ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Um atendimento no Pronto-Socorro Antena capaz de transformar indignação já imensurável em revolta absoluta. A família de Rosimeire Manfrim transpira o sentimento desde que soube que a cuidadora de idosos foi atendida por falso médico e sofreu até a morte – que na última quarta-feira (9) fez seis meses. Mãe e irmã não hesitam em afirmar que o governo Fernando Fernandes (PSDB) e a organização privada SPDM, gestora do PS, são “culpados” pelo óbito da jovem.
Rose, como chamada, de 25 anos, deu entrada no PS de Taboão da Serra com febre de quase 40º e dor de cabeça, foi atendida por médico que falou que era para passar com dermatologista e recebeu três injeções. Mandada para casa, não conseguia mais levantar com dor nas pernas e abdômen. Três dias depois, foi atendida pelo mesmo médico, que falou que o exame de sangue não deu nada. Na tarde seguinte, Rose não resistiu a paradas cardiorrespiratórias.
Rose foi atendida no Antena, nas duas vezes, pelo falso médico Pablo do Nascimento Mussolim – que utilizava CRM e nome de Pablo Galvão, um profissional do Rio Grande do Norte. Logo após a morte de Rose, a família foi até a Câmara exigir “justiça” e foi ouvida e chegou a ser recebida pela secretária Raquel Zaicaner, mas as autoridades silenciaram após se descobrir que o Antena atendia com um falso médico – preso quatro meses depois na região de Sorocaba (SP).
“Botaram um médico falso dentro de um hospital público? Como ele teve a facilidade de arrumar um documento e se passar por outra pessoa, não tem foto no CRM que comprove quem fez [medicina]? Eu queria uma resposta deles, mas em nenhum momento procuraram a gente, a [vereadora] Joice Silva não veio conversar. Quem cala tem culpa”, disse a irmã Graciele Manfrim ao VERBO, que revelou o caso da morte de Rose e voltou à casa da família na semana passada.
Raquel, quando fez reunião com a família de Rose, “explicou que ia tomar providência, investigar”. “Nada foi feito, não quiseram ir atrás, não estavam fazendo investigação nenhuma sobre o caso. E não tem só o dela [da Rose], tem o do Hélio, que morreu vai fazer também seis meses, por erro que até foi dela”, disse. O gesseiro Hélio Milke, 29, morreu sob suspeita de dengue após ir quatro vezes à UPA Akira Tada e duas ao Antena e chegou a ser examinado pela secretária.
Para Graciele, a direção do PS Antena poderia ter evitado a ação do falso profissional. “Uma investigação teria que ser feita antes da contratação dos médicos, vai saber também se a Fernanda não é uma falsa médica, se outros médicos que estão aí também não são falsos. Quem me garante?”, disse, ao se referir a Fernanda S. Bartolli, que prestou atendimento no dia em que Rose morreu e também é acusada pela família de demora e “descaso” no socorro à jovem.
“Eu não passo [em PS] no Taboão de jeito nenhum”, completou Graciele. “Eu aconselho todo mundo também a não passar no Antena, eu falo: ‘Lá é um açougue, está matando mesmo!’ Uma vizinha tirou uma amiga de lá que estava se esvairando em sangue, chamava enfermeiro, ninguém vinha, diziam que não tinha agulha”, disse a mãe Janalúcia Maria. “O Antena tem que fechar sim, ou coloquem profissionais que gostem da profissão, os que estão aí não gostam”, falou.
Graciele aponta que a secretária e a SPDM são “culpados” pela morte de Rose. “Na Câmara, eles deixaram bem claro que tinham os melhores profissionais, médicos supercompetentes”, disse. “Fernando Fernandes e Raquel puseram a SPDM lá dentro, todos eles são culpados pela morte da minha filha, e eu quero resposta, eles acharam que a gente tinha se calado, porque ficou tudo calmo. Eu não perdi só a Rosimeire, eles tiraram um pedaço de mim”, falou Janalúcia.
OUTRO LADO
A secretária Raquel, que deveria tratar do caso como titular da pasta da Saúde, se recusou a falar com a imprensa em audiência pública há um mês na Câmara e tem adotado a conduta de preterir veículos de comunicação para não ter que responder a questionamentos “indesejados”. Na mesma reunião, o superintendente da SPDM Jorge Salomão também “correu” ao sair por porta lateral em tentativa de despistar os jornalistas depois de pedir que o aguardassem.
Procurada pelo VERBO, Joice Silva (PTB), presidente da Comissão de Saúde da Câmara, afirmou: “Assim que eu tiver toda a documentação, todos os esclarecimentos [por parte do CRM e da Saúde], vai ser chamada tanto a mãe da Rose quanto a família do Hélio, para que possam ver tudo que foi apurado, o trabalho que a comissão teve para apurar os fatos. Temos que trabalhar de forma responsável para saber o que realmente aconteceu, quem foi o culpado, se teve culpado, para que possamos tomar as medidas cabíveis enquanto Câmara. Agora, estamos fazendo a nossa parte”.
A responsabilidade pela qualidade do atendimento de saúde pública na cidade é da prefeitura, que faz politicagens com sua secretaria de saúde, nunca tivemos uma situação tão ruim como agora, os políticos fingem que está tudo bem.