ANA PAULA TIMÓTEO
Especial para o VERBO ONLINE, em Itapecerica da Serra
Moradores de Itapecerica da Serra lotaram o plenário da Câmara Municipal na noite desta terça-feira (29) em protesto contra o retorno dos vereadores Cícero Costa (PSDB), Cléber Bernardes (PMDB), Fabinho Gêmeos (PV) e Hércules da Farmácia (PMDB) ao Legislativo. Cícero, Cléber e Hércules ficaram presos durante cem dias, e Fabinho ficou foragido, denunciados por peculato (subtração ou desvio de dinheiro público), na Operação Redenção.
O rombo nos cofres da Câmara atinge vereadores, ex-vereadores, funcionários e ex-funcionários, parentes e conhecidos de parte dos denunciados, em investigação iniciada com a descoberta de desvio somente em 2013 de R$ 2,5 milhões. Segundo o Ministério Público, a fraude milionária ocorreu também em anos anteriores e posteriores, nas presidências de Amarildo Chuvisco (PMDB), hoje prefeito, e Cícero, e chegaria a R$ 10 milhões.
Os vereadores são acusados de terem recebido adiantamento irregular de salário. Ele negam e afirmam que os valores foram devolvidos com descontos em folha de pagamento. Com ânimos exaltados, população e vereadores trocaram acusações em meio a gritaria. A Guarda Municipal esteve de prontidão e impediu o acesso aos parlamentares. Afastados desde novembro de 2015, os vereadores fizeram uso da palavra e foram a tribuna em defesa própria.
Em vários momentos os discursos foram interrompidos pela população que em meios a vaias chamava os vereadores de “bandidos”, “mentirosos”, “covardes” e “ladrões”, dizia “que eles eram culpados, e não deveriam ter voltado à Câmara”. “O povo está cansado de tanta palhaçada. Estou indignado”, disse o morador José do Nascimento Neto, 33, que junto a outros munícipes segurava placas com palavras de protesto contra os parlamentares réus do desfalque.
Com apoio de um grupo que usava camisetas e exibia faixas em seu favor, Cléber disse não ter feito nada de ilegal e que espera ser inocentado ao final do processo. Afirmou ser a favor da manifestação popular, desde que não pautada pela mentira. “Quem quiser a verdade é só buscá-la através da minha assessoria ou dos advogados. Estou sendo investigado sim, porém a Justiça me deu a oportunidade de mostrar que não lesei, não roubei, não desviei nada, de lugar nenhum”, declarou.
Sob gritos de “foragido” de moradores, Fabinho Gêmeos (PV) leu um documento em que alegou ter sido orientado por seus advogados a não se apresentar durante o início das investigações, e assumiu ter recebido o pagamento adiantado, porém disse que não cometeu nenhum crime. O vereador alegou não ser obrigado a ter conhecimento de RH [recursos humanos] e da parte jurídica e que essas questões cabem ao corpo jurídico da Câmara Municipal.
“Adiantei sim do meu salário R$ 2.800, parcelei em quatro parcelas de R$ 700. Paguei a primeira em setembro, a segunda em outubro, a terceira em novembro, e a quarta em dezembro de 2014. Esse adiantamento foi oferecido sim pelo departamento de RH. Não só para mim, como para mais alguns funcionários dessa Casa. Gostaria de saber o critério usado pelo Ministério Publico, outros funcionários também quiseram e não passaram o constrangimento que eu passei”, disse Fabinho.
Hércules da Farmácia disse ter sido citado em duas linhas em denúncia do MP e ter como provar o pagamento do dinheiro que recebeu. “Eu tenho todos os contracheques, holerites, cheques comprovando que foi descontado o adiantamento que eu fiz, todas as cinco parcelas, eu tenho tudo aqui que comprova. Está disponível para a imprensa, os munícipes que quiseram ter acesso, esses documentos estão comigo, mostro sem constrangimento nenhum”, disse.
Os vereadores acusados de desvio de dinheiro público da Câmara continuam a responder ao processo, mas voltaram ao Legislativo por serem ainda apenas réus, não terem sido julgados e condenados, inclusive podem ser candidatos nas eleições neste ano. Após a sessão, algumas pessoas continuaram a protestar do lado de fora da Câmara com cartazes e apitos, e pediam aos motoristas que ajudassem a reforçar a manifestação com o barulho da buzina.