Grupo político de Aprígio forjou atentado; irmão checou blindagem e comprou fuzil, diz investigação

Polícia e MP disseram que os então secretários Valdemar Aprígio, José Vanderlei e o titular de Obras, que seria Ricardo Rezende, criaram a farsa para Aprígio se reeleger

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Aprígio, de cadeira de rodas após ser baleado, chora ao votar; promotor Atoji e delegado Bressan afirmam que grupo político do então prefeito planejou simulação | TF/AO-Verbo

A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo concederam uma entrevista nesta segunda-feira (17) em que afirmaram que o ataque a tiros contra o então prefeito Aprígio (Podemos) foi forjado e planejado por pessoas próximas a ele, secretários municipais à época, para Aprígio ser reeleito, em reviravolta no caso. A Delegacia Seccional de Taboão da Serra e o Gaeco (grupo de repressão ao crime organizado) suspeitam que Aprígio sabia e participou da trama. Ele é investigado.

Aprígio levou um tiro de fuzil no ombro, em 18 de outubro passado, à luz dia, na avenida Aprígio Bezerra da Silva. Partidários de Aprígio passaram a dizer que ele era vítima de atentado por parte do “crime”, em referência ao candidato rival Engenheiro Daniel (União). Porém, os policiais e promotores concluíram que o grupo político de Aprígio planejou a simulação da ação. Eles fizeram operação nesta segunda e cumpriram 2 mandados de prisão e 10 de busca e apreensão.

Segundo os investigadores, um dos atiradores, preso três dias depois do “ataque”, fez acordo de delação premiada e disse que ele e mais 3 pessoas receberam R$ 500 mil pelo serviço. Citou que quem planejou o falso atentado foram Valdemar Aprígio, secretário de Manutenção e irmão de Aprígio, José Vanderlei dos Santos, secretário de Transportes, e o secretário de Obras, que seria Ricardo Rezende. As autoridades pediram a prisão dos 3, mas a Justiça liberou só as apreensões.

A dinâmica do plano criminoso foi a seguinte, segundo a polícia e o Gaeco. Os secretários entraram em contato com Anderson da Silva Moura, o “Gordão”, e Cloves Reis de Oliveira para providenciarem os criminosos para o forjado ataque. Ou seja, “Gordão” e Cloves foram os intermediadores da ação, responsáveis por contratar os executores. Os escolhidos foram Gilmar de Jesus Santos e Odair Junior de Santana. Na operação, batizada de “Fato Oculto”, “Gordão” foi preso.

Aprígio usava carro blindado. Segundo a polícia, os que planejaram sabiam e acharam que o tipo de proteção suportaria tiros de fuzil. “Por que algumas pessoas ficaram muito interessadas em saber qual era o nível de blindagem do veículo? São vários aspectos que nos levam a concluir que havia alguma trama”, disse o delegado-seccional Hélio Bressan, ao citar também que o prefeito vistoriava obra ao ar livre e estava “extremamente vulnerável”, mas só foi atacado no carro.

O VERBO apurou que o interessado em saber sobre a proteção balística do automóvel oficial era Valdemar Aprígio. De acordo com a polícia, ele fez perguntas ao motorista do carro de Aprígio e a várias outras pessoas do grupo político do prefeito qual era o grau de blindagem do veículo. Valdemar também é suspeito de ter feito a compra da arma usada pelos executores, uma AK-47, e as munições – o fuzil foi adquirido por R$ 85 mil e os projéteis, mais R$ 15 mil.

Em relato mais chocante, com a escolha do fuzil, um dos executores disse não querer usar a arma de grosso calibre, que seria arriscado para a vida do prefeito, e sugeriu a pistola. Valdemar insistiu. Segundo apuração, ele disse que o tiro de pistola não ia ter efeito nenhum, ninguém ia acreditar nem dar mídia nacional, que era para usar o fuzil para parecer atentado mesmo. Apesar de não ser alvo de prisão, Valdemar foi detido em flagrante por ter em casa uma arma roubada.

O delegado contou que alguém disse que um secretário ia estar “no local”, mas falou para não se preocupar, “que com esse cara não tem problema nenhum”. Bressan não deu detalhes. Conforme este portal levantou, porém, o que ocorreu foi que os intermediadores avisaram os executores sobre a presença do auxiliar direto de Aprígio na cena do falso atentado, mas que ele sabia da armação e estava lá à espera do plano ser executado. O secretário citado é José Vanderlei.

Christian Lima Silva, sobrinho de Aprígio, também foi alvo de busca e apreensão. Ele é acusado de participar de outro atentado forjado, em 2020, em Minador do Negrão (AL), para beneficiar o pai, que foi eleito prefeito. Bressan disse estranhar que Christian estava na cena do crime e, em vez de socorrer o tio, perseguiu – com a mulher e filho no carro – os atiradores. “E depois abandonou a vigilância”, disse. A suspeita é de que ele quisesse se certificar da fuga dos executores.

Segundo a investigação, o cinegrafista (“videomaker”), uma das três pessoas que estavam com Aprígio na hora do “ataque”, tinha começado a trabalhar para o prefeito apenas dois dias antes. Ele também chamou a atenção da polícia ao se preocupar em gravar o político ferido em vez de ajudar no socorro e ter o vídeo publicado nas redes sociais rapidamente e editado. Foi Christian quem contratou o profissional e recebeu o vídeo poucos minutos após a ação forjada.

Segundo o Gaeco, o plano foi tramado por “pessoas próximas”, “que diariamente conviviam com o prefeito”, para sensibilizar os eleitores a votar nele no 2º turno. “Não há qualquer elemento que aponte que houve atentado por parte de uma organização criminosa, conforme noticiado, ou de um grupo político rival. Há elementos, sim, que foi do próprio grupo político, que queria alavancar a candidatura que estava em baixa naquele momento”, disse o promotor Juliano Carvalho Atoji.

Os investigadores afirmam que 11 pessoas são investigadas pela ação forjada, por ora – 9 com participação. Eles recolheram computadores, celulares, armas, munições, nas buscas feitas em endereços ligados a Aprígio, dos três secretários, do sobrinho, além de um assessor, Hélio Tristão, presidente da Cooperativa Vida Nova, fundada por Aprígio, e que foi o coordenador-geral da campanha à reeleição do então prefeito. Na casa de Aprígio foram encontrados R$ 320 mil em espécie.

O delator disse que o ataque foi orquestrado pelo próprio prefeito. A polícia ainda investiga se Aprígio sabia da farsa. “Não há ainda como eu afirmar categoricamente que ele estava participando disso. Temos alguns indícios”, disse Bressan. As autoridades esperam com a análise dos materiais “fechar” a atuação dos mandantes. Aprígio é conhecido por não ter celular. Isso não seria problema. “Ele usava o telefone da mulher dele. Já apreendemos também”, falou o delegado ao VERBO.

OUTRO LADO
A defesa alega que o dinheiro encontrado na casa de Aprígio é declarado, portanto, lícito, e que o ex-prefeito é inocente. “Nós temos que deixar claro aqui que ele é a vítima. O prefeito é vítima, foi vítima de um atentado contra a sua vida”, disse o advogado Allan Mohamed, que foi secretário e integrou a coordenação da campanha de Aprígio. A reportagem não conseguiu contatar a defesa de Valdemar e dos outros investigados. Procurados, Vanderlei e Ricardo não retornaram.

comentários

  • Quando vi o vídeo, logo percebi que nada mais era que frauda, assim que ligaram para o Jose Vanderlei dos Santos, depois em um análise maior, a preocupação em divulgar o vídeo e não em qual real situação estava o feridoFak, a falta de polícias no atendimento, e assim por diante. Sem falar que um candidado dado como eleito e de boa índole, não iria sujar o nome, família e uma carreira de prefeito, ja eleito diante da votação do primeiro turno. Uma farsa que usou a população como refém, pois a população comovida , saíram as ruas pela paz, sem falar nas famílias prejudicada por julgamentos precipitado..
    sofreram as consequências: Daniel, Erika e Ney , foram os maiores prejudicados , com este comportamento deprimente, suas famílias foram atingidas por um governo desgovernado e inconsequente. Eles deveriam indenizar, o povo taboanenses e os sitados acima que sofreram por culpa desta farsa.

  • Ganância por dinheiro esse velho está milionário deus me perdoe se ele sabia deveria ter pagado com vida tantos vivem com salario mínimo

  • Cadeia neles todos.. e deve ter mais gente graúda aí no meio dessa armação.. a Polícia vai chegar em todos eles.. aguardemos.. Aprígio o pior prefeito da história de Taboão da Serra, e ainda por cima colocou sua própria vida em risco.. maluco.. kamikaze

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