Os vereadores governistas que não aceitaram a imposição de Hugo Prado (Republicanos) para votar em Vanessa da Saúde (União) para presidente da Câmara disseram que tomaram a decisão por conta de que Boblel Castilho (MDB) foi “humilhado” pelo prefeito e Vanessa desrespeitou os parlamentares ao sugerir que são “palhaços” e não atendia a base aliada do governo Ney Santos quando secretária de Saúde. Parte do grupo também evocou independência do Legislativo.
Abel Arantes (Solidariedade), Juneca (MDB), Zé do Piscinão (PP), Índio Silva (Republicanos), Léo Novais (PL), Ricardo Almeida (Republicanos) e Boblel, com a oposição (Abidan Henrique, PSB; Gideon Junior, PV; Diego Paixão, Podemos; e Uriel Biazin, PT), formaram maioria (11 entre 21) e impuseram forte derrota a Hugo na eleição da mesa-diretora, no dia 1º. Abel foi eleito presidente; Diego, vice; Índio, 1º-secretário; Gideon Junior, 2º-secretário; Abidan, 3º-secretário; e Boblel, suplente.
Após a tensa eleição, os governistas independentes foram à tribuna e justificaram a posição tomada. Zé do Piscinão pregou autonomia dos vereadores, ao abrir os discursos. “O meu sonho é ter uma Câmara independente, que possa criar projetos, favorecer a população”, disse. Eleito no grupo da situação, agradeceu a Ney e Hugo, mas revelou insatisfação. “Talvez, nunca me valorizaram conforme eu merecia. Mas nunca exigi nada deles, sempre pedi para favorecer o povo”, falou.
Ricardo refutou ser infiel e deixou claro continuar governista, como o presidente, mas mandou recados ao grupo político que integra. “Não podemos, de forma alguma, impedir o sonho de ninguém. Não mudou nada. Quem ganhou a presidência foi o vereador Abel Arantes, que faz parte e compõe a base do governo Hugo Prado. Não me sinto um traidor, me sinto muito leve”, disse, para depois apontar que votou contra o Executivo por conta da opção pela “autoritária” Vanessa.
“Há 15 dias, numa caminhada, uma futura presidente olha na minha cara e diz que a Câmara parece um circo e os vereadores são palhaços. Isso muda o meu conceito. Se sem o poder a pessoa já está usando da autoridade, imagina quando dermos o poder. O que irá acontecer com nós? Não podemos viver um mandato ditador”, disse Ricardo. Único a notar entre os aliados que votaram após Aline Santos (MDB) que ela “traiu” o “G11”, ele não votou nela para 1ª-secretária.
Juneca disse ser aliado de Hugo, mas não aceitar imposição. “Falei para ele: ‘Não, irmão, goela abaixo, não. Quem me elegeu foi o povo. Tenho muito respeito por você, foram 2.907 votos em você, […] e para mim como vereador’. Durmo com a minha consciência tranquila e, deixo bem claro, [estou] com a minha alma lavada”, disse. Léo falou que o “G11” está “criando a independência da Câmara”. “Eu não sou oposição. Até que o Hugo fale ‘eu não quero você no governo'”, disse.
Índio mirou abertamente a escolhida do prefeito e disse que não se pode “fabricar presidente”. Lembrou que a então secretária deixava de atender os vereadores aliados. “Eu quero mandar um recado para a Vanessa: a humildade precede a honra; a soberba, a queda. Eu tenho até hoje no meu celular gravado uma senhora pedindo fralda para mim. Mandei para a Vanessa, falando para ajudar a senhora. Nem me respondeu”, disse, ao citar que a procurou duas vezes.
“Foi muito poder dado para a Vanessa enquanto estava na Secretaria de Saúde. A vida é uma roda gigante: nunca pise em ninguém quando você estiver em cima”, continuou Índio, segundo mais votado nas eleições em 2024. Disse que não é oposição, que Hugo pode contar com ele “no que precisar”. “Porém, nessa situação não dava. Poderiam colocar qualquer outro nome que tem mais experiência. Mas a Vanessa, realmente, não dava. Hoje não foi nada pessoal”, declarou.
Boblel também criticou a postura de Vanessa, junto com o tratamento que teria recebido. “Sem ganhar a presidência, já chamou os vereadores de palhaço. Se ganhasse, o que o vereador seria. Esta Casa mostrou que aqui é um lugar de respeito. Me chamaram naquele gabinete [do prefeito]. Eu pedi voto no Hugo, e a primeira oportunidade que ele teve quis me humilhar na frente dos vereadores. Mas não me humilhou porque fui desleal. Eu não sou desleal”, disse.
“Ele me humilhou para meter medo nestes 11 homens, para escolher a candidata dele, que trabalhou na Saúde, humilhou um monte de gente”, enfatizou Boblel, aplaudido. Ele demonstrou ressentimento com os governistas e gratidão aos aliados. “Pessoas que ajudei nem me ligaram, deixaram me humilhar e se calaram. Mas se esqueceram que ali não era o Boblel que estava sendo humilhado, era o Legislativo. Obrigado [independentes], vocês tomarem a minha dor”, falou.
O próprio presidente, ao ser declarado eleito, expôs rusgas com Hugo ao defender Boblel. “Ninguém vai falar alto com você. Vai respeitar vereador desta Casa, fomos eleitos pelo povo”, disse Abel. Ele, ao discursar, declarou ser governista, mas com autonomia. “Não viemos para ser oposição. Vamos compor, lógico, com independência da Câmara e respeito com os vereadores. É para isso que esses amigos me elegeram. Deus usa os loucos para confundir os sábios”, disse.
MANDADO
Os vereadores aliados de Hugo ingressaram na Justiça com um mandado de segurança contra a eleição da mesa-diretora. O “G10” alega, principalmente, cassação de direito à votação de Dedé e Betinho (ambos Republicanos) e não chamada de Alexandre Campos (Avante) na segunda votação. A argumentação segue basicamente parecer da própria Procuradoria do Legislativo. Os vereadores irão votar o parecer da Casa em sessão extraordinária nesta terça-feira.
Os vereadores estão acordados e reconhecem para que a população votou neles.parabens