RÔMULO FERREIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Em nova queda-de-braço com vereador adversário, o presidente da Câmara de Embu das Artes, Ney Santos (PSC), fez na sessão na última quarta-feira, dia 22, um discurso polêmico ao afirmar que basta ligar para a Secretaria de Educação do prefeito Chico Brito (PT) que consegue “matricular, arrumar vaga em creche na hora” para eleitor que o procure. O clientelismo de se valer de posição no governo para “furar” fila de espera por direito “corrompe o sistema político”.
Ney debatia com Doda Pinheiro (PT) sobre indicação que fazia de feira noturna no Jardim Santo Eduardo, enquanto o colega vereador alertava para a iniciativa não substituir a proposição que tinha feito no ano passado de que a feira fosse no Parque Pirajuçara. Após Doda dizer, com ar de ironia, que estava “muito feliz” por Ney, após ter feito forte oposição ao governo no início do mandato, falar “nosso prefeito”, o presidente fez a fala alvo de questionamento.
“É só questão de reconhecimento e humildade, sr. vereador. Como falo sempre, não tenho problema nenhum [em reconhecer o trabalho do Executivo], até porque o povo que me elegeu precisa de mim como vereador atuante, que resolve os problemas. Tenho tido nessa aproximação com o governo muito êxito nas coisas que o povo pede”, iniciou Ney, ao justificar que “hoje é motivo de muito orgulho falar ‘o nosso governo” e ao fazer parte “usufruo” das conquistas.
“Todo mundo sabe que eu e o [vereador] Carlinhos [PSC] fomos eleitos na oposição, ficamos dois anos isolados, em que não conseguíamos arrumar nem uma vaga numa creche. Hoje, graças a Deus, com a aproximação com o governo, que atende os pedidos dos vereadores, a gente consegue matricular, arrumar vaga numa creche. Liga na secretaria, pede e consegue resolver o problema na hora”, concluiu Ney, sem levar em conta critério mais justo de lista de espera.
Em artigo, o doutor em direito do Estado Murilo Gaspardo condena a postura. “Duas das grandes agendas postas em debate nos últimos dias (combate à corrupção e qualidade dos serviços públicos) se relacionam: a não concretização dos direitos sociais faz com que os mais pobres, muitas vezes, recorram aos políticos para conseguir, por exemplo, atendimento de saúde, ou uma vaga em creche, fortalecendo-se o clientelismo, que corrompe o sistema político”, diz.
O VERBO questionou a prefeitura: “É fato que é por meio do vereador que morador consegue vaga em creche? E quem não tem contato direto com vereador para conseguir vaga de creche, como faz? Isso não é ‘furar fila’, prejudicando pais que solicitaram primeiro e aguardam na fila de espera?” O governo Chico Brito se limitou a responder que “não se pronunciará sobre a referida declaração” de Ney. No passado, governos do PT faziam questão de rechaçar a prática.
QUEDA-DE-BRAÇO
A discussão que originou a postura controversa de Ney é o segundo embate entre o presidente e o antecessor. Na sessão seguinte à Semana Santa, Doda reclamou em plenário de Ney ter distribuído marca-bíblia a fiéis em uma vigília que patrocinava. “Querer aparecer politicamente em evento de outro vereador, principalmente quando é relacionado a igreja, a Deus, é muito complicado. Que na próxima vez possa dividir as despesas”, disse. Ney respondeu não saber que Doda tinha patrocinado o culto e que já “ajudei seu padre em evento que fez e nem lá fui para respeitar V. Excelência”.