A 66ª Paixão de Cristo de Taboão da Serra relembrou os atos e ensinamentos de Jesus com “gestos e apelos de família” e emocionou o público, na noite desta Sexta-feira Santa (18), em frente ao Parque das Hortênsias (Centro). A tradicional encenação do sofrimento, crucificação e ressurreição do filho de Deus – realizada desde antes de Taboão ser município – contou com cerca de 80 atores e reuniu milhares de fiéis em uma apresentação de fé, arte e inovação.
A Paixão de Taboão, realizada pela prefeitura em parceria com o Santuário Santa Terezinha, exibiu os principais acontecimentos dos últimos três anos da vida de Jesus em 2h20 minutos. Como princípio, Cristo, vivido pelo ator Rager Luan, anunciou ter sido enviado para defender os pobres e libertar os oprimidos e proclamou “um ano da graça do Senhor”, em passagem escolhida a dedo – a Igreja Católica vive neste ano um jubileu, tempo especial de renovação espiritual.
Cristo escolheu os 12 apóstolos, a começar por Pedro – vivido pelo ator Aparecido Júnior, que foi Jesus nos últimos dois anos. Declarou os 10 mandamentos; curou um cego; expulsou cambistas do templo; ensinou o Pai-Nosso; salvou uma mulher adúltera de ser apedrejada; enfrentou sacerdotes; e se despediu de Maria, vivida pela atriz Thânia Rocha, em cena tocante. Ele partiu o pão na última ceia. A falta do lava-pés foi sentida – para os fiéis, o gesto simboliza amor e servir.
A encenação teve a tentação do diabo; beijo de Judas; interrogatório por Herodes, vivido pelo ator Joselito Gaza; julgamento por Pilatos, papel do ator Edson Lupe; flagelação ante o público; morte na cruz; e a triunfal ressurreição. Cristo reluziu acima do telão. Fiéis explodiram em alegria. Cristo enviou a evangelizar, mas também fez fala “laica”: “Acreditem no seu potencial. Vocês vão vencer todas as dificuldades que estão passando. Nunca desistam dos seus objetivos de vida”.
Rager, que fez Cristo pela primeira vez embora participe da Paixão de Taboão há 15 anos, disse, emocionado, que a mensagem que a encenação gostaria de passar foi transmitida. “Eu acho que a maior mensagem de Jesus é o amor, é a compaixão, é perceber que o que gente acha certo numa sociedade talvez esteja totalmente errado, e queria passar isso para a população. Espero que pelo menos alguém tenha levado isso para casa”, disse ele, com “a idade de Cristo”, 33.
A encenação teve problemas técnicos, como alguns microfones que falharam em partes importantes, como durante a negação de Pedro, e o vazamento de conversas alheias à história que foram ouvidas entre espectadores. Mas a apresentação agradou. “Avalio de maneira positiva o resultado como um todo. Estamos há cinco anos usando microfone e melhorou do ano passado para cá. Foi um probleminha que nem abalou muito o que a gente vinha ensaiando”, disse Rager.
A megaestrutura do evento foi um atrativo à parte. Um palco coberto em forma de concha com telão gigante e moderno ao fundo sem colunas de ferro de sustentação ao redor foi uma novidade e chamou a atenção – ele foi usado no festival de música Lollapalloza. “Um ponto alto foi a estrutura que a gente ganhou este ano. Foi um marco histórico [ter] uma grande estrutura de grandes shows, e eu acho que a Paixão é grande e merece daqui para mais”, completou Rager.
O público assistiu à encenação atento. A aposentada Nilza Conceição, de 73 anos, moradora do Jardim Monte Alegre, em Taboão, preferiu não sentar para, segundo ela, acompanhar melhor a apresentação. Ela, emocionada, expressou que a Paixão de Cristo a tocou muito. “O espetáculo foi emocionante, muito bonito, muito perfeito. Fiquei em pé o tempo todo. Desde que eu cheguei, eu estou em pé firme. Se tivesse amanhã de novo, eu assistiria de novo, foi muito bonito”, testemunhou.
A chuva que caiu antes parou durante a encenação e só voltou no fim. A estudante Paola Pereira, de 20 anos, moradora do Jardim das Oliveiras, também na cidade, assistiu à Paixão de Cristo pela primeira vez, se emocionou e deu sugestão de melhorias para o próximo ano. “Eu acho que tinha que ter uma cobertura, seria melhor se tivesse para a gente se abrigar da chuva. Apesar disso, eu achei maravilhoso. Gostei de tudo, mas a ressurreição eu gostei ainda mais”, disse.
O prefeito Engenheiro Daniel (União), com a primeira-dama Kamila Bogalho, assistiu à encenação na plateia. Ele se comprometeu com a instalação de cobertura contra a chuva para a edição em 2026. “A cada ano a gente precisa se superar, a cada ano a gente precisa aprender e entender o que a gente pode melhorar. Por exemplo, eu vim hoje para o evento pensando ‘será que a gente não poderia ter montado uma estrutura de cobertura para a população?’”, disse.
“Normalmente é uma data em que começa a garoar, começa a chover, mas Deus é tão maravilhoso que quando começa o espetáculo acontece isso aqui: Deus segura [a chuva] e abençoa o nosso dia. Mas ficou de aprendizado para o ano que vem. Com certeza no ano que vem a gente já vai ter uma cobertura instalada para que todo mundo fique mais tranquilo e possa acompanhar de perto o evento”, prometeu ele, entusiasmado com a apresentação.
Daniel, que é católico, falou que as pessoas saem melhores após a Paixão de Cristo. Ao fim, ele disse que o principal objetivo foi cumprido. “A mensagem que nós conseguimos levar para todos aqueles que acompanharam a apresentação, seja presencialmente, ou aqueles que não vieram também por causa da chuva e acompanharam pelas redes sociais, é que todo mundo realmente conseguiu sentir o verdadeiro sentido desse ato que Jesus fez por todos nós”, destacou.
A vice-prefeita Érica Franquini (MDB), que é evangélica, falou da chuva, que caiu “na hora certa”, durante os trovões cenográficos, quando o sepulcro foi aberto e Jesus ressuscitou. “Eu achei tudo lindo, foi um espetáculo maravilhoso, surreal. Os artistas estão de parabéns, muita emoção, paixão. Só tenho que parabenizar toda a equipe, todos os artistas, a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Comunicação, a Igreja Santa Terezinha. Todos estão de parabéns”, disse, radiante.
O padre Carlos Lozada, vigário da Santa Terezinha, disse que toda a encenação foi comovente e ficou admirado com a fé e perseverança das pessoas ali, mesmo sob ameaça de chuva. “O povo foi ponta firme. Talvez pudesse vir mais gente, não veio todo mundo, mas os que vieram aproveitaram e desfrutaram muito bem. E como todo ano, impressionou e passou a mensagem das últimas horas da Sexta-feira Santa. E agradeço a Deus por poder estar aqui pela oitava vez”, disse.
A vereadora Najara Costa (PCdoB) – irmã de Rager e incentivadora do ator a participar da Paixão de Cristo desde quando dizia ao rapaz para levar a habilidade da pirofagia para a encenação – demonstrou orgulho ao falar sobre o trabalho dos artistas taboanenses. “Estamos muito felizes com a Paixão de Cristo de Taboão da Serra, que é mais antiga que o próprio município e traz muito do que é a cultura da nossa cidade, um celeiro de muitos atores do nosso município”, disse.
O secretário maestro Edison (Cultura) disse que o propósito foi alcançado. “Estou feliz. A nossa propositura foi trabalhar o texto, a força do oratório para entender, de fato, esta encenação, que está em um ponto diferente de espetáculo. O que Cristo viveu não pode ser espetáculo. Foi dor, rejeição, o martírio, sabendo que o final seria sua morte e ressurreição. As famílias têm que voltar a entender isso. Foi o que enfatizamos desde o princípio. Foi o que o diretor trabalhou”, falou.
O diretor Valter Costa disse que a ideia foi transmitir o valor do amor familiar. “Quando ‘criamos’ a santa ceia, pensamos no almoço de domingo, da família unida. Na despedida de Maria, a mãe pega uma roupa e pensa nele como bebê novamente. Nos dias de hoje isso se perdeu. Por isso, o intuito era fazer tudo devagar, solene, tranquilo, para ter olhar para a família. Tanto que o grupo [teatral], que era para mim uma coisa, uma unidade, se transformou numa família”, disse.
> Colaborou o repórter Adilson Oliveira, Especial para o VERBO em Taboão da Serra
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