu conheço ele desde que eu cheguei aqui no Embu. Ele também foi seminarista”, justificou o padre, que, porém, não soube dizer onde ele fez os estudos para o sacerdócio. Disse ser um “pastor anglicano”. Ao VERBO, a Igreja Anglicana em São Paulo disse que o clérigo anglicano é tratado por reverendo, não pastor, e que o religioso não é membro da igreja. Na verdade, Marco Roberto é da igreja neopentecostal Comunidade Carismática Aviva, fundada por ele próprio.

Padre Lourivaldo nega que teve a intenção de promover a imagem de Ney, de quem o pastor foi chefe de gabinete até o mês passado e hoje é assessor parlamentar III (abaixo só um nível), conforme o site da Câmara. Ele diz ainda que não apoia o “projeto” de Ney de ser prefeito, apesar de participar de diversos eventos de pré-campanha do vereador, o que não acontece em relação a outros pré-candidatos como Geraldo Cruz (PT), rival de Ney e que também estava na missa.

Fiéis repudiaram, porém, a pregação do pastor e associaram a presença dele na missa à promoção da pré-candidatura de Ney. “Não vejo nenhum mérito, todos os protestantes sabem do valor que Nossa Senhora tem, e se o pastor falou bem dela não fez mais do que é sua obrigação como cristão. E vejo também um fundo político com sua presença na igreja católica, pois onde esse homem vai leva consigo a campanha de Ney Santos”, disse José Cícero em rede social.

“O padre Lourivaldo deixou o pastor ‘fazer a homilia’ na missa da padroeira. Ele fez campanha descaradamente para o Ney na fala dele. Foi uma vergonha!!!”, reagiu um fiel que preferiu não se identificar. No fim da “homilia”, Marco disse: “Presidente Ney Santos, obrigado pela oportunidade de caminhar ao seu lado, porque assim Deus tem me concedido momentos tão importantes como esse. Que Deus abençoe sua vida” – sem atribuir o convite à amizade com o padre.

Procurado pelo VERBO, o bispo de Campo Limpo, dom Luiz Antônio Guedes – superior hierárquico do padre Lourivaldo -, disse que a orientação da diocese local e no país é de que nenhum membro do clero católico defenda uma bandeira partidária, mas que promova os valores cristãos. “A Igreja orienta que a gente [clero] deve sempre trabalhar na promoção dos valores da educação, dos valores cristãos, e não propriamente assumir uma opção partidária”, disse.

Dom Luiz disse desconhecer qualquer posicionamento partidário de Lourivaldo, mas frisou que “não compete a nós [clero] promover um determinado candidato, e sim aquilo que são os valores”. O padre citou a Semana de Unidade dos Cristãos para justificar. Padres da diocese questionaram reservadamente o convite por não ser culto ecumênico, mas sobretudo que não foi prudente por ser um pastor vinculado a um candidato e condenaram o “uso político” do sermão.