O ex-prefeito de Embu das Artes Ney Santos afirmou na última sexta-feira (10) que os vereadores governistas dissidentes se rebelaram contra o governo – do grupo político que comanda – com a intenção de “extorquir” o prefeito Hugo Prado (Republicanos). Ele considerou que os sete parlamentares estão “embriagados” com o poder e acham que a presidência da Câmara “manda na cidade”. Disse ainda que Hugo “não vai ficar refém deles” e pode governar por decreto.
Ney fez as afirmações, consideradas graves, a um canal alinhado ao governo – de aliado que concorreu a vereador e teve “pífios” 171 votos, Maicon Gonçalves (PL). Ele falou após os sete, com adesão dos quatro vereadores da oposição, elegerem, em nova votação, Abel Arantes (Solidariedade) presidente, Diego Paixão (Podemos) vice, Índio Silva (Republicanos) 1º-secretário, Gideon Junior (PV) 2º-secretário, Abidan Henrique (PSB) 3º-secretário, e Boblel Castilho (MDB), como suplente.
Ney, que tentou impor Vanessa da Saúde (União) como presidente da Câmara e fracassou, partiu ao ataque logo após a derrota na eleição da mesa-diretora. “Esses caras estão embriagados com o poder. Eles acham que a presidência da Câmara manda na cidade. Não manda na cidade. A cidade tem três poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo. Eles são um dos poderes. Eu não tenho dúvida que eles estão fazendo tudo isso para tentar extorquir o Hugo Prado”, acusou.
Ney continuou: “E o Hugo não vai ser refém deles”. Ele alegou que o prefeito não depende da Câmara para administrar a cidade. “O Hugo tem um orçamento aprovado de quase 1 bi [bilhão] e meio [de reais] para governar durante todo o ano. [Os dissidentes falam:] ‘Ah, nós vamos fiscalizar’. Melhor coisa que eles fazem é fiscalizar, estão ajudando o Hugo. [Eles:] ‘Vamos lá no pronto-socorro ver se os médicos estão dormindo’. Vai fazer um favor para nós”, disse.
“Agora, a Justiça está aí para isso. Se o Hugo ver que vai ter excesso, vai acionar a Justiça. O Hugo governa por decreto”, continuou Ney – curiosamente, quando uma juíza suspendeu os shows milionários que pagou com dinheiro público, ele atacou o Judiciário ao alegar intromissão no Executivo. Ney avaliou que “não tem nada perdido”. “Estamos tranquilos”, disse. Apesar de falar que aprova a fiscalização, ele “retaliava” os governistas que fossem verificar o atendimento.
Ney insistiu que Hugo não vai ser refém dos dissidentes e voltou a acusar o grupo. “Se fosse para ser refém, ia fazer composição. Não fizemos porque a gente não quer ser refém. Para eles terem ‘abrido’ mão do que eles têm, concorda que eles estão mal intencionados? Todos tinham espaço no governo, todos eram atendidos pelo governo. Abriram mão disso por quê? Porque alguma coisa tem por trás. Porque na cabeça deles eles vão extorquir o Hugo”, declarou.
No entanto, a Câmara pode brecar projetos polêmicos ou “sinistros” como os vários aprovados pelo próprio Ney quando prefeito. Ele parcelou várias vezes dívidas com a previdência dos servidores, criou o inconstitucional “Cartão Cidadão” e a taxa de lixo, e instituiu a loteria municipal, que já virou caso de polícia – a falsa lotérica “LotoEmbu” foi fechada há 2 meses. O governo também pode sofrer desgaste político com convocações de secretários para explicar ações nas pastas.
Procurado pelo VERBO, o vereador dissidente que mais defendeu o governo Ney-Hugo durante os oito anos de mandato, Boblel, rebateu a afirmação do ex-prefeito. Ele argumentou nem querer conversar com Hugo para tentar algo ilícito. “Como queremos extorquir se não sentamos com ele? Ganhamos a presidência sem ninguém sentar com ele. É uma coisa que não tem cabimento. A gente se sente ofendido, isso não é coisa que se fale. É coisa que não existe”, disse.
“Ganhamos a eleição para nós termos independência na Câmara e pronto”, afirmou Boblel. Ele disse ainda que os seus correligionários, mesmo exonerados da prefeitura, não estão desamparados. “Temos amigos que estão do lado da gente, a gente está bem tranquilo. São pessoas que ajudaram eles, e eles chutaram para fora. É o direito que eles têm, fazem o que achar melhor. O que estão fazendo é covardia, como você manda pessoas embora que ajudaram você?”, disse.
Boblel também reagiu à fala de Ney de que a presidência eleita, do grupo dos 11 – maioria -, não manda na cidade. “O tempo vai dizer para ele. Ele está acostumado a mandar em tudo e viu agora uma independência, e vem a insatisfação. A gente está bem consciente”, falou. Ele ressaltou não querer voltar a se aliar a Hugo. “A gente não conversa ainda não. Não temos interesse. Nós somos um grupo, o grupo que decide junto. Eu mesmo não tenho interesse”, declarou.
VEJA DECLARAÇÃO DO EX-PREFEITO NEY SANTOS E ENTREVISTA DO VEREADOR BOBLEL CASTILHO NA TV VERBO ONLINE